Encontrei o escritor Milton Hatoum na casa do Instituto Moreira Salles. Duas leitoras pediam autógrafo em seu novo livro, Um Solitário a Espreita, lançado pela Companhia das Letras. Enquanto observava a cena, o escritor era abordado por diversos colegas de profissão.
Hatoum parecia cansado após um longo dia de trabalho. Disse que recebeu diversos veículos da mídia e, evidentemente, era interpelado inúmeras vezes pelos leitores admirados que pediam autógrafo ou uma fotografia.
Um fio de conversa chegava aos meus ouvidos sobre os elogios do público sobre sua conferência de abertura, em homenagem à Graciliano Ramos, na noite de quarta – feira. Compreendi que o homem que dialogava com o escritor era do próprio IMS. Se compreendi bem, mencionaram a ideia de lançar na íntegra o referido discurso de Hatoum em ebook e futuramente em edição impressa. Provavelmente, na revista Serrote.
Neste momento, também aguardava trocar breves palavras com o escritor, enquanto outro grupo atrás de mim esperava o mesmo. Relembrei-o que há alguns anos, ele esteve em Araraquara, na Unesp, em um evento promovido pelo nosso centro acadêmico. Hatoum disse se lembrar, afirmando ter sido uma boa conversa mas, quem pode saber se de fato ele se lembrou ou se foi apenas cordial com quem lhe demonstrava afeição?
Ali, cercado de admiradores e profissionais que lhe parabenizavam pelo discurso, com jornalistas aguardando um horário em sua agenda para uma entrevista, vi Hatoum como o próprio solitário a espreita. O escritor que reconhece que, além dos ossos do ofício da escritura, deve também ser uma figura de expressão, sendo quase obrigatório ter uma postura opinativa sobre diversos assuntos e, se for ciente de seu público, não negando o carinho dos leitores.
A graça da FLIP é a quantidade diversificada de público convivendo em um mesmo local por um mesmo motivo. Espaço que deixa escritores e leitores lado a lado. Sendo fácil observar que eles são como nós. Sem esse papo de superiores, incríveis, inquebráveis, apenas porque são donos de uma narrativa de causar inveja de tão boa.
Li os dois primeiros romances do escritor e estas duas narrativas foram suficientes para que pedisse uma foto ao seu lado. Fotografamos e lhe afirmei o óbvio sobre seu discurso na noite anterior. Quantas vezes, pensei, ele não deve ter ouvido as mesmas palavras nestas últimas horas?
Faz parte do ofício de escritor. Mas fiquei refletindo no quanto deve ser exausto, além do trabalho em si, composto nas narrativas, carregar o peso de ser uma figura quase intangível.