Lydia Davis e John Banville são escritores maduros. Nasceram na década de 40 e desde cedo debruçaram-se sobre a produção literária ou ao seu estudo, proporcionando hoje um vigor narrativo e uma percepção precisa ao dialogarem sobre a composição da escrita. No sábado, dividiram uma mesa na Tenda dos Autores, sobre Os Limites da Prosa.
A aguda observação de si permitem que façam um diálogo sem cair nas respostas fáceis da literatura. São elegantemente vagos ao mencionar as motivações da própria escrita, mas certeiros ao demonstrar sua proposta literária e a comprensão da escrita em suas vidas.
Embora neguem qualquer limite da prosa, defendem que é necessário que autores tenham um desafio constante para manter a escrita em evolução. Sem medo da opressão do papel em branco. Nunca temendo o processo de talhar a escrita, trabalhando-a arduamente.
Banville e Davis contrastam-se e enriqueceram a discussão, principalmente, pela vontade de estabelecer um diálogo ativo, sem permanecerem apenas em suas cadeiras aguardando perguntas da mediação feita por Samuel Titan Jr.
A pedido dos autores, a mediação foi realizada em inglês, fato que fez Titan Jr. constatar que, pela primeira vez, falava uma língua estrangeira para um público brasileiro, efeito que não causou nenhum problema a quem assistia a mesa e deixou os autores ainda mais confortáveis.
O encontro poderia parecer improvável pela diferença tanto de escrita como de personalidade de ambos. Escritor desde a adolescência, o irlandês se destaca por seus romances, além de uma personalidade irônica. Já Davis compõe contos tão curtos que desafiam a definição do gênero e esconde a erudição em uma personalidade aparentemente pacata e prosódia lenta. A união improvável alimentada por um mesmo interesse resultou em uma excelente mesa de autores que compreendem sua própria arte e sentem prazer ao mencioná-la.
No país, dois livros dos autores acabam de ser lançados. Vencedor do National Book Award Fiction em 2007 – o que revela um atraso imenso de edição – Tipos de Perturbação, de Lydia Davis, foi lançado pela Companhia das Letras. Pela Editora Globo, John Banville lança Luz Antiga, cujo trecho inicial – estupendo – foi lido pelo autor, e pela Rocco lança O Cisne de Prata, escrito com o pseudônimo de Benjamin Black. Pseudônimo que, de acordo com o autor, foi criado para atender ao mercado e pagar as contas mas que, ainda assim, se diverte ao escrevê-lo.