A terceira entrevista da série do Vortex Cultural com editoras independentes é com a baiana Mondrongo (http://www.mondrongo.com.br/). Conversamos com o editor e escritor Gustavo Felicíssimo, que fundou a editora em 2011 como um braço editorial do Teatro Popular de Ilhéus, mas que atualmente está em voo solo. A Mondrongo publica poesia, prosa, estudos acadêmicos, literatura infanto-juvenil e livros de arte. Confira a entrevista completa abaixo.
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Vortex Cultural: O mercado literário nacional segue a mesma perspectiva do país e passa por uma fase continuada de crise. Contudo, como explicar o surgimento de editoras independentes, bem como o maior espaço conquistado por elas, entre os leitores?
Gustavo Felicíssimo: Primeiro é necessário dizer que é evidente que as tecnologias que possibilitaram as tiragens de baixas demandas são cruciais nesse processo. Isso abriu portas para quem sempre sonhou empreender no meio literário, mas tinha receio dos altos custos. Por outro lado, o editor “independente”, como você fala, descobriu que é aquele que mais depende de todo mundo, então trabalhamos em rede, nos ajudamos, desenvolvemos estratégias para estarmos juntos em grandes eventos. E, apesar do comércio eletrônico, ainda dependemos muito do empenho do autor para que o livro circule.
Vortex Cultural: Em quais características diferem o modelo de negócios de uma editora independente e de uma de maior porte? Comente as que considera principais.
Gustavo Felicíssimo: Sou um micro-editor e tenho o foco da Mondrongo centrado no seu network institucional e no network dos meus autores, essa é a principal diferença, pois tem a ver com o foco do negócio. Minha opção é por fazer livros de excelência com baixas tiragens, esse é o primeiro passo para um dia estarmos no mesmo patamar das grandes editoras. Enquanto eles vão diminuindo de tamanho, nós vamos crescendo. Um dia nos encontraremos no meio do caminho.
Vortex Cultural: Com o maior número de editoras, feiras literárias independentes despontam e ganham corpo pelo país. Você acredita que essas feiras concorrem com as livrarias? Por quê?
Gustavo Felicíssimo: Não há dúvidas. Aqui na Bahia há pelo menos três grandes eventos literários por ano, a Flipelô – Festa Literária Internacional do Pelourinho, a Flifs – Festa do Livro de Feira de Santana, e a Flica – Festa Literária Internacional de Cachoeira. Em todas elas a Mondrongo está associada a outras editoras e seus autores em função do livro do autor baiano, livro esse que dificilmente você encontrará nas grandes livrarias, mas que tem público muito interessado. Também está ocorrendo que os micro-editores estão produzindo eventos individuais das suas editoras. Faço aqui na Bahia, em Salvador, ao menos um evento individual da editora por mês, mas só nestes anos já produzi eventos no Rio, Curitiba, Ilhéus, Recife, João Pessoa e Campina Grande. A gente vai onde o público está.
Vortex Cultural: Por vezes as editoras independentes passam uma ideia de maior proximidade com o público que lê seus livros. É no melhor relacionamento com seus leitores que uma editora independente encontra sucesso? Quais outras características destaca como fundamentais?
Gustavo Felicíssimo: O sucesso, que nem sei exatamente o que é, está na melhor relação com o autor. Estar aberto para acolher a obra do autor que lhe procura o faz se sentir valorizado, e isso, por consequência, faz toda a diferença em relação ao público.
Vortex Cultural: Por fim, qual comentário/informação acha pertinente destacar quando tratamos de editoras independentes?
Gustavo Felicíssimo: Vejo que o Brasil possui uma vasta tradição de escritores que são também editores, essa nova geração de editoras possui à frente, quase sempre, um escritor que sabe que, em última instância, ele não trabalha com o livro físico, o objeto livro, mas com os sonhos do outro, e com isso não se brinca.
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Texto de autoria de José Fontenele.