A realidade espelha a ficção em O Que Os Mortos Sabem, primeiro livro de Laura Lippman lançado no país pela Editora Record na excelente Coleção Negra, bem como o primeiro da autora a entrar na lista dos mais vendidos do New York Times.
Inspirado em um famoso caso que ganhou as manchetes em 1975, quando duas adolescentes desapareceram após irem ao centro comercial de sua cidade. A partir desse fato, a autora desenvolve uma narrativa ficcional sobre o desaparecimento das irmãs Bethany, nunca solucionado pela polícia. Porém, trinta anos após o incidente, uma mulher bate o carro em uma autoestrada e diz ser uma das irmãs desaparecidas.
Grande parte da obra transita entre o mistério do desaparecimento das irmãs e o retorno possível de uma delas após trinta anos. Desenvolvido em dois tempos narrativos que se alternam, a trama apresenta tanto os momentos imediatos posteriores ao desaparecimento, como o tempo presente em que o detetive Kevin Infante e a assistente social Kay Sullivan assumem o caso da mulher do acidente com revelações importantes sobre o caso.
Embora seja evidente que as histórias se conectem em algum momento, o narrador acompanha personagens distintos em cada espaço temporal. Quando observa o passado, focaliza a família Bethany e a destruição causada pelo desaparecimento das filhas, com a esperança de reencontrá-las sempre em alta. Quando se situa no presente, o detetive e a assistente social são o destaque. Porém, o drama do desaparecimento das garotas e a dor da família é explorado com melhor qualidade e força dramática do que o possível retorno de uma delas. Como cada momento aborda tais personagens distintas, é notável um desequilíbrio narrativo pautado por partes coesas vindas do passado em contraposição ao excessivo prolongamento do tema no presente.
Tanto o detetive quanto o assistente social são personagens superficiais, criados somente para que existisse mais tensão nos acontecimentos presentes. Afinal, são eles que, aos poucos, vão convencendo a mulher desconhecida a narrar os fatos sobre o desaparecimento. Porém, é perceptível que a história se prolonga mais do que deveria, produzindo excessivos conflitos para evitar a revelação rápida do caso. Dessa forma, mal se tem a impressão que há uma investigação em curso, como se faltasse ao detetive maior vontade de se envolver no próprio trabalho. O mistério que pode ser revelado não tem nenhuma potência se compararmos a quem, como e porquê alguém sequestrou duas adolescentes.
Lippman é considerada uma das grandes autoras policiais atuais. Embora seu estilo se aproxime mais do thriller, concentrado em um mistério que será resolvido no decorrer da trama do que em uma narrativa policial mais clássica, envolvendo um personagem que age como detetive e tenta solucionar algum mistério. A autora tem uma série de livros envolvendo uma detetive, mas seu primeiro grande sucesso foi essa obra a parte da famosa personagem.
Ainda em atividade com alta recepção de público e vendas, a prosa da escrita deve ter amadurecido com o tempo. Porém, em um primeiro contato com sua obra realizado a partir de O Que Os Mortos Sabem, pouco se destaca na leitura. Há momentos em que a trama flui, bem como há outros que as cenas se arrastam. Entretém, apenas.
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