Ao ver o livro em uma livraria, ele certamente chamará sua atenção pela capa e pelo tamanho ocupado na prateleira. Porém, não é apenas em sua aparência que ele irá te surpreender. Contos de Meigan é uma prova do quanto a literatura brasileira está crescendo em mundos fantásticos que o levam em uma aventura extraordinária através de universos desconhecidos. Com uma narrativa constante, sua leitura flui e o tempo passa sem que você perceba, e sua trama bem desenvolvida, com uma sequência de acontecimentos coesos, faz com que Contos de Meigan seja uma leitura recomendada a todos.
Honestamente, a primeira coisa que me fez realmente querer ler o livro foi o seu prólogo. Nele há uma explicação em formato de relato sobre o mundo onde a história ocorre e, basicamente, sobre todos os conflitos que ocorreram até o momento em que conhecemos a protagonista e embarcamos em sua aventura. Nele consta todo o desenvolvimento da civilização de magis e seu relacionamento com os humanos, que, ao fim da primeira guerra, foram exilados de Meigan e enviados para um local onde eles seriam incapazes de voltar a Meigan: a Terra.
O começo da história se desenvolve em um cenário caótico de guerra, quando a protagonista volta após viver três anos na Terra como uma humana comum. É inegável a habilidade que as autoras têm ao descrever a maneira como as batalhas aconteciam e também toda a carnificina que ocorria por onde a protagonista passava, tentando voltar para sua casa. Até mesmo o uso dos poderes – mantares, como são chamados – de controlar elementos não contêm aquela característica sensação de overpower, deixando claras as vantagens e desvantagens de cada uma das habilidades e dos métodos de luta. Como disse, no quesito aventura e trama, esse livro é excelente. O que nos leva ao primeiro ponto negativo do livro: os personagens.
Maya Muskaf, a protagonista, é uma menininha mimada sem amor nenhum à própria vida e ao título que viria a herdar quando sua mãe morresse, de líder da cidade. Em grande parte do livro, você sente muita raiva dessa personagem imprudente, impetuosa e explosiva. Porém, ao passar da raiva inicial, a princípio você começa a entender o motivo de determinadas burradas que ela sem querer comete. Contudo, errar uma vez é normal, errar duas até vai, mas errar toda vez é sacanagem, correto? Ela não dá uma bola dentro no livro todo, sempre contando com a ajuda de outros personagens para conseguir sobreviver ou ser um pouquinho útil.
Dito isso para a protagonista, você pode pensar que – como geralmente ocorre – exista algum personagem secundário que roube o brilho. Bem, não há. Não pelo menos até você alcançar 90% do livro, quando a história de um dos personagens é contada e você o entende um pouco mais, mesmo ele tendo sido sem graça o livro todo e, só então, parecer um pouco mais digno de respeito. O Guardião que a protege é outro que poderia muito bem ser um dos melhores e mais fodásticos personagens, mas peca pela falta de profundidade que as autoras não deram tanto na questão de suas crenças quanto de suas vontades. O único pelo qual desde o princípio você cria respeito é, vejam só, o antagonista. Contudo, não se empolgue; este, mesmo tendo as melhores cenas de luta, ainda não tem aquele chã que faz com que você simplesmente adore o personagem e torça por ele.
Na verdade – eu, pelo menos -, você não torce para ninguém. É como ficar preso em uma imparcialidade, apenas observando o que acontece e querendo saber o que vai ver depois. Não acho que seja o ideal para um livro. Porém, contudo e entretanto, por esse ser o primeiro do que acredito ser uma série – porque o final fica absurdamente aberto para uma continuação -, tenho fé de que foi uma boa jogada essa sensação que o livro passa: de não ter para quem torcer.
Resumindo: leia o livro pelo que acontece e pelo mundo em si, mas não crie expectativas sobre os personagens. Divirta-se com essa aventura fantástica e tente não se irritar muito com a inutilidade da personagem. Olhe só, pelo menos não há muito drama desnecessário, o que é definitivamente um ponto positivo para não abandonar a leitura. De fato, recomendo muito.
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Texto de autoria de Thiago Suniga.
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