“Um recreador de hotel faz um empréstimo para ajudar um tio doente. Sem condições de pagar e sofrendo ameaças, ele se aproxima de uma moça pouco atraente, porém culta e muito rica, para conseguir o dinheiro. Disposta a experimentar novas emoções em sua vida, ela aceita o envolvimento, dentro do limite estabelecido pelo seu lado racional. A partir daí, começa uma aventura romântica que vai prender você até a última linha.”
(fonte: quarta capa do livro)
Quem estuda ou estudou, mesmo que en passant, técnicas de escrita e “contação” de histórias sabe que todas as histórias já foram contadas, que não há como fugir da jornada do herói, identificada por Joseph Campbell e descrita em detalhes no seu livro O herói de mil faces. A originalidade dos escritores, quando existe, está na forma de contar sempre essa mesma história que, a grosso modo, resume-se a “protagonista recebe um chamado para uma aventura, relutante, sai do seu mundo comum, depois de enfrentar várias dificuldades e vencer vários conflitos, atinge seu objetivo e retorna, geralmente modificado, a seu ambiente original”.
Em alguns casos, como neste livro, tanto a “aventura” em si quanto a forma de contá-la carecem de originalidade. A sensação de déjà-vu persegue o leitor durante toda a leitura. Mesmo quem não é noveleiro irá identificar elementos comuns – mocinha rica e intelectual inicia relacionamento com rapaz menos favorecido que, a princípio, se interessa pelo dinheiro, mas acaba se apaixonando por ela; o casal enfrenta algumas dificuldades, inclusive desentendimentos familiares, mas encaminham-se para um “happy ending”. A sucessão de clichês folhetinescos é tamanha que tem-se a impressão de estar lendo o roteiro de uma novela das seis e, por vezes, de uma novela mexicana, com direito até aos nomes compostos – Vera Lucia e Sérgio Luís – tão comuns nessas obras.
Há conflitos sim, problemas a ser enfrentados como em toda boa história, mas são solucionados com tanta facilidade que é impossível não pensar: “Parece coisa de novela”. Até o maior problema, que deveria ser o clímax da narrativa, mal consegue causar apreensão no leitor, já que em menos de cinco páginas o casal se reconcilia, se casa, a heroína salva a empresa familiar da falência e, rapidamente, já se passaram alguns anos e a família feliz está na Disney comemorando o Ano Novo. Fica aquela sensação de último capítulo da novela, em que tudo tem de se resolver antes do final.
Não há muito o que comentar a respeito dos personagens, já que são todos bidimensionais e bastante previsíveis. Não há nuances de caráter, e nenhuma de suas atitudes surpreende. São estereótipos, e não arquétipos como os identificados por Campbell.
Não é o tipo de livro indicado para quem espera ser minimamente “modificado” pela leitura. É adequado para aquele leitor que procura apenas ser entretido. Razoavelmente bem escrito, não é longo, o texto flui rapidamente, enfim, entretêm sem ser simplório demais.
–
Texto de autoria de Cristine Tellier.