Antes de mais nada, é necessário deixar claro que a opinião sobre o livro não tem absolutamente nada a ver com a opinião sobre os eventos que levaram à condenação dos três rapazes – Damien Echols, Jason Baldwin e Jessie Misskelley – pelo assassinato de três meninos de oito anos de idade. A indignação frente à arbitrariedade policial, às irregularidades dos julgamentos, à injustiça de que foram vítimas é inevitável. Assim como a admiração pela estória de superação, pela força de vontade e persistência do autor durante esses 18 anos vividos no Corredor da Morte.
O título dá a falsa impressão de que Echols irá compartilhar com o leitor suas impressões após ter sido solto. E não é bem isso. Pouco ou quase nada no texto refere-se à sua vida fora da penitenciária, a partir de 2011. É um pouco frustrante, apesar de compreensível. Já que a privacidade de Echols deixou de ser “privada” nesses 18 anos, é natural que ele queira preservar-se da curiosidade pública nessa nova fase de sua nova vida.
Até pouco mais da metade do livro, alternam-se memórias da infância e juventude de Echols e lembranças do período passado em penitenciárias. É fato que o interesse mórbido inerente a qualquer ser humano faz o leitor interessar-se mais pelo período em que Echols estava detido. E, certamente por serem mais recentes, esses relatos são mais detalhados e escritos de forma mais concisa. Enquanto que o período que antecede o julgamento e a condenação mistura impressões e memórias propriamente ditas. E estas são envoltas numa nostalgia infantil que, apesar de toda a miséria e dificuldades enfrentadas pela família, faz parecer que muitos momentos foram de certo modo mágicos. Aliás, “mágico” é um adjetivo que Echols utiliza exaustivamente – ‘dezembro é mágico’, ‘o Halloween é mágico’, ‘o inverno é mágico’. Isso acaba se tornando cansativo e banaliza a palavra, retirando a aura mágica que o adjetivo deveria conceder aos eventos.
As cem páginas finais trazem a reprodução textual de alguns escritos de Echols em seus últimos anos na penitenciária. Percebe-se que, no restante do livro, o preparador de texto teve bastante trabalho para manter a narrativa coesa, pois as anotações são dispersas. Apesar de não ser um escritor, Echols escreve bem e nota-se seu esforço – e sua necessidade – em utilizar a escrita como fuga da realidade que o cerca, mesmo que o assunto de seus diários muitas vezes seja exatamente essa realidade, seu cotidiano.
Os três documentários produzidos pela HBO – Paradise Lost: The Child Murders at Robin Hood Hills, Paradise Lost: Revelations e Paradise Lost: Purgatory – já estavam na minha lista de filmes para assistir há algum tempo. A publicação do livro foi o empurrãozinho que faltava. O livro funciona muito bem como um complemento aos documentários. Principalmente para aqueles que, assim como eu, tem pouca ou quase nenhuma apreciação por biografias. Os documentários nos dão a visão do público sobre o que ocorreu, enquanto que o livro nos oferece a visão de quem viveu toda a situação. E isso, com certeza, é algo que o torna interessante.
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Texto de autoria de Cristine Tellier.
Fiquei curioso, que coisa, raramente isso me ocorre… =/