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  • Crítica | Django Livre

    Crítica | Django Livre

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    Não é todo dia que vemos um filme de Quentin Tarantino no cinema. Nas duas últimas décadas, o estadunidense de 50 anos lançou apenas 8 filmes, e mandou bem em todos!

    O número de títulos assinados por Quentin é tão impressionante quanto seu aproveitamento: O filme mais fraco (minha opinião: Jackie Brown) não pode ser chamado de ruim, o casting de seus filmes sempre é incrivelmente estrelado e Hollywood sempre vê seus futuros projetos com bons olhos. Foi assim desde Cães de Aluguel, seu primeiro filme e que teve atores muito famosos se acotovelando para ocupar os poucos papéis disponíveis. Diretor novato, Tarantino conseguiu o que ninguém acreditava ser possível para um estreante: Ter o projeto aceito por um dos maiores nomes da época em Hollywood, o renomado Harvey Keitel. Além de Keitel, o primeiro filme de Quentin Tarantino, contava também com Steve Buscemi, Michael Madsen, Tim Roth e ele próprio, dentre outros.

    Assim como seus filmes, Tarantino possui várias marcas registradas que transbordam nas películas e fazem dele um diretor autoral com o nome gravado à ferro na história do cinema. Exímio diretor de câmera, abusa dos chamados long shots com cenas de até 10 minutos sem cortes. Seus roteiros, geralmente originais, trazem personagens de personalidade forte e a grande maioria das tramas tem uma dualidade muito evidente: Os personagens nunca são completamente vilões ou mocinhos. O grande trunfo dos filmes “tarantinescos” sempre foram os personagens e seus diálogos, muitas vezes surreais, sobre assuntos cotidianos.

    Os filmes dirigidos e roteirizados por Quentin tem, também, uma veia sanguinolenta e extremamente violenta que sempre se apresenta por grandes tiroteios, linguagem obscena e violência explicitada com litros e mais litros de sangue que transformam os cenários em retratos de chacinas fantasiosas, totalmente inverossímeis e exageradas. Todo filme dele é aguardado do anúncio à estreia com expectativas muito elevadas por parte da comunidade cinéfila, e Django Livre não foi exceção.

    O filme conta a história de Django (D-J-A-N-G-O, o “D” é mudo…), um escravo que é resgatado por um caçador de recompensas enquanto era transportado de sua fazenda de origem para um outro local. O caçador de recompensas, um alemão abolicionista conhecido como Doutor King Schultz, propõe a Django que o ajude a capturar (e matar) os três donos da fazenda em que ele trabalhava e em troca oferece sua liberdade e algum dinheiro para recomeçar sua vida. A principio relutante em aceitar a proposta, o escravo parte com o caçador em uma viagem em busca dos alvos.

    Depois de achar e matar os três irmãos e mais crédulo do discurso anti-escravagista do nobre Doutor Schultz, Django recebe a ajuda do caçador para reaver sua esposa, vendida para um fazendeiro de identidade até então desconhecida. Enquanto viajam lado-a-lado caçando procurados por todo o sul dos Estados Unidos, os dois se tornam amigos em busca do objetivo maior de Django: reunir-se novamente com sua esposa Broomhilda.

    O filme, vendido para mim como um thriller de ação e vingança se mostrou outra coisa durante a primeira uma hora. Esperei ver litros de sangue, tiroteios frenéticos e muitos personagens se interligando ao maior estilo Quentin Tarantino mesmo, mas essa primeira parte do filme não tem nada disso. Decepcionado? Nem um pouco!

    Esta primeira (e maior) parte do filme foca inteiramente na interação de Django (Jamie Foxx) e Schultz (Christoph Waltz). Tem diálogos impressionantemente bem feitos, ótimos momentos de humor e ação na medida certa para desenvolver os dois personagens. Durante esta primeira metade, Django e Schultz caçam dezenas de procurados enquanto o escravo aprende a técnica necessária para colocar seu plano em movimento. Quando finalmente descobrem o paradeiro de Broomhilda (Kerry Washington), as rédeas do filme passam para as mãos do protagonista-título da trama. Até este ponto de virada, Waltz leva o filme com a mesma maestria e atuação  que deu vida a Hans Landa (vivido por Waltz em Bastardos Inglórios, também de Tarantino). Impressionou-me bastante a forma como ele trabalha magistralmente bem junto de Quentin Tarantino, e o filme é levado por ele com uma atuação de gala que lhe rendeu, merecidamente, a indicação ao Oscar de melhor ator coadjuvante. Seu personagem alterna extremamente bem momentos de serenidade e bondade com sequências de implacável violência e inteligência na caça aos bandidos procurados.

    E por falar em atuações de gala, Samuel L. Jackson está tão solto e frenético em “Django Livre” quanto estava em Pulp Fiction (pra mim, o melhor filme de sua carreira). Aqui, ele vive o afetado Stephen, um escravo que trabalha há muito tempo para o personagem de Leonardo Dicaprio administrando sua fazenda e cuidando da casa. O inglês pronunciado com um incômodo sotaque texano e sua falta de educação nos diálogos rendem boas risadas nos últimos 40 minutos de filme. Sua atuação tira parte do brilho do personagem de Leonardo Dicaprio, que vive Calvin Candie, um dono de terras que negocia escravos negros para as lutas de “mandingos” e é o atual dono da esposa de Django. Interpreta bem, nos poucos momentos em que o roteiro o deixa em evidência, mas não faz nada extraordinário.

    Jaimie Foxx me surpreendeu bastante com sua atuação. Na verdade, era o único que eu não sabia o que esperar mas manda bem demais durante todo o filme. Django é um personagem complexo e ele pareceu entender bem qual era seu propósito no roteiro, sendo modesto quando necessário, violento e forte quando o roteiro assim o pede e, como já falei, tomando as rédeas do filme depois que o personagem de Waltz vai embora.

    E é só depois que o nobre Dr. Schultz se ausenta que o filme toma ares mais tarantinescos de verdade. Passa, apartir dalí, a se tornar um filme sobre vingança, com ritmo acelerado e, como não poderia faltar, baldes e mais baldes de sangue derramado na tela. A velocidade da câmera, as viradas no plot e a aparição modesta de Quentin na tela mudam completamente a pegada do filme e compõe, agora sim, o thriller frenético de ação e vingança que haviam me vendido. Não sei precisar qual das duas partes eu gosto mais, mas este é certamente um adendo favorável ao meu resumo da obra: Comprei um ingresso de cinema e acabei vendo dois excelentes filmes!

    A trilha sonora é simplesmente uma das mais fantásticas que eu já ouvi e ajuda demais a ditar o andamento das cenas. Misturando estilos, Tarantino traz para o filme uma série de artistas diferentes que vão desde as trilhas compostas por Ennio Morricone até uma música montada num remix incrivelmente bem feito que une as vozes de, acreditem, James Brown e Tupac Shakur!

    Que outro autor/diretor você conhece com moral suficiente para emplacar um Western ao som de Hip Hop?! E o melhor da trilha é que ela está disponível, gratuitamente, para ser ouvida neste link. Nele você encontra todas as trilhas empregadas e algumas citações tiradas do próprio filme. Abaixo, a música póstuma produzida pelo Rei do Soul e o Mestre do Rap:

    Com orçamento estimado em 100 milhões de dólares e faturamento de quase 350 milhões, “Django Livre” tornou-se o maior e mais bem sucedido filme da ainda curta (mas muito bem sucedida) filmografia de Quentin Tarantino. O filme chegou ao Brasil em 18 de janeiro, mas ainda está em exibição em algumas poucas salas do país. Tarantino, que já anunciou que não pretende ir muito além de 10 filmes em sua carreira, conseguiu um resultado excelente e acima do meu esperado ainda que tivesse grande expectativa para o filme. Como já é de praxe, fez dezenas de referências durante os 160 minutos de filme. Referências facilmente captadas, como o nome do personagem e trilha de abertura (retirada do filme “Django”, de Sergio Corbucci), diversas metáforas ao homem branco e à relação do negro com a liberdade e até uma crítica bem humorada à Ku Kux Klan. Um filme bastante fácil de compreender, divertidíssimo e nada cansativo, que merece ser visto por todos os fãs de cinema, menos o Spike Lee.

  • Agenda Cultural 49 | Pokémon, Bebedeiras e Um Pouco do Oscar

    Agenda Cultural 49 | Pokémon, Bebedeiras e Um Pouco do Oscar

    agenda49

    Bem vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Jackson Good (@jacksgood), Carlos Brito e Isa Sinay (@isasinay) se reúnem para comentar as principais estréias do cinema, entre elas uma série de filmes que estão na lista de indicados ao Oscar.

    Duração: 87 min.
    Edição: Rafael Moreira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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    Comentados na Edição

    Cinema

    Crítica No
    Crítica Detona Ralph
    Crítica Django Livre
    Crítica Amor
    Crítica Lincoln
    Crítica O Lado Bom da Vida
    Crítica O Último Desafio
    Crítica Sete Psicopatas e Um Shih Tzu
    Crítica O Mestre
    Crítica Jack Reacher – O Último Tiro
    Crítica Caça aos Gangsteres

  • Resenha | A Arte da Guerra

    Resenha | A Arte da Guerra

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    A primeira experiência sensorial com esta graphic novel agrada bastante. Edição caprichosa, papel laminado de qualidade, letras garrafais remetendo ao famoso livro e cores contrastando em uma bela capa que clama por ser conferida.

    A princípio pensei que esta graphic novel era mais uma das adaptações de clássicos da literatura transposto para uma nova mídia. Não é o caso. Logo percebe-se que ele se define como uma obra baseada no livro milenar de Sun Tzu, mas com uma vertente própria, algo como uma história temática similar. Considerei a proposta ainda mais interessante do que pensei inicialmente.

    Acompanhamos a trajetória de Kelly Roman (homônimo ao autor), recém libertado por ter sido responsável por um acidente nas Forças Armadas. Kelly descobre que seu irmão mais novo, bem sucedido e que trabalhava para uma organização poderosíssima, está morto. O líder de tal conglomerado se chama… Sun Tzu. Kelly pretende descobrir quem está por trás da morte do irmão e não vê outra maneira de conseguir isso, e se infiltra na grande corporação para trilhar a sua redenção através da vingança.

    A perspectiva narrativa é a de que o próprio Kelly está escrevendo e nos relatando a história, e acrescentando citações de Sun Tzu ao longo de sua própria história. Essa é uma das pretensões da proposta inicial que causa tanta curiosidade mas que quando executada, carece de impacto. A questão é que as frases não necessariamente casam tão bem assim, seja com a narrativa, seja com a arte. Além de que a impressão que fica é que a narrativa principal está o tempo todo sendo interrompida por uma citação que pouco (em muitos casos nada) acrescenta ao conceito ali descrito/desenhado. O excesso de citações apenas transcritas ao longo da HQ são frias e parecem estar quase que a esmo ali, soltas e sem muito propósito.

    Chega-se ao ponto de questionar seriamente esta escolha. Foi ela executada para dar um peso intelectual maior à obra? Ou foi uma escolha mais comercial? Os elogios de capa do produtor de Kick Ass citando a HQ como uma das melhores graphic novels já lidas por ele, soam apenas como embuste após a leitura. A história em si e a estrutura narrativa nada remetem à obra de Sun Tzu, seja no quesito militar ou no filosófico e conceitual. O ponto é que não basta ter o mesmo nome, uma história violenta e um vilão homônimo ao estrategista milenar para se ter algo que realmente englobe tal conceito.

    A arte é realmente impressionante e algumas páginas são belíssimas, mas sem uma boa história para acompanha-las, elas nã0 salvam esta HQ. A violência gráfica é extrema, mas quase nunca visceral, o roteiro não acompanha o extremismo da arte e quase sempre o peso emocional de um, não se integra ao outro, o que dá a impressão de gratuidade na maioria das cenas.

    A sensação que fica é de que tentou-se reunir todos os elementos necessários para uma obra épica, de qualidade artística e peso literário. A conclusão é de que fomos apresentados a um pseudo intelectualismo brutal e que quase tudo nesta obra deixa muito a desejar.

    Texto de autoria de Amilton Brandão.

  • Crítica | Fogo Contra Fogo (2012)

    Crítica | Fogo Contra Fogo (2012)

    fogo contra fogo - 2012
    O argumento é conhecido do público e, provavelmente, foi assistido anteriormente. O bombeiro Jeremy Coleman presencia um crime racial e decide colaborar com a justiça identificando o culpado. Devido a periculosidade do acusado, líder de um grupo de orgulho branco, Jeremy entra no programa de proteção as testemunhas que se mostra ineficaz quando o líder decide persegui-lo e matá-lo por colaborar com a lei.

    Fogo Contra Fogo utiliza o mesmo título de um grandioso filme de Michael Mann e qualquer comparação permanece apenas no nome. Além da evidente batalha das personagens, o título alude a profissão da personagem, um bombeiro competente, que gosta da profissão e da irmandade em torno dela, mas que decide deixar sua vida para lá para ajudar o delegado Mike Cella. Após sofrer um ataque de um assassino profissional a mando do líder do orgulho branco, o bombeiro decide retornar a cidade da qual foi afastado pela proteção de testemunhas e fazer justiça com as próprias mãos.

    Produzido diretamente para a televisão, a trama não apresenta nada de novo, nem ao menos intenta ser uma repetida história funcional. O ator Bruce Willis é o grande chamariz da história, vendida de maneira errada como um filme do astro. Willis aparece em poucas e inexpressivas cenas. Nem tendo o trabalho de realizar o seu papel padrão de policial.

    A história acompanha a vingança do bombeiro de maneira burocrática, indo dos peões até chegar no grande chefão. Exceto por uma cena de tiroteio que a câmera viaja com a bala, não há nada de novo também na direção. Rosário Dawson que faz par amoroso com a personagem, está presente como função estética, fazendo o papel da mulher pela qual se deve lutar.

    É impressionante como uma produção deste calibre conseguiu chegar as telas brasileiras. Utilizando a potência de Willis, sempre convidativo ao seu público, e aproveitando as semanas que antecedem o lançamento de mais um filme da série Duro de Matar, para tentar conquistar alguma bilheteria.

    Desde já selecionado para figurar na lista das piores estreias deste ano.

  • Crítica | Pi

    Crítica | Pi

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    Pi, filme de estréia de Darren Aronofsky, ganhou Sundance em 1998, confirmando o diretor como um sucesso de crítica logo no início de sua carreira. Filmado com orçamento apertado e uma fotografia preto e branca extremamente granulada, Pi já possuía as principais características do cinema de Aronofsky e anunciava o cineasta que ele iria se tornar.

    Pi se foca em Max Cohen, um matemático obcecado em pesquisar padrões nas casas decimais do pi. Aronofsky parece ser ele mesmo obcecado com as obsessões, no entanto ele sempre olha além do vício inicial de seus personagens e no caso de Cohen a obsessão não está no pi, mas no pi como chave para se entender o universo.

    Cohen acredita que a matemática é a linguagem da natureza e ele busca desesperadamente fazer sentido dessa linguagem. O grande mérito de Aronofsky na construção de seu personagem e, principalmente, de sua obsessão é dar profundidade a ela ao mesmo tempo que prende o espectador na mesma teia de paranoia de Max.

    Max Cohen não quer apenas achar um padrão no pi, ele quer provar para si mesmo que a natureza se constitui em padrões matemáticos, ele quer entender o universo. Enquanto seu antigo professor afirma que ele voa perto demais do sol e busca por algo que não pode ser encontrado, um judeu ortodoxo alimenta sua convicção ao afirmar que a matemática pode também ser a linguagem de Deus. No judaísmo, Deus não deve ser nomeado, embora diversas palavras sejam usadas para se referir a ele, seu verdadeiro nome é oculto, uma vez que Deus não deve estar submetido a conceitos humanos. Ou seja, a chave da criação do universo, o conhecedor de suas regras e padrões não pode ser conhecido pela mente humana, está fora do que cabe a nós.

    Mas Max se convence de que sim, entender o universo cabe a ele. Seu sobrenome é o dos descendentes do alto sacerdote judaico que era o único a conhecer o nome verdadeiro de Deus, ele acerta os números da bolsa, ele foi capaz de olhar para o sol. Aronofsky constrói um personagem extraordinário com uma obsessão que vai além do óbvio (o entendimento, não o Pi, assim como a Nina de Cisne Negro não é obcecada com seu papel, mas com a perfeição) e que se consome por isso e constrói um filme que afirma isso a cada momento.

    A fotografia é preto e branca e granulada de forma que toda a imagem as vezes parece uma massa cinza. Os planos fechados se tornam amontoados de forma, cheios, claustrofóbicos, como a mente do próprio Max. Além da imagem poluída, a trilha de Clint Mansell é incômoda, ensurdecedora e cheia de barulhos industriais, novamente emulando as dores de cabeça e a vivência do personagem. A montagem de Pi anuncia a de Réquiem para um Sonho: rápida e fragmentada ela torna mecânica certos atos do personagem e explicita à sua escravidão de certos atos enquanto impede o espectador de vê-lo como um ser inteiro.

    Dessa forma Pi é um filme que experimenta e desconstrói, como se espera de um filme de estréia, e ao mesmo tempo apresenta os elementos que o diretor aprenderia a dominar com o tempo. É um filme imaturo, mas de uma força criativa imensa e que já anunciava um dos cineastas mais interessantes em atividade.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

    Ouça nosso podcast sobre Darren Aronofsky.

  • Crítica | Monstros S.A.

    Crítica | Monstros S.A.

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    Monstros S.A. está situado em um momento anterior a compra milionária da Pixar pela Disney. É o quarto filme da produtora em uma época em que suas tramas ainda apresentavam maior tonalidade juvenil, sem as narrativas composta em camadas que se tornariam uma característica do estúdio que não possuía empresas rivais em lançamentos de animação.

    A trama dialoga com o medo infantil de que, durante a noite, monstros escondidos em armários habitam os quartos para assustar as crianças. Mal sabem elas que, do outro lado da porta, existe a Monstrópolis, cidade sede da Monstros S.A., uma empresa especializada em aterrorizar as crianças, garantindo, com seus gritos, a energia que abastece a cidade. Dentre os responsáveis pelos gritos, estão a dupla Mike Wazouwki e James P. Sullivan, a dupla central da história que equilibra bem a sensibilidade e o humor da produção.

    O estúdio Pixar desenvolve um pequeno universo para situar sua história, outra característica que seria comum em suas histórias. Esteticamente, a cada produção a empresa desenvolve um personagem que salta aos olhos pela animação competente. Caso do grandalhão Sully, um peludo personagem azul que foi trabalho detalhadamente para que a pelagem parecesse real.

    As personagens formam uma boa dupla divertida que são responsáveis pelas diversas cenas de humor, encontrando o contraponto sensível na história da pequena Boo, uma garotinha que acidentalmente invade o mundo dos monstros e transforma o coração peludo de Sully.

    Ainda que produção primária do estúdio, é perceptível a intenção de um roteiro que produz o híbrido entre riso e sensibilidade sem que nenhum lado se sobreponha. Um estilo que será perseguido pelo estúdio que, até então, tinha realizado somente Toy Story 2 com uma alta carga dramática.

    Neste relançamento em terceira dimensão, a história ganha maior interatividade sem os excessos visto em outras produções que utilizam a estereoscopia. Uma demonstração de que o recurso pode ser bem utilizado se colocado de maneira sutil para realçar as dimensões da cena e dar destaque a pequenos elementos. Além da novidade do 3D, é funcional para que aqueles que nunca assistiram a história no cinema possam revê-la. Um projeto que a Disney tem realizado desde o recente relançamento de O Rei Leão.

    O sucesso da produção – que tem o mesmo diretor de Up – Altas Aventuras – gerou uma continuação, Universidade Monstro que estréia em 12 de julho de 2013 no país.

  • Crítica | Amor

    Crítica | Amor

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    Michael Haneke é um cineasta com um projeto muito claro: colocar na tela aquilo que o espectador preferia não ver. Violência gratuita, perversão sexual e as origens do nazismo já foram seus temas e em Amor, ganhador da Palma de Ouro em Cannes no ano passado, ele realiza o que parece ser seu filme mais íntimo, ao mesmo tempo em que trata de um dos assuntos mais onipresentes do universo: a morte.

    Anne e Georges são um casal idoso que vive em Paris. A sequência inicial do filme nos mostra um casal extremamente próximo, íntimo e independente que vai a concertos ver antigos alunos. Haneke constrói, nos primeiros 15 minutos de seu filme, um breve retrato de um casal em que o marido, aos prováveis 50 anos de casamento, ainda diz como sua mulher é bonita. É breve, mas essencial para que se entenda o que vai ser perdido mais tarde.

    Anne sofre um derrame e a cirurgia que se segue a deixa com a perna e o braço esquerdos paralisados. A perda de movimentos parece pequena; no entanto, Anne deixa de ser um ser humano independente, deixa de ser dona de suas vontades e, mais do que isso, traz para o casal a consciência da morte. Algo ali se quebra assim que Anne volta, e Haneke faz questão de demonstrar isso visualmente: o escritório onde o casal passa seus dias é todo decorado em cores quentes, tons de amarelo e laranja; a iluminação usada acentua esses tons e as vestimentas de todos os personagens que passam por ali são sempre em tons de marrom, exceto as de Anne, sempre em cores frias, como se já não pertencesse ao lugar onde a vida se dá.

    O derrame de Anne anuncia a morte, e o filme anuncia seu segundo capítulo com a visita de um ex-aluno. Ele chega de preto, de surpresa, e sua visita lembra a personagem de sua idade, de tudo de que ela já não lembra e do início de sua decomposição. Pouco depois ela tem um segundo ataque e começa uma espécie de segundo ato.

    Nessa segunda parte o que vemos é um ser humano que definha, morre devagar e dolorosamente em uma tela de cinema. Progressivamente Anne perde a dignidade, a personalidade e passa a ser tratada como uma coisa, um corpo doente e nada mais. Ao mesmo tempo, Haneke discute o próprio filme, ao opor a recusa feroz  da filha de Anne e seu marido a aceitar a morte da mãe à conformidade de Georges. Eva, a filha, está no lugar do espectador que preferia não entender aquilo que o personagem, e o cineasta, insistem em dizer que é inevitável.

    Amor é um filme claustrofóbico: ele se passa inteiro em um apartamento, os planos são fechados e são feitos muitos closes dos rostos dos personagens. Ao mesmo tempo, esse apartamento é decorado de forma agradável, íntima, e a luz quente e difusa aumenta a sensação de conforto. É um pouco como o longa: duro, contido, cruel, mas cheio de momentos de ternura e graça.

    Perto de A Fita Branca, seu trabalho anterior, Amor a princípio parece um filme menor e menos ousado. Mas, conforme ele se desenrola, a honestidade de Haneke mostra que o minimalismo ali fala muito. Amor é essencialmente sobre o que nos faz humanos: a morte, a resistência a ela, o amor como forma de aceitação e, finalmente, os limites desse amor. É profundo e visceral e confirma Haneke como um dos maiores cineastas em atividade.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • Crítica | O Lado Bom Da Vida

    Crítica | O Lado Bom Da Vida

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    No brasileiro Lisbela e o Prisioneiro, a mocinha interpretada por Débora Falabella, entusiasta de histórias românticas no cinema, faz uma afirmação que determina os princípios deste estilo de narrativa. Diz ela que normalmente o desenlace é previsível, importando a maneira como a história é conduzida.

    Em breves linhas, uma história de amor sustenta-se em dois possíveis finais: o viveram felizes para sempre, a maneira cinematográfica de demonstrar que a história deu certo; ou a desilusão amorosa que comumente ainda é otimista, visando uma recuperação breve da personagem.

    Talvez a simplicidade narrativa deixe mais aparente a sensação de repetição em diversas tramas semelhantes. Ainda é cedo para afirmar, mas observo uma nova tendência na narrativa americana de romance, inserindo uma história além da composição amorosa para aprofundar a carga dramática. Motivo pelo qual não tive empatia por Procura-se Um Amigo Para o Fim do Mundo, que, apesar do fundo de destruição mundial, não passa de uma história de duas personagens à procura de preencher seu vazio existencial.

    Em O Lado Bom da Vida, Pat e Tiffany são duas personagens que tentam se reintegrar à sociedade. Pat esteve oito meses em uma clínica psiquiátrica após flagrar sua esposa com um amante. Tiffany sofre a perda do marido com um pequeno colapso que a fez se entregar para diversos homens tentando preencher sua tristeza.

    A intenção da trama é apresentar duas personagens com cisões internas e de frágil psicologia que, por um passado problemático em comum, se aproximam. Mas, além de desenvolver este pano de fundo, não há a intenção de utilizá-lo como carga dramática no interior da história para que o público compreenda como é trabalhosa e difícil a recuperação de uma crise de nervos e de outros problemas psicológicos.

    Tem-se a impressão de que, em diversos momentos, as próprias personagens se esquecem dos infortúnios de seu passado. Como se tais artifícios estivessem presentes somente para mascarar a falta de criatividade ou justificar algumas ações exageradas em uma narrativa que o público sabe como termina.

    Pela fragilidade de tais elementos, a trama recorre a personagens secundárias para se sustentar, espaço preenchido pela família de Pat, com um Robert De Niro fanático por esportes e apostador profissional. É este o núcleo que sustenta parte da história até o início da inevitável aproximação amorosa.

    Bradley Cooper e Jennifer Lawrence trabalham bem em seus papéis de demonstrar talento para sustentar uma produção. Mas focam a sensibilidade emotiva somente para o romance visto em cena, parecendo-nos evidente que o passado psicológico é funcional somente para gastar tempo em cena, como uma ponta solta que, se cortada, daria mais força ao romance, que trabalha de maneira ineficaz um argumento potencialmente bom.

    Ouça nosso podcast sobre a filmografia de David O. Russel.

  • Crítica | O Último Desafio

    Crítica | O Último Desafio

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    He’s back. Arnold Schwarzenegger retorna aos cinemas como protagonista, dez anos depois de O Exterminador do Futuro 3. Nesse meio tempo, teve seu mandato como “Governator” da Califórnia e, claro, as participações em Os Mercenários. E ele parece ter assimilado com o colega Sly a ideia de que ainda pode ser fodão, mas a idade avançada vale uma boa tirada de sarro. O Último Desafio não chega a ser uma comédia assumida (como Os Mercenários 2), mas as piadas estão tão presentes quanto a ação – não muito distante dos clássicos de Arnold dos anos 80 e 90, talvez com a diferença de que antes o humor era de certa forma involuntário, e agora é consciente.

    A história mostra Ray Owens, veterano xerife de uma pacata cidadezinha de fronteira. Ele já teve sua cota de ação num passado traumático e agora só quer saber de sossego. Pro seu azar, um chefão do narcotráfico em um carro superveloz, após dar um baile no FBI, está em fuga para o México e vem direto na direção de Ray. Adivinha quem é o único que pode deter o bandido? O xerife e sua diminuta equipe.

    O Último Desafio tem como maior mérito sua indiscutível honestidade. Quem viu o trailer sabia exatamente o que esperar: um filme do Schwarzenegger. A trama é simplíssima e repleta de situações exageradas (por exemplo, toda a tecnologia e planejamento magistral por parte dos criminosos), os coadjuvantes são rasos, os vilões são caricatos e os tiroteios têm balas infinitas. O filme até poderia ser considerado mediano não fosse o carisma do herói. Impagável a oportunidade de rever a atuação robótica e o sotaque inconfundível de Arnold, suas frases de efeito e sua predileção por armas grandes. O peso da idade, porém, se faz presente a todo momento. Ele não corre ou apresenta grandes feitos físicos, pelo contrário. Cada movimento é lento, e cada pancada, dolorida. Mas tudo executado de forma bem-humorada, como na ótima cena em que o xerife pula pela vidraça da lanchonete, levanta-se com dificuldade e, perguntado “como está”, responde “velho”.

    Tudo isso mostra que o filme se apoia completamente em Schwarzenegger. Ele rouba até as cenas cômicas, pois suas piadas soam muito mais naturais, e por isso mais interessantes, do que aquelas de Luis Guzmán e Johnny Knoxville, os alívios cômicos oficiais. Muito pouco a se dizer sobre os outros atores: Forrest Whitaker faz o básico do básico, assim como a lindinha Jamie Alexander. Eduardo Noriega e Peter Stormare são competentes dentro da proposta de canastrice de seus vilões, e Rodrigo Santoro se vira bem no pouco espaço que tem.

    O diretor é o sul-coreano Jee-woon Kim, em seu primeiro trabalho em Hollywood. Ao longo de todo o filme ele demonstra experiência e segurança em conduzir cenas de ação empolgantes, mas sem excessos ou firulas visuais, sabendo dosar os momentos frenéticos com os de respiro. E, mais importante, deixando o astro brilhar. Fica a expectativa pelos próximos trabalhos do bom e velho Terminator, e a torcida para que essa onda de saudosismo ”brucutu oitentista” não passe tão cedo. O cinema blockbuster agradece.

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Crítica | As Aventuras de Pi

    Crítica | As Aventuras de Pi

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    Ang Lee é um cineasta de obra variada (O Tigre e o Dragão, Razão e Sensibilidade e Hulk passaram por ele), mas a adaptação de As Aventuras de Pi parecia ter os elementos em que ele funciona melhor: um roteiro com elementos de estranheza e surrealismo e a possibilidade de ser visualmente impressionante.

    O filme é uma adaptação do romance de Yann Martel e conta a história de Pi Patel, um garoto indiano que está migrando para o Canadá com sua família quando o navio afunda e ele se vê preso em um bote salva-vidas com um tigre de bengala. Durante a maior parte do tempo, tudo que o espectador vê é Pi, o tigre e o mar, e é um grande mérito de Lee que, embora seja lento, o filme não se torne excessivamente arrastado.

    Ang Lee consegue passar com relativa eficiência a angústia e a claustrofobia do personagem, e é essa tensão o que segura em parte a quase uma hora e meia de filme em que nada efetivamente acontece. Além disso, o tigre é construído com eficiência e, no fim, se torna um personagem mais carismático do que o próprio Pi. A montagem e os ângulos de câmera são todos pensados para aumentar a tensão e a sensação de pequenez de Pi frente ao tigre, ao mar e às outras forças da natureza. No entanto, a impressão que se tem é que, para além do medo, existem emoções em Pi que o diretor deixou de lado, ou não conseguiu encontrar uma forma adequada de passá-las do livro para imagens.

    A história de Pi é anunciada a seu interlocutor canadense (e, consequentemente, ao espectador) como capaz de fazê-lo acreditar em Deus; porém, toda a jornada espiritual de Pi e tudo o que efetivamente deve ter se passado em sua mente é deixado de lado e o filme se foca apenas na tensão e no medo entre ele e o tigre. Além disso, algumas pontas do roteiro ficam soltas, como a relação entre Pi e a namorada que ele deixa na Índia.

    No final, Ang Lee pegou um livro considerado inadaptável e transformou-o em um filme acessível. O filme é de uma riqueza visual considerável e impressiona por não ser extremamente tedioso, apesar de não ter quase nenhuma ação. Mas toda a profundidade que a história anuncia é deixada de lado: Lee não trata das religiões de Pi, de sua solidão no mar e joga uma reflexão sobre o poder das narrativas e sua relação com Deus, mas isso também não é desenvolvido.

    As Aventuras de Pi não é de forma alguma um filme ruim: é um filme lindo, bem construído e com um final engenhoso, mas que indica um potencial muito maior que parece ter sido deixado de lado em favor de visual e tensão, atributos mais prováveis de garantir sucesso comercial ao filme.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • VortCast 23 | O Apanhador no Campo de Centeio

    VortCast 23 | O Apanhador no Campo de Centeio

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    Bem-vindos à bordo. Nesta edição, Flávio Vieira (@flaviopvieira), Rafael Moreira (@_rmc), Isa Sinay (@isasinay), Pedro Lobato (@pedrolobato) e Thiago Augusto (@tdmundomente) se reúnem para comentar sobre uma das mais importantes obras literárias do século 20: O Apanhador no Campo de Centeio. O romance de J. D. Salinger influenciou gerações e foi um dos primeiros livros a retratar um universo e uma linguagem voltada para o jovem, lidando com temas como rebeldia, incertezas, angústias, entre tantos outros.

    Duração: 97 mins.
    Edição: Rafael Moreira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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    Comentados na edição

    Podcast sobre “Admirável Mundo Novo”
    Podcast onde comentamos sobre “As Vantagens de Ser Invisível”
    Podcast sobre Brett Easton Ellis
    Podcast sobre James Dean (Juventude Transviada)

    Bibliografia do autor (em português)

    O Apanhador no Campo de Centeio
    Nove Histórias
    Franny e Zooey
    Carpinteiros, Levantem Bem Alto a Cumeeira e Seymour, uma Introdução
    Slight Rebellion off Madison (short story que deu origem ao “Apanhador no Campo de Centeio”)

    Dicas de Materiais Relacionados

    Juventude Transviada – Compre Aqui
    Conta Comigo – Compre Aqui
    Com Licença, Eu Vou a Luta
    As Vantagens de Ser Invisível – Stephen Chbosky – Compre Aqui
    Pergunte ao Pó – John FanteCompre Aqui
    1933 Foi um Ano Ruim – John FanteCompre Aqui
    Cartas na Rua – Charles BukowskiCompre Aqui
    On the Road – Jack Kerouac – Compre Aqui
    Morte a Crédito – Louis-Ferdinand Céline – Compre Aqui
    Feliz Ano Velho – Marcelo Rubens Paiva
    Retalhos – Craig ThompsonCompre Aqui

    Algumas obras que reverenciam:

    Teoria da Conspiração – Compre Aqui
    Encontrando Forrester
    Greenday – Who wrote Holden Caulfield?
    Guns N’ Roses – Catcher in the Rye
    Pearl Jam – In Hiding
    Bill Halley – Rockin Through The Rye

    Tema do Próximo Podcast de Literatura

    Vestido de Noiva (Nelson Rodrigues) – Compre Aqui

  • Crítica | Léo e Bia

    Crítica | Léo e Bia

    leo e bia

    Dirigido pelo músico Oswaldo Montenegro, Léo e Bia é um filme bem complicado, mesmo com toda sua simplicidade. Se passa em Brasília, no auge da ditadura militar (anos 70), onde um grupo de jovens faz teatro. O Filme se passa praticamente todo em um cenário: o galpão onde os jovens ensaiam. O que parece ser limitado, acaba impressionando, quando esse galpão se transforma em casas, instituições, palcos, etc…

    O objetivo do diretor é mostrar as dificuldade e limitações da liberdade de expressão e cultural na Ditadura militar e ele faz isso misturado com um excelente drama.

    O enredo principal consiste na história de amor entre Léo e Bia, um casal estranho. Léo é o diretor e o líder do grupo de teatro e Bia, mesmo com problemas familiares, a melhor atriz. O relacionamento deles é bem complicado. Bia tem ciúmes da Marina (Melhor amiga de Léo), que por sua vez, ama o rapaz também.

    Todos os personagens tem seu destaque, sua história, suas angústias e tristezas e tudo isso é misturado ali, na nobre arte de atuar. Oswaldo usa da ingenuidade e inteligência da esquerda festiva para criar suas falas. Todos eles ao longo do filme tem ao menos uma frase marcante.

    – Aonde houver mulatas, não haverá nazismo
    – É, mas o Brasil “tá” cheio de mulatas e o nosso governo é fascista pra caralho.

    Durante os ensaios, simultaneamente, é contada também a história de Bia, que tem problemas com sua mãe obsessiva. Durante todo o longa são mostrados diálogos entre as duas e aí que entra o ponto mais importante de todos: A excelente atuação.

    Como já era de se esperar, a trilha sonora é toda de Oswaldo Montenegro. Apesar de cansativa, gostei dessa escolha. As letras se encaixam perfeitamente na trama e a edição é impecável. Como eu disse, é complicado na simplicidade. Léo e Bia sai do comum, é ousado, crítico e romântico.

    Texto de autoria de Jean D’angelo.

  • Top 10 –  Melhores Filmes de 2012, segundo Flávio Vieira

    Top 10 – Melhores Filmes de 2012, segundo Flávio Vieira

    melhores-de-2012

    Como de costume, eu tardo, mas não falho. Após um início de ano meio conturbado, minha lista de melhores filmes de 2012 esteve meio abandonada nas últimas semanas, mas decidi retomá-la e colocar aqueles longa-metragem que me impactaram em maior grau, com isso, já deixo claro que a lista abaixo se baseia exclusivamente na minha experiência pessoal com cada filme.

    A Invenção de Hugo Cabret
    Um dos primeiros filmes lançados do ano e o que melhor utilizou a técnica 3D em sua execução até o momento. A Invenção de Hugo Cabret tem como grande tema central o tempo. O tempo sempre será nosso maior amigo e inimigo, ele passará sobre nós sem piedade e logo estaremos velhos, mas também é ele o único capaz de nos fazer superar os nossos problemas e obstáculos. Scorsese faz uma declaração de amor ao cinema e ainda alerta a importância da preservação das obras originais. Tocante e delicado.


    O Espião que Sabia Demais
    Dirigido por Tomas Alfredson (Deixa Ela Entrar), O Espião que Sabia Demais traz uma abordagem contemplativa e melancólica do universo de espiões do MI6. O roteiro inspirado na obra homônima de John le Carré constrói uma história complexa e densa, mas que recompensa o espectador ao final do longa metragem. Repleto de grandes atuações, personagens bem construídos e um roteiro coeso e inteligente faz de  O Espião que Sabia Demais um dos melhores filmes de 2012.


    Millenium: Os Homens que não Amavam as Mulheres
    Lisbeth Salander já entrou no rol de personagens inesquecíveis do cinema. A adaptação de David Fincher dá vida a uma personagem ainda mais intimidadora na interpretação de Rooney Mara, por sua vez, Daniel Craig traz uma fragilidade a construção de seu personagem, algo muito diferente do que estamos acostumados a ver em seu trabalho como 007. Um thriller policial de primeira linha e que mostra como apenas suas ações demonstrarão quem você realmente é, não importando seu dinheiro ou escala social na qual você pertença.


    O Homem da Máfia
    O terceiro filme de Andrew Dominik traz o mundo da máfia para os dias atuais, fazendo um link interessante com a crise financeira ocorrida durante 2008 nos EUA. Brad Pitt traz uma interpretação repleta de frieza, indiferença e impessoalidade pelo mundo ao redor, e se antes tínhamos mafiosos como Don Corleone, em O Homem da Máfia eles são substituidos por engravatados do mundo corporativo, mostrando quem são os grandes vilões dos nossos dias.


    Ruby Sparks
    A comédia romântica Ruby Sparks me acertou em cheio. Longe de seguir fórmulas, apesar de brincar com vários clichês do gênero, o longa retrata justamente a dificuldade depois que a “empolgação” inicial de um relacionamento já se dissipou, e que o casal tem de aprender a conviver com as diferenças um do outro, suas manias e problemas. Calvin e Ruby mantém uma ótima química, e ambos parecem deixar a situação escapar do seu controle, algo que culmina numa cena violenta envolvendo o casal beirando o final do filme. Ruby Sparks traz personagens reais, em um filme divertido e inteligente.

    Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge
    O mundo aguardava o fechamento da trilogia do Homem Morcego idealizada por Christopher Nolan, e apesar de algumas críticas pífias ao longa, o filme superou as expectativas. Nolan mantém coerência no desfecho de sua saga, sempre imprimindo uma série de simbologias e referências, além de uma crítica voraz à nossa sociedade atual, tudo isso com um esmero por parte de elenco, direção e todo o resto.

    As Aventuras de Pi
    O novo filme de Ang Lee traz uma viagem transcedental, resgatando uma bagagem cultural, social e religiosa dentro de cada um de nós. Apesar de todo o contexto envolvendo espiritualidade, o filme não levanta bandeira de religião alguma, mas sim uma busca pelo autoconhecimento, crenças e filosofias se fundem em algo único. Além disso, o filme é visualmente impecável!


    007 – Operação Skyfall
    O mais recente filme de James Bond dividiu opiniões mundo à fora, contudo é inquestionável o sucesso alcançado em Skyfall, se tornando um dos filmes mais lucrativos da franquia. A direção de Sam Mendes trouxe uma assinatura ao longa, imprimindo uma série de simbolismos e um trabalho de fotografia muito competente. Um filme à altura dos 50 anos do personagem.

    As Vantagens de ser Invisível
    Fazia tempo que um filme não me impactava tanto quanto As Vantagens de Ser Invisível, talvez pelas experiências e personagens contidas nele serem tão fáceis de se identificar. O que tinha tudo para ser apenas mais um filme sobre o universo de adolescentes vai muito além, e apresenta uma história delicada sobre amizade, relacionamento, incertezas e descobertas. Daqueles filmes que serão lembrados pelo resto da vida.


    Drive
    Ryan Gosling traz uma de suas melhores atuações ao interpretar o aparentemente contido motorista de poucas palavras de Drive. No entanto, essa contenção é apenas um disfarce para uma faceta violenta daquele personagem. Gosling procura uma humanização na personagem de carrey Mulligan, o que acaba não acontecendo quando ela conhece sua verdadeira natureza. Impossível não se emocionar com a beleza contida na cena do elevador, onde o diretor contrói uma linda tomada de beijo entre os atores em slow motion, partindo logo após para uma cena seca de extrema violência, deixando claro que ambos vivem em mundos distintos. O melhor filme de 2012.

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    Decepção do ano: Na Estrada
    Na Estrada está longe de entrar para uma lista de piores filmes, no entanto, peca em sua essência, deixando de lado o que a obra de Kerouac tinha de mais interessante, o aspecto “libertário” da geração beatnik. Uma pena, já que Walter Salles tinha um material e tanto nas mãos.

  • Resenha | Morte Súbita – J.K. Rowling

    Resenha | Morte Súbita – J.K. Rowling

    morte-subita-jkrowling-capaQuinze anos atrás, a escritora J. K. Rowling lançava Harry Potter e a Pedra Filosofal, o primeiro de sete livros que se tornariam mundialmente famosos. Desde então, teve uma bem sucedida parceria com o sucesso que aumentou seu patrimônio e fez de sua personagem um ícone da cultura pop.

    Após a publicação de dez livros dentro do universo do bruxo, Rowling escreve seu primeiro romance adulto. O lançamento carrega a sensação de uma estréia devido a alta expectativa de saber se a escritora possui o mesmo vigor em outras narrativas, além de seu grande sucesso.

    Lançado nos Estados Unidos em Setembro do ano passado e em Dezembro no país, Morte Súbita (504 páginas, Nova Fronteira, Tradução de Maria Helena Rouanet) foi recebido sem unanimidade crítica que equilibrou-se entre o ótimo para o bom nas análises. A trama nos apresenta o pequeno distrito de Pagford, uma dessas pequenas regiões em que todos se conhecem e transformam qualquer pequeno acontecimento em um grande espetáculo, seja fofoca ou não. Após a morte de Barry Fairbrother, um dos conselheiros locais, os ânimos do distrito se elevam para a escolha de um substituto, principalmente quando o morto era um dos poucos a favor de manter um bairro pobre anexado ao local.

    Ao situar-se em um microcosmos, Rowling explora o pequeno espaço delimitado de uma comunidade demonstrando que nada é tão harmônico como parece. Embora a história tenha sido divulgada como uma espécie de mistério, não há nenhum segredo central a ser revelado. Mas sim um rompimento da impressão inicial, verificando que cada membro da comunidade, por maior ou menor que seja, guarda um segredo.

    Em um primeiro momento, a narrativa acompanha a semana que sucedeu a morte do conselheiro, acompanhando, com um pouco de excesso, o dia-a-dia de cada personagem, produzindo uma espécie de narrativa de costumes. Sempre permeada por personagens ou situações que beiram a dualidade.

    Acostumada a escrever sem economia a história resulta-se maior do que deveria. Rowling tem talento ímpar para desenvolver personagens diferenciadas com características distintas, mas se estende ao apresentá-las, demorando para entrelaçar todas as histórias até os pequenos clímax. Sua ideia é destruir a imagem plástica de uma cidade erigida em segredos. Mas tais descobertas não são tão poderosas como se imagina. A boa saída da autora para produzir uma reviravolta tem boa carga de tensão e se mantém mesmo repetida mais de uma vez, deixando a narrativa mais frágil.

    Dentro da pressão em realizar um bom livro que resulte em boas vendas, a autora conseguiu exprimir uma voz narrativa diferente da anterior, demonstrando seu talento. Mas, por conta da extensão perdeu o impacto que seria mais preciso em uma trama mais enxuta.

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  • Crítica | O Homem Mais Procurado do Mundo

    Crítica | O Homem Mais Procurado do Mundo

    o homem mais procurado do mundo - poster brasileiro

    Desde os atentados de Onze de Setembro, a imagem de Osama Bin Laden adquiriu reconhecimento mundial. Seu rosto tornou-se figura central de noticiário e, de uma maneira torpe, foi rentável material de notícias, sendo uma espécie de celebridade. Nada mais evidente, portanto, que sua morte seja vista como um espetáculo.

    O Homem Mais Procurado do Mundo é uma produção realizada para a televisão com o intuito de dramatizar as horas que antecederam a operação militar que resultou na morte do líder da al-Qaeda, como também apresentar um resumo dos procedimentos que levaram a descoberta de seu esconderijo.

    A narrativa tem início com depoimentos dos soldados da marinha envolvidos na operação e de parte do grande escalão da inteligência americana. O didatismo dos testemunhos são tão evidentes que parecem muito semelhante ao estilo documental televisivo. Não há a intenção de expor verdadeiramente os fatos, mas apresentar uma versão da história oficial. História em que todos os soldados tem uma boa índole, acreditam na força americana e, acima de tudo, são regidos pela ética de batalha, sem subjugar o oponente.

    Aos poucos, o molde didático cede a uma dramaticidade cinematográfica, explorando dois pontos distantes da mesma guerra: o dia-a-dia dos Navy Seals e a inteligência da CIA que articulou a operação autorizada pelo presidente Obama. A precariedade das interpretações salvam-se por dois atores conhecidos do público televisivo americano: Robert Knepper e William Fichtner que voltam a dividir a cena após trabalharem em Prison Break. São essas personagens que se destacam por dar maior realidade dramática as cenas, além de trazerem ao público parte de seu carisma (os nomes podem parecer desconhecidos, mas os atores sempre estão presentes em séries ou em pequenos papéis cinematográficos).

    Mesmo que produtores tenham mencionado a dificuldade em desenvolver o roteiro da trama, devido aos documentos sigilosos da inteligencia americana, a necessidade em se produzir uma história chapa branca é maior do que uma narrativa bem realizada. A representação cênica não tira a ideia de que estamos assistindo a uma dramatização superficial que funciona somente se vista para compreender os acontecimentos que eclodiram na bem sucedida operação.

    O diretor John Stockwell (Turistas, A Onda Dos Sonhos) parece não se esforçar além do registro das cenas. Como tradicional documentário dramatizado – visto em demasia em canais de televisão a cabo – alcança seu objetivo de apresentar um acontecimento. Mas falha como produção cinematográfica que deseja ser.

  • Crítica | A Origem dos Guardiões

    Crítica | A Origem dos Guardiões

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    A mais recente produção da Dreamworks Animation tem o consagrado estilo do estúdio: uma aventura leve, movimentada e divertida, claramente direcionada ao público infantil, mas com elementos que também agradam aos adultos. A Origem dos Guardiões segue uma premissa similar à do mega sucesso Shrek: depois dos contos de fadas, agora são figuras do folclore que ganham uma “repaginada” para se adequar aos novos tempos. Mas sua mensagem continua sendo a mais clássica possível – e emocionante justamente por isso.

    Na trama, quando o perigoso Breu (ou Bicho-Papão) ressurge após séculos para ameaçar as crianças do mundo todo, cabe aos Guardiões se reunirem para enfrentá-lo. Mas o time formado por Papai Noel, Coelhinho da Páscoa, Fada dos Dentes e Sandman pode não ser o suficiente diante da ameaça, pois o enigmático “Homem na Lua” escolhe um 5º guardião: o irresponsável Jack Frost. Ele vaga pelo mundo há trezentos anos, sem memória, objetivos ou mesmo reconhecimento por parte dos humanos. É essa sua busca pessoal, pelo seu “cerne”, que acaba sendo o motor da narrativa.

    Baseado na série literária Guardians of Childhood, de William Joyce, o filme é uma agradável surpresa, ao fazer dos Guardiões uma verdadeira equipe de super-heróis. Não falta nem a Jornada do Herói, representada no protagonista Frost. Igualmente bem conceituada e realizada é a roupagem cool que os personagens ganharam. Papai Noel não é mais só um bonachão: careca, tatuado, com duas espadas enormes, ele adquire uma divertida aura badass. O Coelhinho, ou melhor, Coelhão, é quase um ninja: é alto, sério, ágil e atira bumerangues. A Fada dos Dentes é meiga, mas protetora com suas fadinhas. E o Sandman não tem a aparência de Robert Smith, é um simpático gorduchinho (mas que sabe se virar numa briga) que se comunica usando a areia dourada dos sonhos.

    Um aspecto interessante é a reciprocidade na relação dos Guardiões com as crianças. Ao mesmo tempo em que eles representam e zelam por sentimentos como esperança, imaginação, alegria, capacidade de sonhar etc., eles dependem da crença dos pequenos para poderem existir e continuar seu trabalho. Isso gera alguns momentos tristes e reflexivos, bem coerentes dentro da narrativa, mas que talvez sejam resolvidos muito facilmente. Mas, como é um filme destinado a crianças, não dá para reclamar muito disso. Outro ponto negativo é que o protagonista fica devendo em matéria de carisma. Ágil, poderoso e com seu visual de personagem de anime, Jack Frost deve agradar crianças e pré-adolescentes, mas é inegavelmente insosso se comparado ao bom e velho Shrek ou ao Kung Fu Panda.

    Visualmente, o filme tem a competência habitual da Dreamworks, ainda que não traga nada inovador ou surpreendente. Também competente é a dublagem brasileira, nada devendo ao original (que conta com vozes famosas como Alec Baldwin, Hugh Jackman, Jude Law, entre outros). No fim das contas, A Origem dos Guardiões é uma boa recomendação até para quem não é particularmente fã de animações – caso deste que vos escreve.

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Crítica | Jack Reacher: Um Tiro

    Crítica | Jack Reacher: Um Tiro

    jack reacher - o ultimo tiro - poster brasileiro

    O escritor britânico Lee Child conseguiu uma interessante façanha ao compor Jack Reacher, personagem principal de uma série de livros de sucesso mundial. Suas características apontam para um típico herói de filmes de ação, em que músculos são mais importantes que um raciocínio lógico. Mas sua inteligência investigativa, próxima das narrativas de suspense, aprofunda a personagem.

    O romance Um Tiro foi a escolha certa para ser um cartão de visitas a quem desconhece a personagem. A história apresenta com precisão o protagonista, sendo um bom ponto de partida aos leitores. Na trama, um homem é preso após realizar um atentado que vitimou cinco pessoas. Alegando inocência, o atirador pede a presença do desconhecido Jack Reacher na cidade.

    Ciente das diferenças entre literatura e cinema, Christopher McQuarrie, que também dirige o longa, trabalha em um roteiro em que as primeiras cenas são realizadas sem nenhum diálogo, valendo-se apenas da trilha sonora e de sua potência dramática. Uma maneira eficiente de apresentar a parte inicial da narrativa sem precisar de muito tempo excessivo, focando mais tempo no que surge a partir da personagem central e nos desdobramentos de sua investigação.

    Tom Cruise funciona como Jack Reacher, sendo uma representação perfeita daquela vista nos romances de Child (embora antes de assistir a produção minha descrença era alta). Tem o rigor físico que compreende o uso da violência e a habilidade investigativa e dedutiva de um bom investigador analítico. Além de ser excelente na execução de cenas de ação, feitas, normalmente, sem uso de dublês.

    Consciente dos clichês que se repetem no gênero, a produção é capaz de colocar em cena um personagem que situa-se a frente do previsível, desmascarando a saída mais fácil, ao mesmo tempo que consegue sustentar a progressão do suspense.

    Cabe mencionar que Um Tiro foi o primeiro romance que li de Child, deixando-me impressionado com sua narrativa popular e bem articulada. O que me motivou a escrever um artigo sobre esta interessante personagem que é Jack Reacher.

  • Crítica | O Resgate

    Crítica | O Resgate

    o-resgate - poster

    A cada filme que estrela, Nicolas Cage dá passos para se tornar uma espécie de mito contemporâneo. Mesmo em uma época em que grandes atores não têm mais o prestígio de outrora e não cativam tanto público para suas produções, Cage continua realizando filme após filme e tendo um grande público, sendo alvo de montagens virtuais e, o mais estranho, figurando na capa de um livro de biologia de um país europeu com uma imagem retirada de Arizona Nunca Mais.

    Houve um momento em que sua carreira era respeitada. Além do Oscar em 1996, por Despedida em Las Vegas, tornou-se um astro de ação com diversas boas produções presentes no coletivo popular e sempre reprisadas na televisão aberta. Até quando resolveu esquecer o talento e qualquer método de interpretação possível.

    Ainda assim é personagem central em muitas produções. De dez anos para cá, estrelou vinte e quatro produções – a maioria repetindo os mesmos papéis, sendo O Senhor das Armas e O Sol de Cada Manhã os últimos vestígios de seu talento.

    Retomando a parceria com Simon West, que o dirigiu em Con Air – A Rota da Fuga, O Resgate é um tradicional filme de um bandido arrependido que, após a prisão, tenta fazer as pazes com a família, normalmente formada por mãe e uma filha adolescente que não gosta do pai. A reviravolta acontece quando um dos homens de seu bando sequestra a garota, exigindo sua parte do último assalto, que resultou na prisão da personagem.

    Com apenas noventa e seis minutos de duração, a motivação é muito clara. Um pai que fará de tudo para salvar a sua filha. O tempo relativamente curto em que se desenvolve a história é suficiente para ter agilidade e não pecar em apresentar reviravoltas desnecessárias. Mas outras tramas apresentaram a mesma história com mais vigor, como Busca Implacável.

    Em cena, Nicolas Cage está igual ao seu personagem em Motoqueiro Fantasma: Espírito da Vingança. Que, por sua vez, é igual ao de Reféns. Igual ao de Pacto Sobre Rodas. E assim segue. Repetindo o mesmo olhar meio agressivo, meio maluco, a voz descontrolada que sempre precisa se impor da maneira italiana: gesticulando ameaçadoramente.

    Em algum momento, o ator se perdeu. E hoje, ainda assim, continua produzindo filmes que devem ser vistos mesmo pelo riso involuntário. Pela sensação de ver em cena um ator que parece fingir não saber que tem descido uma triste ladeira sem fim.

    O mais impressionante dessa produção é saber que, no mesmo ano, o diretor West realizaria com Stallone Os Mercenários 2. Verificando sua filmografia percebe-se que o filme com Sly foi um dos poucos acertos entre diversos fracassos.

  • Review | F.E.A.R. 3

    Review | F.E.A.R. 3

    F.E.A.R 3

    A história começa exatamente no final do segundo jogo, quando o Point Man (personagem principal de F.E.A.R.) é capturado. Ele está sendo interrogado quando aparece seu irmão, Paxton Fettel, e o ajuda a fugir. Logo no início, a ação já começa com a fuga dos irmãos, até chegar ao Jin.

    Esse enredo, apesar de excessivamente pequeno, prende o player do início ao fim. Até porque a jogabilidade é a maior arma do jogo. A liberdade de movimento dos jogadores, o modo Multiplayer (melhor que a história original) e, principalmente, a dificuldade tornaram o jogo, na minha opinião, o melhor FPS de 2011.

    A trilha sonora e o som do jogo são impecáveis também. Mesmo não sendo assustadores, os efeitos sonoros algumas vezes conseguem proporcionar um suspense, assim como a interação das vozes dos inimigos (dá pra ouvir eles te xingando) e os sons de tiros, granadas, gritos. Tudo muito bem feito.

    É claro que, mais uma vez, os gráficos não foram explorados e isso desanima um pouco. Efeitos ruins, texturas dos personagens, cenários, nada disso empolga de verdade. A equipe de desenvolvimento mudou em F.E.A.R. 3, mas aparentemente só mudaram a jogabilidade. Comparado aos outros FPS da mesma época, os gráficos são péssimos.

    Para quem curte jogo difícil, essa é a escolha perfeita. Mas, como eu disse lá em cima, não esperem o terror dos dois primeiros games.

    Gostei muito do jogo e, se ele fosse um pouco maior, talvez fosse o melhor de sua categoria no ano passado, mas deixou a desejar em alguns aspectos que com certeza poderiam ter sido corrigidos. Apesar de tudo, o que me impressiona é que, com tantos FPS bons no mercado, esse foi o único que me chamou a atenção de verdade. Excelente jogo.

    Texto de autoria de Jean Dangelo.

  • Crítica | Rurouni Kenshin: O Filme

    Crítica | Rurouni Kenshin: O Filme

    Rurouni+Kenshin+Movie+Poster

    Adaptações são um perigo. Nos últimos anos pudemos presenciar vários projetos para cinema que foram trazidos a nós como adaptações de livros e histórias em quadrinhos. Alguns foram grandes acertos e outros fracassos completos. Quando foi anunciado que um filme em live action de Rurouni Kenshin (mais conhecido no Brasil como Samurai X), mangá criado por Nobuhiro Watsuki, estava sendo produzidos e dirigido por Keishi Ohtomo, os sentimentos se dividiram. O meu particularmente esperou pelo pior, porém fui surpreendido.

    Rurouni Kenshin é ambientado em um Japão após a vinda da Era Meiji e conta a história de Kenshin Himura, um samurai que vaga pelo Japão ajudando pessoas e, ao mesmo tempo, tentando lidar com os fantasmas de seu passado, em que era um famoso e temido retalhador conhecido como Battousai.

    Este filme, especificamente, abarca os dois primeiros arcos do mangá/anime, que seria Kenshin tendo que enfrentar o excêntrico traficante de ópio Kanryuu Takeda e o assassino Jin-E, com algumas modificações. Esse é o primeiro ponto que vale a pena ressaltar do filme: como toda adaptação que se preze, uma série de mudanças na forma como se constrói a narrativa é realizada. A dificuldade de ultrapassar a barreira da adaptação foi vencida perfeitamente pelo roteirista Kiyomi Fujii, o qual produziu um roteiro coerente e crível, mesclando dois arcos que englobam uma quantidade considerável de plots em um único filme e excluindo momentos superficiais da história original. Todos os elementos principais e importantes estão lá.

    A escolha dos atores foi outro acerto. Takeru Sato interpretou perfeitamente Kenshin Himura. Desde o lado calmo e sereno de Kenshin, quanto a raiva incontrolável de Battousai (a dualidade do personagem) foram inseridas de maneira muito satisfatória em sua atuação. Munetaka Aoki interpretando Sanosuke Sagara não fez feio também. Seu personagem em diversas cenas rouba a atenção por seu modo de agir, que acaba provocando vários momentos cômicos. O elenco no geral foi muito bem escalado, respeitando fielmente as características físicas dos personagens na história em quadrinhos.

    A fotografia e as ambientações foram um diferencial que elevou ainda mais a boa execução do filme. Somos levados a um antigo Japão feudal meticulosamente reconstruído. O tom amarelado nas cenas comuns ajudam a contribuir com a beleza do filme, assim como as cenas em tom azulado e cinza conseguem mesclar bem com a atmosfera de terror e violência nas cenas em que Kenshin incorpora o retalhador que tanto almeja deixar para trás.

    O pouco uso de CG e efeitos especiais – estes apenas para inserir sangue e conferir efeitos de agilidade em algumas cenas de luta – corrobora o cuidado com que o filme foi desenvolvido. A trilha sonora espetacular e as cenas de luta muito bem coreografadas e empolgantes ajudam mais ainda ao fazer com que Rurouni Kenshin não seja apenas uma excelente adaptação, mas também um excelente filme de samurai, agradando até mesmo quem ainda não é fã de Kenshin, Kaoru, Sanosuke e todos os demais personagens que fazem essa história ser uma das mais cultuadas por todo o mundo.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Agenda Cultural 48 | Adolescentes, Hobbits e Religiões

    Agenda Cultural 48 | Adolescentes, Hobbits e Religiões

    agenda48

    Bem vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Rafael Moreira (@_rmc), Pedro Lobato (@PedroLobato), Bruno Gaspar e Carlos Brito se reúnem para comentar os lançamentos do cinema, quadrinhos, séries e literatura. Não esqueça de deixar suas opiniões.

    Duração: 100 min.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Rafael Moreira

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    Comentados na Edição

    Literatura

    Deixa Ela Entrar – Jon Ajvide LindqvistCompre aqui
    Como Andar no Labirinto – Affonso Romano de Sant’Anna – Compre aqui

    Séries

    Supernatural – 8ª Temporada – Compre aqui

    Quadrinhos

    Last RPG Fantasy – Lobo Limão

    Cinema

    Crítica Curvas da Vida
    Crítica O Homem da Máfia
    Crítica As Aventuras de Pi
    Crítica O Impossível
    Crítica O Hobbit – Uma Jornada Inesperada
    Crítica A Viagem
    Crítica As Vantagens de ser Invisível
    Crítica O Som ao Redor