Parte I – Contexto Histórico
Olhando para trás, os movimentos de defesa dos direitos das mulheres ocidentais no séc XX parecem ser dominados pelo clamor crescente para a reforma política e o voto para as mulheres (livros, artigos, discursos, fotos e documentos do período, no entanto, mostram uma grande diversidade de tema a ser discutido em público).
Na Holanda, por exemplo, o direito à educação, os direitos à assistência médica, melhores condições de trabalho, a paz e os duplos padrões sexuais foram as principais questões feministas da época, não só na Europa: este mesmo clamor por direitos estava também presente na América. Em meio a Segunda Guerra Mundial, elas assumiam empregos formalmente ocupados por homens na sociedade: motoristas de táxi, vendedoras, donas de escritório etc.
Muitas delas se recusaram a abrir mão dessa liberdade profissional, criando uma grande crise no que era formalmente naturalizado como as definições de masculinidade e feminilidade. E nesse contexto, devido à guerra, Mulheres liam mais quadrinhos que o público Masculino.
ArchieComics #174 – Uma das primeiras revistas dessas leitoras foi a mensal “ArchieComics”, estrelando um grupo de adolescentes americanos
Durante a Era de Ouro dos Quadrinhos (1930 a 1940), tempo em que os quadrinhos estavam em ascensão, as mulheres não apareciam primeiramente como super-heroínas, mas apresentavam tipos característicos: enfermeiras, modelos, datilógrafas, jornalista, escritoras e etc. Protagonistas em romances, popularizadas por Joe Simon e Jack Kirby, geralmente se caracterizavam pela garota boa e a garota má; a que tem seu coração partido e a que parte o coração dos outro rapazes; e histórias de adolescentes rebeldes.
Dois exemplos de quadrinhos com a figura feminina
Mulheres só foram se tornar combatentes do crime muito tempo depois, aparecendo primeiramente em quadrinhos policiais como ladras e assassinas (esse conceito da mulher delinquente reaparecerá nas personagens da revista The Spirit, de Will Eisner). Uma editora em particular, Fiction House, trabalhou em desenvolver suas histórias com heroínas como Sheena (mais conhecida no Brasil como Shanna), a rainha da selva criada por Will Eisner e S.M Jerry Iger. Foi a primeira personagem feminina a ter seu próprio título mensal.
Em 1940, a escritora Trina Robbins, na revista The Great Women Superheroes Wrote, diz que “muito do estilo de ação Pulp da Fiction House também começou com belas, fortes e imponentes heroínas. Eram enfermeiras de guerra, aviadoras, detetives e uma rainha dos animais de pele branca na selva que realmente estavam no comando. Armas de fogo, adagas, espadas e lanças eram o arsenal de Shanna ao passar das páginas, pronta para derrotar qualquer vilão sem precisar ser socorrida.”
A primeira super-heroína conhecida foi desenhada e escrita por FletcherHank’s. Fantomah é uma ancestral egípcia nos tempos modernos que pode transformar seu rosto em uma caveira com superpoderes para combater o mal. Foi publicada na editora Fiction House na revista “JungleComic#2” em fevereiro de 1940.
Fantomah se transformando. Fantomah #14 (1941), página de FletcherHank’s
Na segunda parte, conheceremos a origem da Mulher-Maravilha e suas diversas personificações a cada década.