É inevitável cair de amores pelo trabalho de Bianca Pinheiro, na série gráfica Bear (leia a resenha do primeiro volume). Na aventura da jovem Raven e seu grande amigo urso Dimas para encontrarem os pais da garota, a devoção de Bianca pelo projeto está em cada cena, em cada página colorida; todos os momentos que se tornam inesquecíveis em nossa memória dado o brilhantismo, a simplicidade e o brilho literário tão presentes neste segundo volume. Agora, Raven e Dimas continuam na estrada, lançando-se novamente ao desconhecido mundo dos adultos, um pelo outro, enquanto reencontram velhos conhecidos, como a Dona Pivara, e novos aliados e inimigos a se fazer, e a combater. Nada é fácil na vida, mas com bons amigos essa afirmação enfraquece, rapidinho.
Se os alvos são um só (achar papai e mamãe), o que poderia atrapalhar uma garotinha senão a sua própria imaturidade? Simbolizando isso de forma oportuna, somos convidados a entrar na cidade de Metódica, onde o absurdo impera livre e solto. Devido a um misterioso feitiço, todos os habitantes do município voltaram magicamente a ser crianças, condição que os faz esquecer também de tudo o que aconteceu desde que ganharam pelos, e de como a melhor coisa da vida é brincar e rejeitar esse terrível monstro chamado “brócolis”. Convencida de que não apenas pode ajudar a todos, mas encontrar seus pais em Metódica, Raven entra na cidade mas releva um pequeno detalhe: Dimas já era adulto, e agora infantil, ou melhor, infantiloide, ele desaparece apenas para criar confusão a sua amiga que se irrita fácil.
Em meio a este drama, como todos vão superar então a saudade de seus pais que, aparentemente, ficaram mais rebeldes que os seus próprios filhos? Para reatar seus laços e voltar à normalidade, as crianças de Metódica precisarão tomar as rédeas da situação e procurar o culpado para o dilema de suas famílias, mas não antes de enfrentar conflitos entre elas mesmas, já que um grupo de baixinhos não quer perder o controle que conseguiram sobre os outros, em uma clara alusão ao clássico O Senhor das Moscas, de William Golding. E para piorar as coisas, notamos que o jovem Dimas odeia andar, e cabe a Raven puxar o ursinho – se adulto ele é resmungão, quando criança ficou mimado como todos os adultos mais infantis que se prezem. “Mas pelo menos meu pai aprendeu a sorrir, agora que virou criança!”, revela uma das moradoras de Metódica.
A história de Pinheiro tem em si a sensação de um abraço apertado; de uma soneca aos pés de uma lareira. Seus diálogos são realistas a ponto de soarem como crianças de verdade falam, e o ritmo da leitura deste segundo volume é o mais gracioso possível. Se a estrada é o que realmente importa em uma aventura, e não o seu destino, o nosso prazer em acompanhar de perto essa dupla atrapalhada de amigos não poderia ser maior, já que a série Bear invoca o que há de mais leve e colorido na vida com um frescor cativante e poderoso, para todas as idades. Ao fim deste segundo volume, o leitor se sente órfão de Raven e Dimas, dos amigos que abandonaram, mas muito mais humano e inspirado após as lições e reflexões que encontramos pelo caminho, sempre com um sorriso estampado ao esperar por mais aventuras recomendadíssimas, como essa.
Compre: Bear – Volume 2.