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  • Resenha | Bear – Volume 3

    Resenha | Bear – Volume 3

    Na continuação das aventuras da jovem Raven e seu amigo urso Dimas, a fim de encontrarem os pais perdidos da garotinha, o mundo criado por Bianca Pinheiro para servir de palco as peripécias dessa dupla de atrapalhados toma, agora, proporções bem mais ambiciosas e visualmente interessantes: neste terceiro volume de Bear, viajamos junto deles a oceano, ou melhor, a um vasto Rio que precisa de ajuda! Numa clara alusão a poluição das águas que tanto é causada como pode ser revertida pela ação do homem, Raven e Dimas encontram em seu caminho uma entidade chorona, e gigante, cujas lágrimas formam um córrego sem fim, e que pode inundar o mundo todo se a sua tristeza continuar assim, firme e forte.

    Para conter suas lágrimas, os dois aceitam a nobre missão de encontrar o cetro mágico que foi roubado do Rio, e trazê-lo de volta das profundezas do fundo do mar! Nisso, ambos ganham a capacidade de nadar e respirar debaixo da água, mas o tempo para diversão é curto: ou Raven e Dimas descobrem logo onde está o cetro, ou tudo na Terra vai ser encharcado. Nem é preciso dizer que embarcar em mais um corre-corre com nossos amiguinhos é, novamente, uma delícia com tantas reviravoltas e coisas a se fazer, agora, entre sereianos (sereias não, sereianos!) e tubarões super amigáveis que fazem Dimas se borrar de medo, afinal carne de urso deve ser bem apetitosa aos dentes do mais temido predador dos sete-mares.

    Toda criança já quis visitar o fundo do mar, antes ou depois de assistir a Procurando Nemo e se encantar com tantas cores e maravilhas debaixo d’água. Por ironia do destino, Raven agora ganha a oportunidade, sempre na esperança de encontrarem, de alguma forma também inesperada, mamãe e papai que ela perdeu, um dia, num passeio na floresta. Enquanto a hora do reencontro não chega, ela e Dimas fazem amizades que a levam aonde nem seus sonhos mais malucos conseguiriam levá-los! No meio do caminho até o cetro, velhos personagens do Volume 1 e 2 da saga Bear retornam para ajudar e atrapalhar nossa dupla de “heróis”, uma vez que confusão chama por confusão, num efeito bola de neve irresistível, e elas nunca parecem ser o suficiente.

    Sempre irresistível para todos os públicos, Pinheiro continua a encantar qualquer leitor que se aventurar por sua obra, publicada com capricho pela Editora Nemo, mantendo as páginas grandes para destacar a total qualidade gráfica do trabalho da autora. Com suas tramas ágeis e inteligentes, este Volume 3 peca pelo seu final bastante corrido, e talvez vago demais para ser capaz de dar um desfecho coerente, e realmente significativo a esta aventura marítima dos adoráveis Raven e Dimas. Mesmo assim, segue-se sendo um deleite ter acesso a essa jornada em busca dos pais de Raven que, é bom deixar claro, ainda está bem longe de terminar. Afinal, ela e seu parceiro fofo e peludão ainda tem muitos reinos para conhecer, muitas loucuras para se meter, e muitas lições da vida para aprender.

    Compre: Bear – Volume 3.

  • Resenha | Bear – Volume 2

    Resenha | Bear – Volume 2

    É inevitável cair de amores pelo trabalho de Bianca Pinheiro, na série gráfica Bear (leia a resenha do primeiro volume). Na aventura da jovem Raven e seu grande amigo urso Dimas para encontrarem os pais da garota, a devoção de Bianca pelo projeto está em cada cena, em cada página colorida; todos os momentos que se tornam inesquecíveis em nossa memória dado o brilhantismo, a simplicidade e o brilho literário tão presentes neste segundo volume. Agora, Raven e Dimas continuam na estrada, lançando-se novamente ao desconhecido mundo dos adultos, um pelo outro, enquanto reencontram velhos conhecidos, como a Dona Pivara, e novos aliados e inimigos a se fazer, e a combater. Nada é fácil na vida, mas com bons amigos essa afirmação enfraquece, rapidinho.

    Se os alvos são um só (achar papai e mamãe), o que poderia atrapalhar uma garotinha senão a sua própria imaturidade? Simbolizando isso de forma oportuna, somos convidados a entrar na cidade de Metódica, onde o absurdo impera livre e solto. Devido a um misterioso feitiço, todos os habitantes do município voltaram magicamente a ser crianças, condição que os faz esquecer também de tudo o que aconteceu desde que ganharam pelos, e de como a melhor coisa da vida é brincar e rejeitar esse terrível monstro chamado “brócolis”. Convencida de que não apenas pode ajudar a todos, mas encontrar seus pais em Metódica, Raven entra na cidade mas releva um pequeno detalhe: Dimas já era adulto, e agora infantil, ou melhor, infantiloide, ele desaparece apenas para criar confusão a sua amiga que se irrita fácil.

    Em meio a este drama, como todos vão superar então a saudade de seus pais que, aparentemente, ficaram mais rebeldes que os seus próprios filhos? Para reatar seus laços e voltar à normalidade, as crianças de Metódica precisarão tomar as rédeas da situação e procurar o culpado para o dilema de suas famílias, mas não antes de enfrentar conflitos entre elas mesmas, já que um grupo de baixinhos não quer perder o controle que conseguiram sobre os outros, em uma clara alusão ao clássico O Senhor das Moscas, de William Golding. E para piorar as coisas, notamos que o jovem Dimas odeia andar, e cabe a Raven puxar o ursinho – se adulto ele é resmungão, quando criança ficou mimado como todos os adultos mais infantis que se prezem. “Mas pelo menos meu pai aprendeu a sorrir, agora que virou criança!”, revela uma das moradoras de Metódica.

    A história de Pinheiro tem em si a sensação de um abraço apertado; de uma soneca aos pés de uma lareira. Seus diálogos são realistas a ponto de soarem como crianças de verdade falam, e o ritmo da leitura deste segundo volume é o mais gracioso possível. Se a estrada é o que realmente importa em uma aventura, e não o seu destino, o nosso prazer em acompanhar de perto essa dupla atrapalhada de amigos não poderia ser maior, já que a série Bear invoca o que há de mais leve e colorido na vida com um frescor cativante e poderoso, para todas as idades. Ao fim deste segundo volume, o leitor se sente órfão de Raven e Dimas, dos amigos que abandonaram, mas muito mais humano e inspirado após as lições e reflexões que encontramos pelo caminho, sempre com um sorriso estampado ao esperar por mais aventuras recomendadíssimas, como essa.

    Compre: Bear – Volume 2.

  • Resenha | Bear – Volume 1

    Resenha | Bear – Volume 1

    “Mas a gente tem que sair de uma prisão de cada vez.”

    Quando a busca pelos pais torna-se uma odisseia rumo ao absoluto desconhecido, tudo é possível aos olhos de uma jovem garota que só quer ter seu pai e sua mãe de volta. Após perdê-los ao caçar uma borboleta em uma densa floresta, a baixinha Raven descobre com toda a sua esperteza (e inconsequência), mesmo sem saber, que vive o privilégio da infância de poder caminhar em um mundo colorido, cheio de surpresas divertidas e amigos inesperados para lhe ajudarem a solucionar todos os enigmas da vida adulta. Uma “adultecência” esta que, para ela, nem é tão complexa assim, pelo contrário: para Raven, quanto mais desafios ela desvenda pelo caminho até seus pais, mais vale a pena encarar as surpresas (e as reflexões) da grande aventura, a frente.

    Logo no começo, entramos todos com Raven numa caverna escura onde reside um perigo mortal, um urso! Dimas é o elemento surpreendente que a protege, em toda a sua imaturidade infantil, de frutas venenosas, a esquenta para dormir, e nunca desiste de sua nova amiga – mesmo nos momentos mais frustrantes da jornada. Sua amizade se reforça a medida que mais problemas aparecem, e a zona de conforto de Dimas fica cada vez mais para trás. Dimas fica sendo o Totoro de Raven, a criatura fiel que torna-se o contraponto da perspectiva da menina: enquanto para ela tudo é um parque de diversão (também graças a sua inteligência relâmpago), o urso vê as regras do mundo adulto sob uma palavra, apenas: ridículo! Também por isso, Bear é um convite a uma visão mais graciosa das regras que regem nossa realidade, cheia de senhas, armadilhas, falsos amigos e responsabilidades que nos distanciam da nossa essência, aquela que traímos com o passar dos anos.

    Ao procurarem por um oráculo para eles lhes dizer aonde estão os pais de Raven (é curioso notar como Dimas nunca a culpa por se perder da família, mas ajuda a garota sem nunca julgá-la por ser erro, talvez por perceber a inocência por trás do equívoco), o profeta se revela apenas um jovem fanático por Harry Potter, sendo misteriosamente capturado por dois homens desenhados em preto-e-branco, e num traço bem diferente da identidade visual da graphic novel, por serem o rigor encarnado do tempo, e a frieza do dinheiro. No reino dos homens engravatados, há espaço de sobra para a corrupção, e falta para o sonho. Raven não entende isso, é claro. Dimas enxerga tudo, mas não ousa explicar nada. Mas o que representam um urso e uma garota a vagar, por ai, juntos como pão e manteiga, ou dois típicos irmãos que a vida trata de juntar?

    Para a autora Bianca Pinheiro, essa amizade à prova de tudo é o que a vida tem de melhor, afinal, são os nossos laços que nos tornam o que são, nos salvando, nos inspirando muitas vezes a ver com o coração em tempos que precisam tanto disso, e nos empolgando a nunca desistir de encontrar o que precisamos: uma família, uma verdade, um sonho, um afago. O primeiro volume da saga Bear, da editora Nemo, vem com uma parte gráfica caprichada aprimorando, com sua impecável qualidade estética e páginas de tamanho grande, a experiência de nos envolver com gosto nos rumos dessa aventura repleta de coadjuvantes inesquecíveis, como um Rei obsessivo por charadas em um mundo já complexo, o bastante. Sempre há pessoas para dificultarem as coisas. Como diria Dimas: ridículo. Bear conta com uma trama encantadora e muito mais significativa do que aparenta, sendo assim uma belíssima obra para toda a família. Em especial, claro, aos mais jovens que sempre veem além dos mais velhos.

    Compre: Bear – Volume 1.