Uma coisa que eu descobri com o passar do tempo é como não descartar alguma coisa devido ao tema ou gênero, digo isso porque existem pessoas que não curtem muito os temas detetivescos ou mesmo o chamado Noir. Confesso que curto muito essa estilo história sobre investigação, conspirações e suspense, e nesse sentido, Blacksad: Arctic-Nation é sensacional.
Arctic-Nation é o segundo volume da série Blacksad, dos autores Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido, em que o protagonista é um gato preto e detetive. Na verdade, isso já se trata de uma das principais características da série, os personagens são representações antropomórficas de animais, então você vai ter o delegado como um pastor alemão, o detetive como um gato, o bandido como um crocodilo e vários outros animais representados dessa maneira. Isso já confere um ar bastante interessante a história, uma vez que os tipos de animais usados muitas das vezes estão ligados a uma região ou clima específico. Neste volume, por exemplo, são utilizados muitos animais brancos pertencentes a climas frios, e essa opção tem relação direta com a trama.
A trama, aparentemente simples, é sobre o desaparecimento de uma criança que, curiosamente, apenas uma professora pareceu se importar. Sendo assim, o detetive John Blacksad se apresenta para tentar solucionar o caso comovido até com a dedicação dessa educadora. Porém, o que se apresenta como simples termina rapidamente, o que se vê é uma trama que envolve traição, sociedades secretas, relações escusas e segredos que toda pequena cidade e seus moradores possui.
Uma das coisas que acho mais interessante na série é a relação entre os títulos e as cores principais apresentadas. Arctic Nation, que destaca o branco, traz todo em enredo envolvendo a questão de um grupo de animais brancos e sua visão racista e preconceituosa da sociedade. Aliás, neste sentido, vale destacar a arte estupenda de Guarnido. O traço, cores, fluidez e até mesmo o cuidado editorial fazem com que até mesmo detalhes da arte não passem desapercebidos pelo leitor.
Outro ponto interessante é como os autores conseguem criar uma obra de ficção, mas que está claramente ligado a questões histórico-sociais. Claramente se consegue estabelecer um elo entre as relações políticas e sociais apresentadas com momentos da história norte americana, fazendo com que tudo fique mais crível, ainda que estejamos lendo uma história protagonizada por animais. Aliás, isso é digno de destaque, o clima, as revelações e os fatos ficam cada vez mais pesados, e em nenhum momento os personagens caracterizados como animais fazem com que a experiência fique prejudicada.
Um grande trabalho dos autores e uma decisão editorial mais do que acertada da editora Sesi-SP de, finalmente, publicar Blacksad integralmente no Brasil.
Compre: Blacksad – Arctic-Nation.
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Texto de autoria de Douglas Biagio Puglia.