Creepshow foi um projeto que homenageou os quadrinhos de terror dos anos 1950, especialmente aqueles publicados pela EC Comics, como Contos da Cripta. O resultado foi o lançamento simultâneo de um filme (leia nossa crítica aqui) e um quadrinho, ambos com o mesmo nome e as mesmas cinco histórias. Apesar das semelhanças, cada obra merece atenção, pois carregam algumas particularidades.
Vamos falar da história em quadrinhos, publicada recentemente no Brasil pela DarkSide Books.
A obra traz cinco histórias curtas escritas pelo mestre Stephen King, que envolve temáticas variadas, mas sempre focada no terror. E tendo em vista que a intenção era homenagear os quadrinhos de terror de época, nada melhor que trazer artistas envolvidos com o gênero. A capa ficou a cargo de Jack Kamen — já conhecido por seu trabalho como desenhista de histórias de suspense, terror e ficção científica da EC Comics —, que faz referência ao filme, pois mostra o garoto com a revista em mãos. Já as histórias ficaram sob a responsabilidade de Bernie Wrightson, com uma carreira extensa e renomada nos quadrinhos, tendo trabalhado nas principais editoras americanas, inclusive cocriando o personagem Monstro do Pântano, ao lado de Len Wein, na DC Comics. Wrightson faz um traço realista e detalhado, que remete ao estilo dos quadrinhos de época da EC. As cenas são bem construídas, e algumas delas ficarão na sua memória por muito tempo. Uma pena que ambos os artistas já se foram.
Dia dos Pais, inicia o álbum e mostra uma senhora de idade que visita o túmulo de seu genitor todos os anos na referida data. O túmulo está na propriedade da família, e esta aproveita a ocasião para se reunir. Os fatos envolvendo a morte do pai são repugnantes e o desfecho é maravilhosamente trash.
A Solitária Morte de Jordy Verrill nos apresenta um caipira que vive imaginando as situações antes que elas aconteçam. É a típica pessoa que imagina todas as possibilidades antes de tomar uma atitude, e fica sonhando acordado. Certo dia, um pequeno meteorito cai em sua propriedade, localizada na zona rural. Mas a falta de cuidado de Jordy com o material alienígena trará consequências inesperadas.
A Caixa gira em torno de uma… caixa. Na verdade, uma grande caixa de madeira encontrada pelo zelador da universidade. Nela está escrito Expedição ao Ártico (seria uma referência indireta ao conto Nas Montanhas da Loucura, de H.P. Lovecraft?), e seu conteúdo permanece um mistério até que o professor Dexter Stanley é chamado para averiguar o objeto. O que tem dentro dela?
Indo com a Maré já se inicia com alguém enterrado numa praia, apenas com a cabeça exposta. Ele implora que o tirem dali. O responsável está diante dele, e não demonstra compaixão alguma. Por que ele está enterrado? Este, provavelmente, é o conto mais George Romero da obra.
E por fim, Vingança Barata revela um sujeito que tem sérios problemas com uma infestação de baratas. Se por um lado é a história menos interessante, por outro traz aspectos visuais bacanas que reforçam o traço fantástico de Wrightson, onde a enorme quantidade de baratas causa sentimentos de repulsa.
Interessante notar que o som tem um papel importante em vários seguimentos, onde as onomatopeias fluem pela arte sequencial, causando um efeito narrativo bem legal, uma espécie de agonia, com o som repetindo de novo e de novo enquanto as coisas acontecem. Quando o som é bem usado em uma mídia sem som, nota-se a qualidade dos artistas envolvidos.
Vale dizer que a obra se aproxima mais do “terrir” do que do terror, como acontecia com diversas publicações do gênero. O próprio narrador, exclusivo da versão em quadrinhos, deixa bem claro que a obra não se leva a sério ao se dirigir ao leitor, em uma quebra da quarta parede e utilizar uma linguagem sarcástica e bem humorada ao comentar os acontecimentos de cada uma das cinco histórias. Os diálogos dos personagens também optam pela linguagem coloquial, cheio de gírias e palavras propositalmente erradas para caracterizar alguns personagens (por exemplo, o zelador chamar o professor de “dotor”). Tudo isso gera uma atmosfera mais descontraída à obra.
Em suma, um quadrinho que não vai te aterrorizar, mas sim divertir. Algumas cenas são perturbadoras, sim, e ficarão cravadas na memória, mas nada que irá te traumatizar. Tudo isso, aliada à excelente qualidade do material (capa dura com verniz localizado, tamanho grande, boa impressão e papel grosso) fazem de Creepshow um belo lançamento da DarkSide. Recomendado aos fãs de histórias pulp de terror e o cinema trash e, claro, a todos que gostaram da versão cinematográfica dirigida pelo mestre George Romero ou são fãs de Stephen King e Bernie Wrightson.
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