Quando cortam nossas asas, quem nos dá o direito de cortar as asas do próximo? Redirecionar nossas frustrações é algo que aprendemos desde muito cedo, e Culpa, décima primeira edição da coleção Ugrito, trata de simbolizar isso entre dois irmãos, e um pai que não sabe reconhecer o talento do filho mais velho. A culpa aqui parece ser transmitida de pai para filho, quase como um fardo. Um sentimento de reprovação muito forte que pode gerar efeitos eternos, e claro, revela seu caráter tóxico quando se é espalhado em uma família no mais banal dos dias.
Nos traços bastante expressivos e na sensibilidade latente da quadrinista Cristina Eiko (Quadrinhos A2, Penadinho – Vida), observamos que não há nada mais gostoso que observar crianças escolhendo o que serão quando crescer. Entre robôs e dinossauros, possíveis astronautas e artistas, a inspiração não tem fim até ser esmagada pela mão fria do adulto que destrói a vontade do menino ser um paleontólogo, já que “você está muito velho para sonhar”! O que nos deixa tão cruel ao longo dos anos para não permitir o voo dos outros, talvez, a alturas mais altas do que jamais poderíamos alcançar?
Cada um tem sua resposta, sua trajetória e seus traumas, mas Culpa é de fato sobre os impactos psicológicos que o desencorajamento paternal causa, em qualquer um. Altamente reflexiva, a obra com pouco mais de 15 páginas revela um dos piores lados da infância: o despertar para o primeiro desafio que pode botar tudo a perder para uma criança, e apagar a chama que existe em corações tão puros, e ainda despreparados para lidar com as falhas dos nossos pais. Eles não são perfeitos, mas nossos sonhos talvez sejam. Se vale a pena lutar por eles, encorajar os dos outros é tão valioso quanto.
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