Certos temas precisam de uma certa sutileza na abordagem, tamanho o impacto que podem causar em algumas pessoas. Talvez um dos principais seja o suícidio, afinal, tirar a própria vida – por qualquer que seja o motivo – é algo assustador, que deixa qualquer pessoa próxima do suicida traumatizada e perplexa. Sem entrar em méritos de julgamentos de certo ou errado, Beto Skubs, Rafael de Latorre e Marcelo Maiolo criaram seu álbum de estreia para falar um pouco sobre tudo isso.
Fade Out: Suícidio sem Dor nos apresenta Kurt, um jovem cheio de conflitos internos sobre sua vida e que queria colocar um fim em tudo se suicidando. Como Kurt (Cobain??) mesmo diz “…Eu queria terminar tudo. Sei lá por quê. Mas era isso. Acho que eu só não tinha mais vontade de estar vivo.”
Kurt nunca se sentiu como um excluído da sociedade, não sofria de bullying e nem tinha uma mãe problemática. O ponto forte de Fade Out é justamente esse: mesmo utilizando um tema tão pouco abordado, os autores não se rendem a clichês do “jovem abandonado” pela família e pela sociedade, pelo contrário. Kurt é um cara sociável, tem namoradas, um ótimo relacionamento com a mãe, algo que por si só já não se enquadraria nos padrões de justificativas de algumas pessoas.
Outro ponto interessante de Fade Out é sua narrativa. Logo na primeira página sabemos que o protagonista está chegando ao seu funesto momento, só não sabemos o que ocorreu para culminar naquilo, e isso é a parte mais interessante da história: acompanhar a trajetória do personagem até seu fatídico momento – mas, é claro, com ótimas surpresas pelo caminho.
É importante ressaltar que o álbum não traz uma história depressiva sobre suicídio. Ele passa pelo tema e vai mais longe, sem falar que a narrativa é extremamente dinâmica, funcionando muitíssimo bem em uma adaptação para o cinema – aliás, Fade Out nasceu como um roteiro de cinema de Beto Skubs, que mais tarde foi transposto para os quadrinhos com a ajuda de Rafael De Latorre e Marcelo Maiolo.
Os traços de De Latorre são de uma sutileza que se harmoniza com o roteiro de Skubs. Ao tratar de um tema “cabeludo” com esse, De Latorre tem um trabalho gráfico extremamente suave, que, por sua vez, combina perfeitamente com a paleta de cores de Maiolo: ele tinha tudo para utilizar cores que remetem a algo depressivo e triste, mas, pelo contrário, as cores dão um tom alegre e onírico à obra. Um trabalho de coesão perfeito entre os três artistas.
Minha única crítica à hq é quanto ao uso de nomes de personagens em inglês. Não tenho nada contra isso, para mim ficaram claras as inúmeras influências à cultura pop que os autores colocam na história, mas isso acabou me tirando do foco em alguns momentos; talvez saber que a HQ era nacional tenha sido um fator primordial para me desambientar. Mas enfim, apenas encheção de saco de quem vos escreve.
Fade Out – Suicídio sem Dor é um trabalho independente desses três autores que, acima de tudo, diz muito com pouco, sem precisar cair em dramalhões, já que a principal discussão levantada é a importância da vida, o desejo de ser útil e o valor da vida.