Imagine se o Batman fosse um assassino psicótico ao invés do herói que conhecemos. Uma mistura de Coringa, Charada e Bruce Wayne. Imaginou? Pois é esse exercício que Mark Millar propõe em Nêmesis, saga bem bacana mas que infelizmente ficou no meio do caminho de seu potencial.
Lançada entre maio e dezembro de 2010 nos EUA, e em 2013 no Brasil pela Panini Comics, a saga idealizada pelo autor de Kick-Ass, O Procurado e Superman: Entre a Foice e o Martelo, narra a história de Nêmesis, um bilionário altamente treinado que viaja pelo mundo provocando o caos, simplesmente para poder derrotar o maior policial da cidade onde ele se encontra. Após aniquilar o mais brilhante policial de Tóquio e provocar mortes e destruição na cidade, Nêmesis parte para Washington com o intuito de eliminar Blake Morrow, considerado o homem de ouro da força policial dos Estados Unidos. A partir daí, o que se segue é um jogo de gato e rato que vai deixar um número absurdo de vítimas pelo caminho até um desfecho que deixa um gosto agridoce na boca do leitor.
A história tem uma influência muito grande dos quadrinhos dos anos 90, onde o que importava era porradaria e destruição em larga escala, enquanto que o desenvolvimento dos roteiros ficava um tanto de lado. Millar tenta imprimir urgência na narrativa, porém isso faz com que tudo soe apressado e superficial. Ainda que existam grandes momentos na obra, algumas situações que poderiam ser sensacionais ficam mal desenvolvidas. A invasão ao avião presidencial, Air Force One, é o maior exemplo: se inicia de forma espetacular e acaba de forma apressada. Seria ótimo ver Nêmesis derrotando um a um os seguranças do presidente dos Estados Unidos dentro do avião, mas o roteirista tira esse prazer do leitor optando por uma solução mais simples que apesar de muito boa, não possui tanto impacto quanto poderia.
Outro problema diz respeito ao desenvolvimento dos personagens. Enquanto o vilão protagonista é desenvolvido de forma competente, Blake Morrow fica um tanto de escanteio na história, prejudicando a empatia do leitor. Outro fator são os plot twists. Em um primeiro momento, as reviravoltas parecem ótimas, mas numa reanálise elas passam a impressão de que o autor subestima a inteligência do leitor, tamanho o absurdo proposto.
Os desenhos de Steve McNiven tem uma aparência muito grande de storyboards. Algumas splash pages são muito boas, porém a arte fica parecendo suja e apressada no final. Falta polimento. Em alguns momentos fiquei com a impressão que a obra foi concebida com o único intuito de ser adaptada para os cinemas ou para a TV, um fato que acontecerá em breve já que a Netflix comprou os direitos da obra.
Ainda que irregular, Nêmesis é uma obra divertida e que vale ser lida devido ao conceito proposto pelo autor. Ah, e não adianta tentar fazer o contrário: a torcida pelo sádico e alucinado vilão protagonista é inevitável.
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