Dentro da nova e ousada empreitada da DC Comics de reavivar os personagens da linha de Sandman, criada por Neil Gaiman entre o fim dos anos 1980 e início dos anos 1990, um velho conhecido surge em um título próprio. Trata-se do Capiroto em pessoa, o mau e velho Lúcifer Estrela da Manhã, que estreia um título mensal escrito por Dan Watters, autor conhecido por trabalhar em séries de mistério como O Sombra. As primeiras edições da série mensal foram lançadas por aqui pela Editora Panini em um encadernado reunindo seus seis números iniciais, sob o título O Universo de Sandman: Lúcifer – A infernal comédia. Essa edição de capa cartonada é a última da série que ainda carrega a marca DC/Vertigo na capa, pois as outras revistas do mesmo universo lançadas logo depois vieram com o novo selo DC Black Label.
Com o relativo sucesso da série televisiva de Lúcifer, essa edição pode ser uma boa porta de entrada para leitores iniciantes, embora o capeta aqui seja um tanto quanto diferente do interpretado por Tom Ellis na televisão. Lúcifer aqui é um velho fraco e sem memórias, preso em um vilarejo no meio de lugar nenhum, com delírios de grandeza. Uma boa sacada, pois nos faz imaginar o que teria acontecido com o anjo caído para que ficasse em tão deplorável situação. Paralelamente, temos a história do detetive John Decker, que tem lidar com a perda da esposa enferma e acaba caindo no meio de uma conspiração de demônios em um asilo.
A história tem um ritmo frenético, vários personagens nos são apresentados em pouquíssimo tempo, mas aos poucos ela vai se ajustando e começamos a entender o que está se passando. Lúcifer, com seu corpo praticamente se decompondo a cada momento, vai desenterrando (literalmente) os esqueletos de seu passado. Uma ou outra dica já tinha sido nos dada na história inicial de O Sonhar – que se repete nessa edição, assim como nas outras duas revista da linha – e confirmamos a principal aqui: Lúcifer tem um filho abandonado, chamado Calibã. A história desse filho, de sua mãe e de como ele foi concebido é uma das melhores partes do livro.
A arte de Max Fiumara e Sebastian Fiumara torna a revista ainda mais imersiva no contexto infernal da história, chegando a realmente assustar em momentos mais introspectivos do personagem John Decker ou no horror bestial dos demônios quando necessário, e a paleta de cores utilizada dá o exato tom que o roteirista quer nos passar. A história é realmente surpreendente, e deixa um gancho no final para que o leitor não se aguente mais em esperar a próxima edição (spoiler: o retorno de Lúcifer acaba provocando a ira dos Céus!).
A infernal comédia é um ótimo título de terror pra quem quer começar a ler os quadrinhos adultos da DC, além de apresentar personagens novos juntos com velhos conhecidos, e ainda faz parte de algo maior, uma história contada por várias mãos em séries diferentes da editora.