Releituras de obras literárias clássicas não são algo novo, muito tem se realizado nesse sentido ao longo do tempo, não apenas na literatura, mas também em outras mídias, como acontece com o premiado álbum do francês Régis Loisel, em Peter Pan, clássico de sir J.M. Barrie, que chega ao seu desfecho no terceiro volume da série lançada pela Nemo.
Assim como nos volumes anteriores (leia nossa resenha de Peter Pan – Volume Um e Peter Pan – Volume Dois), o autor continua a recriação o universo clássico do garoto que não queria crescer e os ambientes e personagens que orbitam à sua volta, como também inova ao desenvolver narrativas paralelas que criam um conectivo entre a história de Peter e a Londres do século XIX, como fica claro pela inserção do famoso assassino, Jack, o estripador.
As liberdades utilizadas por Loisel não soam gratuitas ou desnecessárias, pelo contrário, sempre procurando se pautar pelo argumento adulto e sombrio dado a graphic novel, o autor deixa margem para interpretações, além de sedimentar posição firme sobre cada um de nós e a dubiedade existente, expurgando o moralismo barato e o maniqueísmo de sua obra.
Se anteriormente nosso protagonista se tornava uma figura por vezes desagradável e irresponsável, neste último volume o autor consegue desconstruir sua imagem. Parte disso, graças, principalmente, ao continuar o desenvolvimento da importância da figura materna para Peter como também justificar o que provoca a ausência desse carinho materno na personagem.
Podemos dizer que a importância do seio materno para o autor são um dos cernes deste último volume, já que além de Peter, essa trama também se desenvolve na figura de Rosie, a órfã que simboliza a como mãe à todos os garotos perdidos e algumas criaturas da Terra do Nunca.
A arte estupenda se contrapõe entre a sombria e suja Londres e a vívida Terra do Nunca, que ao lado do roteiro demonstra que nem tudo está ao alcance dos olhos como se parece. Esses ares sombrios e cruéis podem se dar mesmo numa ilha edênica onde o tempo não passa, todavia o esquecimento é uma força descomunal aos seus habitantes, como também na dura e fria Londres, onde a preservação da inocência ainda se mantém para uma parte da sociedade.
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