De Edgar Vasques, Rango 1 compila algumas historias do personagem titulo publicadas no jornal Folha da Manhã e diversas outras revistas como Pasquim. Este volume 1, lançado em um tempo longínquo pela L&PM editores possui prefácio de Érico Veríssimo, que adjetiva muito bem as historias do personagem, descrevendo-o como um anti-herói que vive em condições paupérrimas e que se nutre de humor ácido já que comida é algo que falta bastante tanto para si, como para seu filho.
Cada página possui duas tirinhas. O espírito presente mira a vida de um sujeito sem esperanças, bastante pragmático e muito pobre. Ele tem a companhia do seu já citado filho, além de eventualmente falar com o estrangeiro Chaco e Baba, um sujeito que está sempre bêbado.
As conversas envolvem problemas universais como a fome, desemprego e pessoas em situação de rua, com um humor ácido e bastante político. A maioria delas é bem espirituosa, toca em feridas, critica principalmente as pessoas mais abastadas e o modo com a burguesia lida com as pessoas em situação de rua e/ou mendicância.
Rango hoje pode ser considerado como uma obra que trata de questões óbvias, mas em sua época, 1974, não era. Sobram criticas ao capitalismo, concentração de renda, busca por lucro acima de tudo, industrialização e mostra como armas dos pobres a esperança das crianças, o cinismo dos pais e até a bebedeira para ludibriar a fome.
Em algumas tiras não há como ficar incólume, há uma de cortar o coração, em que o menino diz que raspou o prato, quando está sentado em cima de uma lixeira vazia. Embora a publicação não seja exatamente engraçada, afinal trata de situações bem pesadas, Rango tem muito peso, e aborda uma época do Brasil que se imaginava superada ao menos em grandes cidades, e se torna ainda mais grave por retratar uma realidade que em confins do país ainda se alastra e que também voltou a ser flagrante em metrópoles como Rio de Janeiro, São Paulo e outras grande cidades, piorada a situação ainda mais em épocas de pandemia.