Há uma certa genialidade no tipo de oportunismo bem empregado, e bem-sucedido. Nisso, o autor Jeffrey Brown fez juntar a criação de George Lucas com Harry Potter e uma pitada (generosa) dos famosos livros de O Diário de Um Banana, e o resultado não poderia ser mais gracioso, simbólico e solene. Lucas criou na década de setenta o ícone máximo da cultura pop, cultura essa que vive de personagens, hype e muita comercialização. Engana-se quem acredita que a Marvel detém o trono.
A saga interestelar dos Skywalker, Darth Vader e cia. é a pura essência e o mais icônico expoente da sapiência popular fictícia, e o livro ilustrado Star Wars: Academia Jedi usa desse privilégio único da maneira mais jocosa possível, além de contar com o espírito das lendas cósmicas originais e nos fazer lembrar, em vários momentos, porque crescemos amando essa grande estória. Porém, vale lembrar que a publicação da editora Aleph não é de modo algum canônica, acontecendo a parte de todas as trilogias galácticas da Lucasfilm, e os seus spin-offs centrados no passado.
Star Wars: Academia Jedi acontece quase num universo paralelo as clássicas aventuras sob o comando de George Lucas e J.J. Abrams, mantendo boa parte dos mesmos personagens, uma verdadeira iconografia intrínseca ao imaginário popular da humanidade – junto do logotipo da Coca-Cola, e a cruz católica. Assim, o livro de Brown toma certas liberdades criativas interessantes e inócuas a toda a mitologia já estabelecida e revisitada nos filmes clássicos e mais recentes da Disney, resgatando e evidenciando o poder da magia de uma ficção que ultrapassa gerações.
E, pela primeira vez, o garoto que nos guia pela história não é um Skywalker, e sim Roan Novachez, um menino comum que não descende de grandes linhagens. Um escolhido, propriamente dito, que recebe o convite de estudar em Hog… ops, numa academia de treinamento para futuros Jedis, chefiada por Yoda, numa mistura bem-humorada de Dumbledore com o Mestre dos Magos, para crianças que não sabem nem manejar um sabre de luz direito, e, honestamente, não têm a mínima ideia do que estão fazendo ali.
Eles só querem brincar, ser bons o bastante para si mesmos, seus colegas, para seus mestres, e, é claro, depois de um ano se superando individual e coletivamente num ambiente divertido, e desafiador, não voltar para casa. A Academia, assim como Hogwarts nas histórias de J.K. Rowling, vira-lhes um lar, uma segunda (ou primeira) casa, devido aos triunfos que os jovens Jedis conseguem obter, ao longo de semestres de muito esforço, e muito aprendizado – como o almejado domínio do uso da Força.
Para os fãs, o livro é como um passeio ensolarado no parque. Tal um exemplar de autoajuda visto pelas lentes da fantasia, Brown construiu em 2015 (junto ao cataclísmico sucesso de O Despertar da Força, que contou com uma das melhores companhas de marketing da história do Cinema) um best-seller do The New York Times ao narrar a força de vontade de um guri, enfrentando lições, alegrias e adversidades de todos os tipos. Convivendo com a diversidade de raças numa escola mista, ele aprende que querer não é poder, se não usarmos nossa “força” de um jeito certo.
Com desenhos espirituosos, carismáticos e feitos sob medida para serem copiados por garotos que adoram desenhar em seus cadernos escolares, Academia Jedi nos apresenta um outro lado da guerra nas estrelas, num cenário sem conflitos, tirando os que cada um trava consigo mesmo durante o crescimento. Longe de ser moralista, Brown é ciente do poder das mensagens embutidas nas aventuras de Roan e seus amiguinhos, desfazendo e reatando amizades, enquanto tentam não tirar nota três nos exames. O autor, assim, afirma que o lado infantil de uma história não precisa ser bobo, despretensioso, inofensivo, e garante o fascínio mitológico de Star Wars entre os pequenos sem perder o ar da graça, ou o fôlego, ao longo de uma leitura deliciosa.
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