Ao lado de Homem-Aranha, o mutante Wolverine é um dos personagens mais queridos, rentáveis e explorados pela Marvel Comics. Sempre que necessário, um desses heróis aparece em outras histórias – mesmo com aparição mínima – e figura em capas de mensais, além de suas próprias edições. Consequentemente, são personagens que ganham releituras variadas.
Durante muito tempo, parte da origem do carcaju era desconhecida e lacunar. A saga Origens tentou apresentá-la com tempos imemoriais da personagem e, desde então, roteiristas ainda exploram seu passado e os diversos acontecimentos pelos quais Logan submeteu-se na vida.
Boa parte do sucesso de Wolverine como personagem advém de sua personalidade briguenta, resultando em um estilo propício para muitas cenas de luta e ação. O fato é que o público gosta de ver o baixinho dilacerando pessoas enquanto tenta descobrir o que faz de melhor, uma frase representativa do alto grau de desconhecimento interno. A procura incessante por ação faz com que muitas histórias fechadas sobre o herói sejam monotemáticas.
Logan pode apresentar uma evolução natural em suas revistas mensais, solo ou ao lado dos X-Men mas, normalmente, em histórias recriando períodos ou nas edições especiais, o mote permanece o mesmo: o passado, o fracasso, a perda e a violência como fantasmas que assombram o canadense. Como o público sempre deseja Wolverine em cenas de ação e violência, a personagem ganhou uma série no selo MAX da Marvel, permitindo que a censura para adultos promovesse um ápice sem limites. Lançado pela Panini em 2013, Fúria Permanente reúne as cinco primeiras histórias de quinze edições lançadas de Wolverine MAX.
Mais uma vez, a origem do personagem é apresentada ao público. Wolverine é o narrador desta história em que procura sua identidade após ser o único sobrevivente de um acidente de avião no Japão. Ao tentar juntar as peças para descobrir quem é, a trama retrocede no tempo apresentando pequenas lacunas de seu passado, revelando sua participação como mercenário em um Japão antigo, a paixão por Mariko e as desavenças eternas com Victor Creed, o Dentes-de-Sabre.
A base da história é a mesma vista tanta vezes anteriormente, surgindo um paradoxo interessante: será que o público leitor gostar de ler sempre a mesma história envolvendo o carcaju? Assim como em Wolverine: Logan de Brian K. Vaugh e Eduardo Risso, ou em Wolverine – O Melhor no que Faz nº 1 de Charles Huston e Juan Jose Ryp, a história gira em torno do passado e da violência em um mesmo estilo narrativo, sem mudança de tom, como se não houvesse maneira de inovar dentro da história do personagem, algo que demonstra que seu carisma não é proporcional à qualidade das tramas.
Os traços de Roland Boschi e Connor Willumsen são o ponto alto da história. Passado e presente ganham traços distintos e as cores são trabalhadas em contraste com cores quentes, remetendo ao passado e presente, e à frieza de Tóquio com maiores sombras e paletas escuras.
Apesar de estar no selo MAX, não há tanta violência gráfica nessa história. A abordagem pode frustrar alguns leitores que procuram cenas de ação explícitas, como no exagerado Wolverine Melhor No Que Faz ou na descartável, porém divertidíssima, história com Dominó chamada X – Force: Sexo e Violência – publicada no país em Grandes Heróis Marvel nº4 (out/11) e 5 (dez/11) –, essa sim sabendo fazer uso explícito dos temas identificados no título da história.
Um bom personagem conhecido como Wolverine não pode viver apenas na lembrança do público e no fator cool, sendo necessárias boas histórias que o apresentem. Como as histórias de linhas às vezes necessitam de cronologias anteriores ou estão situadas em longas sagas, são estas edições especiais que muitas vezes chamam a atenção de um público não leitor com esperanças de ler uma história com começo, meio e fim. Porém, há mais histórias a serem contadas além do batido passado atribulado de Logan e da busca por sua identidade.