Lançado pela Panini Comics com atraso nas terras brasileiras, com cinco volumes ainda não disponíveis (Superman: Earth One – Volume 3, Batman: Earth One – Volume 2 e Teen Titans: Earth One – Volume 1, Teen Titans: Earth One – Volume 2 e este Wonder Woman: Earth One), a série Terra Um, da Dc Comics, desenvolveu-se como um novo multiverso do estúdio, focado na reinvenção de personagens icônicos com uma equipe de autores renomados em sua concepção em um formato direto para encadernados.
Grant Morrison se alinha com outros grandes nomes como J. Michael Straczynski, Geoff Johns e Jeff Lemire, responsáveis pelas recriações lançadas até o momento, valendo-se do sucesso de seu currículo como mais um atrativo ao leitor, recompondo em Wonder Woman: Earth One uma nova leitura de Mulher-Maravilha. O escocês insano que sempre demonstrou apreço pela tradição das histórias em quadrinhos e pelo resgate de personagens obscuros ou acontecimentos antigos – e quase desconsiderados – traz a tona aspectos da origem da heroína que, estrategicamente, foram esquecidos pelo tempo.
Mesmo que William Moulton Marston, criador da personagem, tenha desenvolvido-a com o apoio de suas esposas, as quais apoiavam a filosofia feminista, muita das cenas de ação da época colocavam Diana em posição dominada, com excesso de correntes e outros adereços que evidenciavam como o público-padrão ainda era leitores masculinos em sua maioria. Sob esta ótica, retomar esta vertente de maneira explícita é proposital para causar um choque no leitor contemporâneo.
O roteirista permeia a conhecida origem da personagem através destes extremismos, configurando tanto a dominação quanto uma sexualização exagerada das Amazonas nos belos traços de Yanick Paquette. A dinâmica entre a sagrada Themiscyra se mantém a mesma, bem como o encontro com Steve Trevor. Porém, o personagem mudou de etnia, movimento realizado para ampliar o conflito e desenvolver uma mensagem sobre escravidão e liberdade, simbolo histórico das Amazonas quando se livram do julgo de outros povos rumo a cidade sagrada em contraposição a escravidão de africanos trazidos para a América.
Se grande parte das modificações parecem propositadas para causar choque ou estabelecer uma espécie de crítica que, ao mesmo tempo, demonstra a força da personagem mas não consegue evitar sua sexualização – ainda mais porque ainda não sabemos, ao certo, como isto será situado no futuro deste universo – há uma grande mudança em um dos aspectos da origem da deusa, que, para aqueles leitores que não desejam saber, devem evitar os parágrafos seguintes.
Logo no início da trama, há um flashback de Hipólita em uma batalha contra Hércules. Afinal, na conhecida saga grego-romana dos Doze Trabalhos de Hércules, uma de suas tarefas foi roubar o cinturão mágico da rainha. Neste cenário de batalha, o semi-deus subjuga Hipólita e a estupra, e Diana é a criança que nasce dessa violação. Uma visão bem mais realista e triste do que aquela da deusa vinda do barro. Porém, fator que justifica porque Diana seria treinada como uma guerreira: para destruir o patriarcado, em parte, pela violência sofrida pela rainha.
Evitando recontar a história de Diana apenas modificando detalhes, mesmo com críticas a favor e contra, Grant Morrison produz uma interessante história ainda que, como os primeiros volumes das histórias anteriores, ainda não apresenta um desenvolvimento sólido, justificando como tais elementos serão inseridos no futuro. Interessante, porém, imaginar como esse futuro universo será criado e se as personagens se encontrarão em algum momento, formando uma Liga da Justiça, principalmente porque os grandes heróis da Trindade ainda parecem tão vacilantes. Superman demora para assumir seu manto heroico, Batman é treinado por um mordomo militar sem nenhum senso emocional e os Novos Titãs são produtos de experiências genéticas. Aspectos diferentes e, de certa maneira, ousados diante dos conceitos originais de seus personagens.
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