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  • Crítica | Mulheres Alteradas

    Crítica | Mulheres Alteradas

    Comedia focada em elenco e em um público feminino, Mulheres Alteradas de Luis Pinheiro tem como mote fazer comédia com a vida de mulheres normais, quatro delas, Keka (Deborah Secco), Marinati (Alessandra Negrini), Leandra (Maria Casadevall) e Sônia (Monica Iozzi) que tem em comum a insatisfação com as suas rotinas, cada uma delas tendo os seus próprios problemas.

    A linha do tempo do filme é variante, passado, futuro e presente se misturam e aos poucos cada uma das mulheres são mostradas com seus problemas, com uma cansada de muito trabalhar, outra com problemas de relação com seu par, outra com crise de meia idade por estar solteira e sem ninguém e outra irritada por não conseguir lidar com a sua maternidade. Aos poucos, cada uma delas muda de paradigma, na mesma noite.

    Nesse ponto se nota a quantidade de clichês e estereótipos que o roteiro de Caco Galhardo imprime. Nesse ponto o script não faz jus a HQ de Maitena Burundarena. Marinati por exemplo fica a boba alegre, basicamente por que saiu uma vez com um homem desconhecido, e perde completamente o controle de suas ações, assim como Keka não se resolve com seu marido e insiste em uma relação que já deu muitas provas de que não dará certo. Nem na hora de sair de seus círculos viciosos as mulheres conseguem, na verdade, só substituem esses por outros quadros ainda mais patéticos.

    Em determinado ponto o filme parece que vai perverter esses estereótipos, mostrando o sonho que eram mirados nos homens simplesmente ruir, uma vez que eles aparentemente não são seres confiáveis, mas a promessa pára por aí. Mulheres Alteradas não sabe definir sua própria identidade, é uma comédia com alguns pontos engraçados, mas não muitos, fala sobre romance mas não é exatamente adocicado, ainda mais no final e tem bons pontos na direção de Pinheiro como a utilização de cores gritantes mas que ficam jogados no filme, junto a tantas outras boas ideias, basicamente para tentar emular um show de humor desconstruído mas que não cumpre sequer essa promessa.

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  • Crítica | Beduíno

    Crítica | Beduíno

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    Júlio Bressane é um diretor cujo cinema dialoga demais com o hermético e utópico, através da poesia em narrativa cinematográfica que vez por outra funciona e em outras, soa pretensiosa. O Beduíno fica no limbo, servindo de comentário metalinguístico sobre a existência e feitoria da arte, fazendo uma ode ao ostracismo de conteúdo de discussão.

    Apesar desse limbo em que se insere o atual filme do diretor, é um bocado complicado ficar indiferente com a filmografia experimentalista do cineasta. Nesse episódio, Bressane se utiliza de dois atores experientes, Fernando Eiras e Alessandra Negrini, tentando através do trabalho de ambos soar reflexivo, se valendo da absoluta e total entrega do diminuto e talentoso elenco.

    Negrini funciona como musa do diretor, mais uma vez, como havia sido em Cleópatra e Erva do Rato. Esse aspecto é constante na carreira do diretor, tornando até a exposição da nudez da bela atriz em algo não gratuito e sim bastante íntimo. O formato narrativo em esquetes faz sentido normativo ao final, ao de revelar a realidade tangente do filme, além de conter referências a metafísica.

    O script do filme que tem apenas 75 minutos de duração se vale de situações limite, demonstração de violência, fantasias sexuais e de estudo de alma e intimidade humana, passando por desejos comuns como luxúria, volúpia e liberação de libido, bem como os mais execráveis como descontrole homicida, misantropia e misoginia.

    A trabalho de arte ministrado por Moa Batsow é bastante esmerado, mostrando que quando o produtor se dedica a sua função de origem há muito mais espaço para brilhar, ao contrário do visto quando foi diretor em A Origem do Mundo. O fato de ser um longa metragem episódico ajuda a ambientar o público na questão da hiper exploração de metalinguagem, que por mais que não tenha discussões muito elaboradas politicamente, ainda reverencia o progresso e o livre pensar, aspecto fortificado pela multiplicidade de maneiras de filmar a sua história. Bressane apresenta um filme de linguagem alternativa, que funciona na maior parte dos momentos.

  • Crítica | 2 Coelhos

    Crítica | 2 Coelhos

    O estreante Afonso Poyart cria uma narrativa inédita no cinema brasileiro, vomitando uma série de referências à cultura pop, aos quadrinhos (a apresentação de seus personagens é um bom exemplo), games (uso de computação gráfica simulando jogos como GTA) e o próprio visual nos remete a alguns diretores do cinema norte-americano, como Zacky Snyder, além de uma narrativa visivelmente influenciada por grandes mestres como Quentin Tarantino. Contudo, essas referências servem apenas como elementos no universo apresentado pelo cineasta. As influências existem, mas em nenhum momento a identidade da nossa cultura é perdida.

    2 Coelhos conta a história de Edgar, que passa seus dias ou vendo filmes pornográficos em seu computador ou jogando videogame em sua TV. Seus planos como jovem adulto não deram certo e agora ele elabora um plano complexo em que visa resolver dois problemas simultaneamente ao concretizá-lo. No decorrer do filme, descobrimos a ligação do protagonista com Walter (Caco Ciocler) e Julia (Alessandra Negrini).

    Com uma estrutura narrativa não-linear e intervenções gráficas para explicar alguns trechos da história, 2 Coelhos é mais do que competente. Apesar do excesso visual, o que acabamos vendo é algo autêntico. O roteiro do próprio Poyart fala de temas recorrentes no cinema brasileiro, como corrupção e violência, com um ar de filme noir. Edgar é um personagem dúbio, com narração em off, Alessandra Negrini é a femme fatale, e que lugar melhor para ambientar uma história do gênero do que na cinzenta cidade de São Paulo.

    Assim como em Tropa de Elite, a trama expõe um Brasil corrupto, com leis que beneficiam os favorecidos e prejudicam aqueles que realmente precisam dela. Contudo, o filme não tem a pretensão de colocar o dedo na ferida e escancarar as mazelas sociais do povo brasileiro e nem de ir à fundo na corrupção. Até porque não é esse o objetivo do longa. O filme é uma forma de desabafo, mas mais do que isso, 2 Coelhos quer mais é brincar com o tema de forma ácida do que fazer um filme-denúncia.

    A direção e fotografia são mais do que competentes, mas pecam pelo excesso, porém é algo que é facilmente relevado levando em conta que este é o primeiro filme do diretor, além do que, a forma como o roteiro se encaixa com o desenvolvimento da trama faz com que esqueçamos isso. Destaco a cena de tiroteio que ocorre na praça Roosevelt, em São Paulo, digna de filmes policiais norte-americanos com grande orçamento.

    O elenco tem seus problemas e acertos. Fernando Alves Pinto se sai muito bem como protagonista, é um personagem que sabe o que quer. Alessandra Negrini (sempre linda) parece não se firmar na sua personagem e em alguns momentos parece ligada no piloto automático. O mesmo não pode se dizer de Caco Ciocler que praticamente não tem diálogos durante o filme e ainda assim rouba a cena, tudo isso apenas com expressões corporais. Roberto Marchese interpreta o deputado Jader e coloca todo o cinismo necessário para tornar crível algumas ações do mesmo. Por último, mas não menos importante, Marat Descartes é Maicom, um vilão que não mede esforços para alcançar seus objetivos, uma pena que sua personagem exagere na “canalhice”.

    2 Coelhos é um filme que cresce cena-a-cena e até o final da trama se consolida como algo que vai muito além do visual. O cinema brasileiro agradece.