Crítica | Turistas (2012)
O cinema britânico vem nos dando algumas ótimas comédias no últimos anos, principalmente aquelas encabeçadas pela dupla Edgar Wright e Simon Pegg. Apesar de ambos não serem os responsáveis diretos por Os Turistas (Sightseers), Wright é o produto deste longa, o que pode ser considerado um indicativo de um mínimo de qualidade.
O diretor Ben Wheatley foge dos estereótipos clássicos, e cria outros um pouco fora do comum, ao retratar um casal de ingleses em uma viagem pelo interior do país a fim de conhecerem paisagens e lugares pitorescos da Inglaterra. Chris (Steve Oram) é o novo namorado de Tina (Alice Lowe). Ele quer levá-la nessa viagem e compartilhar suas experiências com ela, que é dominada por uma mãe ciumenta e possessiva em um nível doentio, que passa de uma gentileza a ofensa em segundos, causando desconfortos até no espectador.
O longa se inicia na preparação da viagem, e podemos conhecer um pouco da personalidade de cada um, além do cotidiano da vida de pessoas simples da Inglaterra. Porém, um simples evento que parece acidente, transforma toda a narrativa do filme, que passa de um simples road movie a uma escalada de violência de Chris, que descobrimos ser um serial killer. Para nossa surpresa, o medo de rejeição de Tina a faz aceitar, abraçar e até compartilhar e tomar gosto das mortes de Chris conforme a viagem avança, tudo para agradar ao namorado.
E a partir daí o filme adota um tom de uma comédia de humor negro ácida e seca, com doses às vezes exageradas de violência gráfica contrastando com situações bobas e inusitadas, bem ao estilo comedido inglês. Acostumados como estamos ao cinema policial norte-americano, o fato de os dois assassinos sempre escaparem ilesos e sem deixar pistas dos assassinatos causa estranheza, mas ao mesmo tempo é feito com um realismo que convence, pois sabemos que na vida real o trabalho policial é mais difícil do que seriados como CSI nos mostra.
Os problemas começam quando Tina sente ciúmes de Chris e mata uma mulher sem os cuidados necessários, o que faz a polícia obter uma descrição de ambos. E aí podemos ver Chris justificar suas mortes: Ele só executa quem, de alguma forma, merece, como todo serial killer pensa fazer, enquanto ela matou por puro capricho. Isolados e fugindo da polícia, o casal pensa ter se encontrado e se entendido de tal forma que sugerem um pacto, e o final do filme nos mostra a evolução de Tina, que de uma personagem totalmente submissa e controlada, passa a ser a dominadora em uma relação doentia, nos fazendo perguntar a partir de que ponto ela deixou de ser dominada por Chris e passou a controlá-lo.
Apesar de não garantir gargalhadas espalhafatosas, Os Turistas é um bom filme, que às vezes se perde em estabelecer o tom ou em abusar dos recursos gráficos para demonstrar a violência dos assassinos, porém, consegue manter o ritmo e diverte o espectador.
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Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.