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  • Resenha | Diabolik – Volume 2

    Resenha | Diabolik – Volume 2

    “Se tentou o mesmo truque, desta vez não vai funcionar!”

    Além de ser um personagem fascinante, Diabolik é uma criação boa demais para viver no anonimato fora da Itália. Publicado recentemente no Brasil pela Editora 85, Diabolik – Volume 1, cujo financiamento coletivo para o projeto rendeu volumes de pura exuberância gráfica, o cuidado nacional para com os quadrinhos deste anti-herói europeu, a maior ameaça de Clerville, é evidente. Assim, toda a mitologia policial e de mistério foi preservada em português, em um preto-e-branco tão charmoso quanto as próprias narrativas trágicas de crime, romance e aventura, muito bem elaboradas pela dupla Ângela e Luciana Giussani – “nos sentimos mais biógrafas, que criadoras.”, como elas mesmas afirmam, em busca do realismo e da veracidade dos seus roteiros.

    Agora, temos histórias eletrizantes e que tornam-no mais humano, menos infalível apesar de sua mente absurda, capaz de feitos incríveis para alcançar um bracelete escondido a sete chaves, ou uma retaliação mortal a quem tentar lhe matar. Em Tudo de Novo, um roubo dá totalmente errado, e Diabolik é perseguido mais do que nunca para pagar (com juros) por seus feitos. A frase “Há sempre um peixe maior” nunca foi tão verdadeira assim e é difícil para o leitor não acompanhar com um fôlego só as estripulias de Diabolik para salvar sua pele – o crime não compensa, e parece que agora ele vai aprender isso. A mesma coisa se diz de Sob Assédio, sobre um golpe de reprodução de notas de dinheiro que Eva e Diabolik estão monitorando de perto, mas sob um grande perigo.

    Mas eles não estão sozinhos nessa, já que outra mestre dos disfarces está atrás desta ‘riqueza infinita’, e parece estar levando a melhor, em um conto de armadilhas e ciladas deliciosamente imprevisível. E para complicar ainda mais, em Com a Morte no Corpo, o título já sugere o que vem para o casal de pilantras. Ao entrarem escondidos na festa de uma condessa, em um belíssimo castelo em Clerville, ambos são envenenados misteriosamente e transformados em armas biológicas para fins ainda mais obscuros. Com a vida por um fio, eles não tem tempo para chorar, e começam a investigar um tratamento e as causas desse atentado, pois diante da morte, a vingança é o combustível para suas ações. Alguém tem que pagar por isso.

    Só que há honra entre ladrões, se depender de Diabolik. Na ótima Um dos Três, o mascarado negro planeja invadir uma mansão e roubar um colar de esmeraldas para o aniversário de Eva. Mas alguém passa na sua frente e rapta a joia, matando a filha de um grande empresário que testemunha o roubo. Nisso, Diabolik começa a ser perseguido por um crime que não cometeu. Enquanto também há “inocentes” pagando por isso, e nem mesmo ele, o homem que nenhum alarme detecta, pode deixar que essa injustiça aconteça. Eis a história mais divertida e bem arquitetada deste Volume 2, uma vez que as outras parecem se complicar um pouco mais que o necessário. No geral, um ótimo livro, ideal para os amantes de ficção criminal.

  • Resenha | Diabolik – Volume 1

    Resenha | Diabolik – Volume 1

    O Brasil vem sendo privilegiado em seus lançamentos editoriais. Afinal, não é todo dia que temos um Diabolik primorosamente traduzido, e publicado em uma edição caprichada a fim de apresentar o clássico personagem italiano para uma nova geração do outro lado do atlântico. Sendo que aqui o que impera é Turma da Mônica e super-heróis, é sempre bom termos acesso a figuras que fogem dessa infantilidade colorida, tão generalizada na América (digo, o continente). A Editora 85 nos transporta em 4 histórias de suspense direto para a essência dos quadrinhos policiais de Diabolik. Puro noir, puro Bogart, e nisso, nos mostra um anti-herói misterioso e traidor, que vive dos seus roubos aos ricos e de proteger sua amada (e parceira) Eva Kant dos lobos em seu caminho.

    E é claro que, às vezes, é ela quem o salva, já que nenhum plano é perfeito. Diabolik é ladrão astuto, espécie de Robin Hood italiano cujo faro para joias e ouro é afiado. Especialista em invadir mansões e arrombar cofres (de forma imperceptível), ele e Eva se gabam por nunca serem pegos pela polícia da cidade de Clerville, mesmo vivendo na cola do inspetor Ginko, o único oficial que chega perto do criminoso escondido num cativeiro – planejando seus próximos golpes. É nessa briga de gato e rato que mini romances policiais se desenrolam, numa clara homenagem de Ângela e Luciana Giussani ao gênero literário tão popularizado por Agatha Christie e cia. desde 2015 na Itália. Num quarteto de histórias reunidos neste volume 1, Diabolik mostra-se mais um Batman sem moral do que um Zorro moderno. Ou seja, um estrategista genial que mata só em último caso, mas que não evita assaltar bancos e viver com Eva do seu lucro.

    Sombras de metalinguagem faz-se presente em Escrito no Sangue, quando a morte de uma escritora de livros policiais envolve o anti-herói numa narrativa de vingança e reviravoltas muito inspiradas, para fazer qualquer leitor não desgrudar dos seus mistérios. Assim também é em Obrigado a Matar, a história mais divertida deste volume 1 em que para resgatar Eva das garras de um poderoso criminoso europeu, Diabolik se vê obrigado a fazer três serviços no submundo dos mafiosos italianos em troca da vida da única pessoa que o “homem dos mil disfarces” se importa. Na dramático Por Poucas Horas, temos um homem e sua amante tramando um roubo de joias de sua mulher, uma grande escultora, sem saber que Diabolik e Eva também estão (muito) de olho nas pedras preciosas da artista. Finalmente, O Bracelete Perdido assume de vez o lado investigativo dessas histórias, num conto em que o casal do crime expõe, de forma definitiva, a mente criminosa que usam para um roubo mirabolante, e cheio de camadas. Onze Homens e Um Segredo, versão a dois.