Resenha | ZDM: Terra de Ninguém – Volume 1
Brian Wood se juntou ao desenhista Riccardo Burchielli, que o ajudou a construir a atmosfera de ZDM: Terra de Ninguém, uma história que surpreende pela junção de fatores tão diferentes, mas que funcionam dentro da trama. O drama tem como ponto de partida os Estados Unidos tendo que enfrentar a negligência às suas próprias fronteiras, onde milícias dominaram o mapa e se auto-instituíram como outro tipo de estado, chamado de Estados Livres.
Os livres são conhecidos por cometerem ataques em condições inesperadas, ao menos é assim que boa parte da imprensa dos EUA se refere a eles. A realidade é revelada aqui de um modo violento e visceral e não há muita introdução de personagens neste primeiro volume, as pessoas que habitam aquele cenário são homens e mulheres comuns que basicamente vivem na zona de guerra e tentam não morrer. O que mais se aproxima de um protagonista é o enviado dos EUA, Matheus Matty Roth, um iniciante que tenta registrar o sofrimento dos refugiados, fotografando os mutilados pelos bombardeios como seu primeiro exercício de investigação, e essas cenas em especial são bastante chocantes. Matty é mostrado em condições precárias, não só de sobrevivência mas de trabalho, ele é tido apenas como o assistente de um dos magnatas/aristocratas que vivem acima dessa realidade.
As cenas que Burchielli desenha dão uma beleza e grafismo ímpar para os horrores causados guerra, e a posição política de Matty acaba sendo próxima da neutralidade pois mesmo prestando serviços e tendo origem nos Estados Unidos, as pessoas que o ajudam a viver são dos Estados Livres, e permanecer incólume diante de tanta tristeza é praticamente impossível. No entanto, é o instinto de sobrevivência que prevalece em seu pensamento, ao quase ser atingido por fogo amigo, por militares que incursaram em território hostil. Antes de sofrer a humilhação de ter que se despir diante das armas, ele chora, por pensar que poderia morrer, e mesmo que isso possa parecer egoísmo, é uma boa forma de retratar o que habita o imaginário das pessoas em situação tão extrema.
Os quadrinhos mostram um ambiente frágil, sob vigilância de adversários que não hesitam sequer em matar famílias civis sob o pretexto de estarem fazendo seu trabalho, sob ordens de alguém poderoso. Terra de Ninguém termina de maneira crua, mostrando a terra arrasada que a ilha de Manhattan se tornou. Após isso, é mostrado o Central Park tomado de neve, com o inverno a situação muda um pouco, mas sem deixar de lado os cenários desolados. A partir desse momento, nas historias mais curtas se notam arcos mais isolados, com outros personagens periféricos, sempre com Matty em foco, registrando tudo com sua câmera e isso faz enriquecer a ideia que Wood tenta passar ao leitor.
A estrutura é interessante, o sentido de chocar nas primeiras histórias, para só depois mostrar situações mais episódicas é uma alternativa inteligente, onde claramente ainda se tem muitos problemas para lidar mas ainda assim existe uma taxa de normalidade, onde as pessoas vivem para evocar a capacidade de adaptação do homem. Denunciar todos esses males prossegue sendo um exercício hercúleo. No entanto, mesmo nessa ideia de normalidade existe uma denúncia forte à precariedade em que as pessoas vivem, sem mantimentos, algumas canibalizando os recursos de seus vizinhos. A sobrevivência supera o senso de comunidade, a exposição do quanto o homem pode pensar somente em auto-preservação em momentos de crise, como costuma acontecer nesse tipo de distopia.
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