Review | Super Campeões Road to 2002
O anime baseado no texto de Yōichi Takahashi é a terceira versão de Captain Tsubasa, chamada de Road to 2002. Na trama, conhecemos Oliver, um jogador japonês que joga pelo Brancos, time tradicional do Brasil. Obviamente que a historia não começa assim, e sim no passado do rapaz, em especial no sei primeiro dia no clube Nankatsu. Apesar de bastante novo, ele terá que jogar, já que um dos rapazes não pôde comparecer. Já no piloto, eles jogarão com o time Shutetsu, do “lendário” goleiro Benje (ou Benji) Wakabaiashi.
O clássico é disputado com ambos os times de branco, fato que a Fifa proíbe, e eles comemoram o fato de levar somente três gols, e também comemoram um quase gol de Oliver. As regras básicas do esporte não se encaixam aqui, ou isso, ou o Nankatsu é extremamente vanguardista, uma vez que não há posição guardada por eles, como na Laranja Mecânica, do holandês Johan Cruijff, além disso, a tática deles é muito parecida com a do Brasil em 2014, uma vez que eles basicamente passam a bola para Oliver resolver, assim como a seleção canarinho passa para Neymar. O grupo consegue fazer o gol, ganhando assim uma aposta com Benje, podendo enfim ter aquele campo para treinar.
Após isso, aparece um homem misterioso, um brasileiro que tem um talento extraordinário com a bola nos pés, mas que demonstra essa habilidade como se fosse um artista marcial dos desenhos shonen, mais parecendo um personagem de Yu Yu Hakusho ou Cavaleiros do Zodiaco. Roberto Hongo (ou Maravilha, como na tradução antiga) tem uma construção de personagem interessante. Seu passado é trágico, ele sempre foi aficionado pelo esporte e perdeu sua mãe de forma muito precoce. Dali se estabelecem suas prioridades e também seu talento, além de contar os motivos que o levam ao Japão – um problema em sua retina e a busca por tratamento, que infelizmente não dá certo. Ele decide interromper de vez sua carreira como jogador por enxergar um novo futuro como treinador dos meninos, e levando em conta sua visão turva e quase nula, ainda consegue achar em Oliver uma boa possibilidade de futuro, talvez ludibriado por seu problema em não enxergar.
Roberto mostra a bicicleta para os meninos, e eles enxergam esse lance como se fosse uma manobra igual a outro golpe poderoso. Isso faz com que os outros aspectos soem risíveis. Ora, Roco não consegue enxergar bem para jogar, mas tem visão para treinar um time de futebol? Por que os meninos do mesmo time usam camisas de cor diferente, em atenção ao primeiro ter sido disputado por dois times com camisas quase idênticas? Esse tipo de questionamento se faz perceber pelo fato do mangá ter sido desenvolvido durante os anos oitenta, onde o futebol não era tão bem desenvolvido no Japão, tais situações cabiam, mas ao contrário de Captain Tsubasa J, essa tenciona ser mais realista que as versões anteriores, piorando demais pelo argumento dos fãs do anime que costumam defende-lo dizendo ser uma série caracterizada por movimentos de futebol dinâmicos contidos em ações fantasiosas, mas essa fórmula em muitos momentos se perde, em especial por querer conversar demais com a realidade.
Estudar os adversários, perceber as condições adversas de uma partida, tudo isso não importa para os torcedores mais fervorosos – em especial a jovem Sanai – pois eles tem Oliver, que é suficiente para vencer qualquer retranca, ao menos no pensamento dela. Essa empáfia não é compartilhada sequer pelo treinador de Benje, que destaca que ele precisa aprender a ser humilde. Qualquer regra desportiva não se aplica aqui, mesmo o campeonato pequeno local em Nankatsu termina empatado entre os times Oliver e de Benje, sem disputa de pênaltis ou prorrogação. Basicamente, para disputar um campeonato maior, juntaram-se os dois clubes mostrados de início.
Há o acréscimo de Carlos, um rapaz japonês que tem um nome estranho pra sua nacionalidade (invenção da outra dublagem, que permaneceu nessa versão, seu nome original é Taro, como o Oliver era Ozora) e ele conhece vários jogadores, por conta da natureza do trabalho de seu pai. Ele conversa telepaticamente bem com Oliver, aliás, é o primeiro a conseguir acertar uma jogada com ele. Carlos conhece Kojiro Hyuga, um rapaz talentoso, e que dá chutes violentos contra o gol, seu time faz um esquema que só ataca, em uma tática de muita agressão e total desequilíbrio esportivo.
Sem sequer fazer exames para saber sobre a estranha lesão que sofre, Benji já determina que ficará fora de boa parte do campeonato nacional ao ser atingido em um jogo com o seu time de colegiais. Fatos como esse seriam muito comuns, e fazem perguntar porque os espectadores prosseguem assistindo o anime que pretende ter um tom mais sério que o outro remake. Kojiro é tão preciosista que ao invés de chutar para um gol vazio, acerta no rosto do goleiro que substitui Benji, só para lhe causar medo, e esse é o legado da lesão do guarda-redes, uma substituição por um sujeito covarde que se deixa levar por uma pequena pressão.
Há a exploração de outros atletas muito novos, como o cardíaco Mizuki (ou Misugi) que é chamado de jogador de vidro, e Wakashimazu rival de Benji que joga no Meyva e constrói com ele uma estranha relação de rivalidade e fraternidade. Depois do décimo primeiro episódio, há um êxodo dos jogadores do Nankatsu, com Tsubasa finalmente indo ao Brasil, Benji para a Alemanha e outros desistindo de jogar. Mas isso não importa, pois a seleção do Japão jogará um campeonato sub 16, e ela será comandada por Misugi, o mesmo garoto que episódios antes quase morreu em campo, por conta de um problema de coração. Impressionantemente ele está na comissão técnica, e ajuda a montar o time titular.
Após a final, cada um dos personagens tem um destino. Oliver vai para o Brasil – o que soa estranho, já que a seleção brasileira nem foi mencionada no tal mundial – e os garotos voltam a jogar por seus colégios, o que é uma saída bem anti-climática para os outros. Por conta de questões ligadas a direitos autorais, mudaram nome de alguns jogadores e dos times. No Brasil, Oliver jogaria pelo São Paulo, que aqui chama Brancos, assim como o Domingo é o Flamengo, que não possui as cores do time rubro negro. Lá, joga Carlos Santana, o homem que é chamado de filho do deus do futebol. Seu pano de fundo é fantasioso e mal construído por ser extremamente genérico.
Passam quatro anos, entre um amistoso da seleção principal, contra a Holanda e o mundial ganho pelo Japão. O misterioso olheiro/observador Kataguiri decide convocar quase integralmente os campeões dos juniores, incluindo os que estão na J League. Jogadores como Ishizaki e Urabe não estariam convocados, se quem tivesse o poder de escolha fossem os outros membros da comissão.
O outro protagonista, introduzido em Super Campeões J também aparece aqui. Shingo Aoi foi para a Itália enganado por um oportunista que roubou seu dinheiro, fingindo que teria um teste de futebol. Ele ganha a vida como engraxate e malabarista. Ele passa a jogar pela segunda divisão do Calcio e logo chega a concentração da seleção japonesa. Essa transição é extremamente rápida, e quando ele chega, é ofuscado por uma crise de ego de Wakashimazu que não aceita ser reserva de Benji.
A necessidade de colocar o patrocínio da Adidas esbarra no bom gosto. A bola da Copa de 2002 claramente não tem a mesma textura do resto dos gráficos, de modo que o logo fica parado no frame enquanto a bola rola normalmente. Super Campeões Road to 2002 termina um pouco melhor que as versões anteriores, seus gráficos são melhores, mas ainda assim é fantasioso num nível absurdo, e não termina seu arco, já que o 52º episódio mostra o início de uma partida contra o Brasil, em Yokohama. Do outro lado há Roberto de treinador, e as conversas mentais ocorrem novamente, da maneira mais louca possível, e quando o árbitro apita, o desenho congela, com os jogadores rumando na direção do campo adversário, e isso também havia ocorrido no primeiro remake, que também termina antes de uma decisão. Tudo bem que Captain Tsubasa fala sobre sonhos, mas o mangá dá prosseguimento a essa história. A sensação do espectador é de enganação total e incômodo muito graças a pressa que o roteiro tem em resolver a maior parte de suas problemáticas, abreviando a maior parte da aproximação que deveria existir entre os personagens e o seu público.