Crítica | O Homem Que Elas Amavam Demais
A adaptação de uma história verídica para o cinema nunca é simples, e tudo fica complexo ainda mais quando não há uma conclusão absoluta para tal história. Porém, nada impediu o diretor André Téchiné na produção de O Homem Que Elas Amavam Demais, drama francês baseado no caso real da família Le Roux, imperatriz dos jogos de azar no sul da França.
A trama parte da cidade de Nice, em 1976, quando Agnes Le Roux (Adele Haenel), após o fim de seu casamento, decide retomar sua vida como herdeira ao lado de sua mãe, Renée (Catherine Deneuve), mas também visando a herança deixada por seu pai. Porém, devido a má administração de seu principal cassino, a matriarca se vê sem meios de suprir a filha. Completa o trio principal o advogado Maurice Agnalet (Guillaume Canet), um dos únicos aliados de Renée em meio a oposição de seus sócios e empregados.
Quando Agnalet tem seus planos de ascensão frustrados por Renée, ele volta suas atenções para a filha de sua cliente. Mesmo casado e já com uma amante, eles iniciam uma relação amorosa que encontra seu ápice em 1977, quando a jovem desapareceu. O corpo nunca foi encontrado. Agnes havia tentado o suicídio pouco antes de sumir, e se sentia culpada por trair a mãe, após uma transação com Maurice envolvendo a máfia, para afastá-la dos negócios, tudo documentado nas gravações telefônicas do advogado e nas cartas trocadas entre ele e a garota, que nada provaram. O caso foi arrastado por mais de 30 anos (que infectam parte do filme), e ficou conhecido como Affaire Le Roux.
Quem conhece o cinema de André Téchiné sabe que sua preocupação é maior com a construção de seus personagens do que com o desenvolvimento da história em si, e isso se repete aqui, mas não de forma satisfatória. Apesar da atuação empolada de Catherine Deneuve, quase como uma coadjuvante de luxo, Canet, apesar de esforçado, não se aprofunda no caráter duvidoso de Agnalet, e Hanel se mostra incapaz de trabalhar as nuances de sua personagem, dando um tom artificial e pasteurizado às suas transições de estado, indo do enérgico ao frágil sem degrau algum.
A narrativa, dividida em camadas, em nada lembra o diretor seguro, mágico e consistente dos anteriores Rosas Selvagens e Tempos que Mudam. Toda a verborragia derramada no início do filme, com uma sequência – ou uma série delas – mal costurada para a introdução da história, dá lugar a um dramalhão que beira o clichê fácil da trama tribunal.
No fim, O Homem Que Elas Amavam Demais parece ter elementos demais e, mesmo que alguns estejam bem acertados (como a belíssima fotografia), falta uma concatenação que os dê algum sentido maior. Possui uma série de méritos isolados, mas que em conjunto fica devendo, seja como registro histórico ou como cinema quanto suas intenções autorais.
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Texto de autoria de Matheus Mota.