Crítica | O Lado Bom Da Vida
No brasileiro Lisbela e o Prisioneiro, a mocinha interpretada por Débora Falabella, entusiasta de histórias românticas no cinema, faz uma afirmação que determina os princípios deste estilo de narrativa. Diz ela que normalmente o desenlace é previsível, importando a maneira como a história é conduzida.
Em breves linhas, uma história de amor sustenta-se em dois possíveis finais: o viveram felizes para sempre, a maneira cinematográfica de demonstrar que a história deu certo; ou a desilusão amorosa que comumente ainda é otimista, visando uma recuperação breve da personagem.
Talvez a simplicidade narrativa deixe mais aparente a sensação de repetição em diversas tramas semelhantes. Ainda é cedo para afirmar, mas observo uma nova tendência na narrativa americana de romance, inserindo uma história além da composição amorosa para aprofundar a carga dramática. Motivo pelo qual não tive empatia por Procura-se Um Amigo Para o Fim do Mundo, que, apesar do fundo de destruição mundial, não passa de uma história de duas personagens à procura de preencher seu vazio existencial.
Em O Lado Bom da Vida, Pat e Tiffany são duas personagens que tentam se reintegrar à sociedade. Pat esteve oito meses em uma clínica psiquiátrica após flagrar sua esposa com um amante. Tiffany sofre a perda do marido com um pequeno colapso que a fez se entregar para diversos homens tentando preencher sua tristeza.
A intenção da trama é apresentar duas personagens com cisões internas e de frágil psicologia que, por um passado problemático em comum, se aproximam. Mas, além de desenvolver este pano de fundo, não há a intenção de utilizá-lo como carga dramática no interior da história para que o público compreenda como é trabalhosa e difícil a recuperação de uma crise de nervos e de outros problemas psicológicos.
Tem-se a impressão de que, em diversos momentos, as próprias personagens se esquecem dos infortúnios de seu passado. Como se tais artifícios estivessem presentes somente para mascarar a falta de criatividade ou justificar algumas ações exageradas em uma narrativa que o público sabe como termina.
Pela fragilidade de tais elementos, a trama recorre a personagens secundárias para se sustentar, espaço preenchido pela família de Pat, com um Robert De Niro fanático por esportes e apostador profissional. É este o núcleo que sustenta parte da história até o início da inevitável aproximação amorosa.
Bradley Cooper e Jennifer Lawrence trabalham bem em seus papéis de demonstrar talento para sustentar uma produção. Mas focam a sensibilidade emotiva somente para o romance visto em cena, parecendo-nos evidente que o passado psicológico é funcional somente para gastar tempo em cena, como uma ponta solta que, se cortada, daria mais força ao romance, que trabalha de maneira ineficaz um argumento potencialmente bom.
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