Resenha | Star Wars: Estrelas Perdidas – Claudia Gray
Durante a época pré lançamento de Star Wars: O Despertar da Força, muitos livros foram lançados, licenciados pela Disney, com o selo Jornada Para o Despertar da Força. Esses, causavam um alvoroço tremendo, por aparentemente contarem a historia que se passou pós O Retorno de Jedi até o famigerado Episódio 7, mas a maioria enganava demais nesse sentido, contando pouco ou praticamente nada após esses eventos. Pois bem, Estrelas Perdidas é uma das exceções a regra acima citada, é um romance lançado no Brasil pela Editora Seguinte e traz uma historia juvenil, para o famigerado público Young Adult, com uma historia de amor melosa e que leva em conta o cenário de fundo de Guerra nas Estrelas.
Claudia Gray é uma escritora gabaritada. Do novo Universo Expandido canônico, seu livro Legado de Sangue é bem elogiado, por mostrar a Senadora Leia Organa tentando lidar com a chamada Nova República. Aqui, são apresentados dois personagens de Jelucan, ainda crianças. Thane Kyrrel e Ciena Ree vivem nesse planeta na orla exterior, um lugar que a República mal assistia e que o recém empossado Império dá uma certa atenção. Neste ponto mora uma das riquezas da literatura, ao mostrar que o poderio imperial autoritário dava mais atenção a planetas distantes de Coruscant do que o antigo regime democrático.
Aqui, a oposição ao Império é praticamente inexiste, e muitos exemplos disso são dados. Thane e Ciena ingressam na Academia Imperial com direito até a participação de um personagem clássico. Isso é curioso, pois a historia dos dois se confunde com o passado do governador e moff, tema esse o centro da historia de Tarkin de James Lusceno, que explora um pouco do passado interiorano do servo fiel do Império e antigo líder militar da República.
Quanto a narrativa, não há muito o que reclamar, Gray escreve bem e ao menos no início o desenrolar de fatos é bem divertido. Mostra-se bem os bastidores e não demora a apresentar personagens clássicos, aliás contando com tantas aparições que soa forçado as vezes. O problema é da metade para o fim, enquanto os eventos de Uma Nova Esperança ocorrem, não se desata tanto o enlace sentimental dos protagonistas, mas após isso, quanto se aproxima o período de O Império Contra Ataca tudo fica meloso e enfadonho demais.
A tradução do livro fica a cabo de Fabio Fernandes, o mesmo que fez um bom trabalho com o livro Legends Kenobi. Não fosse a boa adaptação de termos, ficaria ainda mais difícil terminar a leitura desse. Enquanto não perde tempo desenvolvendo um romance que pouco importa para quem é fã da trilogia clássica, detalhes burocráticos são expostos, como o quão curta é a carreira militar, com apenas três anos de treino acadêmico e uma carreira militar de meia década.
Entre prólogo e capitulo 1 passam-se cinco anos, e Thane já é claramente apaixonado por Ciena, e isso é um pouco dado. O desenrolar desse apego é descrito pouco depois, e a evolução mostrada ano a ano faz entendiar. O foco narrativo é o sentimentalismo tacanho e barato, aludindo vez ou outra para o vasto universo criado por George Lucas, mas sempre deixando este em segundo plano. Ao menos, não se demora a discutir a política da galaxia, e a argumentar que do ponto de vista dos alistados, o Império pôs ordem e honestidade na galáxia enquanto o senado da antiga república era, ao menos no que se fala e repercute, composto por muitos alvos desonestos.
Há aparições legais, como a Tantine IV, nave de Leia que lança R2 e C3PO para Tatooine, conversas com Mon Mothma (momento esse bem vergonhoso), Mesmo participações como a do Almirante Ackbar são banalizadas, pois cada bom momento desses personagens clássicos rivaliza com dois ou três momentos adocicados, como se o casal, que já é uma espécie de Romeu e Julieta do espaço, fosse uma espécie de Forrest Gump duplicado em uma Space Opera.
A questão mais positiva do livro, é o detalhamento sobre o treinamento dos imperiais e sua rotina de perseguição aos rebeldes. Tanto Ciena quanto Thane parecem mesmo estar na elite entre os pilotos que passaram para a academia, mas mesmo essa boa urdição dá lugar um melodrama desnecessário, que só valoriza o quanto os dois personagens se enxergam como almas gêmeas.
Quando Ciena vê o Imperador ela se assusta com sua aparência, achando ele grotesco, ao contrario das imagens veiculadas de Palpatine publicamente. Os hologramas do líder imperial eram falsos, e isso dá uma boa dimensão dos meandros e ardis da política de Star Wars, não tão distante do que se vê em países emergentes ou desenvolvido na Terra atual.
Claramente Estrelas Perdidas só funciona como boa introdução para o leitor ávido por romances água com açúcar, exceção talvez ao se final, que vislumbra um pouco da organização dos resquícios do Império e como eles combatiam a República e mais tarde, a Resistência, inclusive aludindo a batalha de Jakku, mas ainda assim, se reduz até esse confronto a algo pessoal e hiper emotivo, o que é uma pena, pois mesmo sem ter um final feliz, o livro precisa lançar mão dos clichês impostos por seu formato literário, e pouco acrescenta para quem quer saber das tramas principais que envolvem a galáxia de Star Wars.
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