Crítica | A Ascensão de Hitler: Os Filmes Coloridos
A Ascensão de Hitler: Os Filmes Coloridos é um especial, que resgata documentos e filmagens em preto e branco sobre a ascensão de Adolf Hitler na Alemanha, e as colore digitalmente obviamente. O período de estudo vai do pós Primeira Guerra Mundial até se tornar a figura mais celebre do Partido Nacional Socialista e figura máxima do governo do III Reich. O filme consegue ser didático e até professoral ao traçar a linha de vida de Adolf, focando até em sua infância e adolescência, quando aos 19 anos, após a morte de sua mãe, resolveu morar em Viena, a capital de seu país.
O trabalho de restauração das imagens impressiona, realmente se percebe como era o dia a dia do Império Austro-Hungaro em meio ao final do século XIX. Com o avanço da produção, e apesar da narração um pouco invasiva, toda o retrato do que seria a 2ª Guerra Mundial e a ascensão da Alemanha como país potência durante essa época é muito bem documentada e explicitada,tendo realmente um espírito até meio escolar.
Por mais que o ideal do estudo seja exemplificar até para iniciantes e pessoas que não são profundas conhecedoras dos meandros da história, sobre o conflito que correu o fim da década de 1930 e início dos anos quarenta, há também a lamentação pela ascensão de Hitler, igualando-a a Benito Mussolini, o soberano italiano que era o símbolo do pensamento fascista governamental. O que se registra é que havia o receio que ele fosse um Mussolini germânico e isso não só se cumpriu como o próprio conseguiu até mais feitos que o futuro aliado fascista. Hoje é fácil associar nazismo e fascismo como partes do mesmo espectro político, mas já houve duvida, em especial na época, e essa pequena parte serve muito bem para desmontar a tola ideia revisionista que corre a internet nos últimos anos, tanto de igualar Socialismo e Nazismo, quando dizer que o segundo é de esquerda.
O especial é dirigido por Isabelle Clarke, e narrado em inglês por Doug Rand com comentários escritos por Daniel Costelle e seu intuito de traçar um panorama social, econômico e ideológico dos nazistas alemães acerta em cheio, em especial quando trata da ojeriza de Hitler e dos seus em relação aos comunistas, e no capitalismo fortalecido pelo Estado.
Pouco antes do final da primeira parte do documentário (que contém dois capítulos), são mostradas fotos de um ensaio em que Hitler está de bermuda e com as pernas a mostra, com meiões que visavam tornar ele mais palatável junto a parte feminina da população. A tentativa era de humanizar o mito que agora era presidente de uma nação tradicional. Entre os ensaios, é mostrado também um no estúdio de Haus Hoffman, onde inspirado pela música de Richard Wagner, ele fez fotos mais imponentes, tentando de fato parecer mítico.
A megalomania dos nazistas era visual e vaidosa também, claramente, e isso é melhor explorado no segundo capítulo, onde fala um pouco da figura da cineasta e atriz Leni Riefenstahl, inclusive associando a figura da mesma a uma possibilidade de affair amoroso com o Fuhrer. Nesse ponto, se destaca os dotes da cineasta e a forma como ela glamourizou o regime do III Reich. Por mais que seja muito mais uma peça televisiva que cinematográfica, A Ascensão de Hitler: Os Filmes Coloridos tem um importante papel de discutir assuntos que são erradamente esquecidos, e relembra os motivos que fizeram a sociedade civil supostamente preocupada com o bem estar do próximo aderir ao pensamento totalitário de Hitler e seus asseclas, e não há qualquer receio em deflagar a hipocrisia vigente nesse meio conservador.
https://www.youtube.com/watch?v=ct8MZY9ZtJY