Resenha | Nathan Never: Inferno
Nessa segunda edição, que ocorre cronologicamente após a primeira, mostrando que a Editora Mythos pretendia editar o título na ordem em que foi lançado originalmente, a história do Agente Alfa tem uma pegada um pouco diferente do clima noir do primeiro volume. Há um viés mais político, com crítica social embutida de forma muito interessante no roteiro, o que demonstra todo o dinamismo dos roteiristas e das histórias de Nathan Never.
Em Inferno, Never está no encalço de Hans Schneider, um rapaz que luta pela afirmação dos direitos dos “Mutados”. Após um assalto, Schneider foge para os subterrâneos da cidade e o agente parte atrás dele. Porém, Hans recebeu abrigo do padre Homero. Entram em cena os mercenários do comandante Edwards, que estão à procura de Schneider com o propósito de receber a recompensa que o influente político Franz Hoenzoller prometeu por sua cabeça e cabe ao herói combater essa ameaça e também se manter vivo no hostil ambiente subterrâneo.
Quando eu disse que há uma crítica social no texto, não era mentira. A luta dos Mutados pela afirmação de seus direitos faz referência à vários movimentos de minorias discriminadas ao longo do tempo. Os seres modificados do universo de Never batalham por direitos iguais. O assalto perpetrado por Hans Schneider em conjunto com um mutante é o estopim para uma onda de ódio e preconceito, fomentada por uma imprensa sensacionalista que atribui uma escalada de violência aos seres subterrâneos e por um candidato a prefeito incendiário e preconceituoso que toma isso como bandeira para fazer sua campanha. Apesar de ser uma história de 1992, o antagonista Franz Hoenzoller está muito próximo alguns políticos estúpidos e belicistas que surgiram no cenário nacional ultimamente, ainda que a referência usada na época tenham sido o apartheid.
No concernente ao desenvolvimento da história, o roteiro ágil de Bepi Vigna e as ilustrações da Dante Bastianone casam muito bem. A forma como a história se desenvolve me remeteu ao clássico filme Warriors, dirigido por Walter Hill, com o protagonista quase sempre em movimento. O ritmo é frenético, porém não é apressado, com as soluções da trama acontecendo de forma fluida. Os Mutados também remetem aos Morlocks, os mutantes renegados do universo dos X-Men. Na introdução da edição, é falado que A Divina Comédia, de Dante Alighieri também serve como inspiração para a história, o que realmente ocorre, visto que quando mais se aprofunda nos subterrâneos, mais Nathan Never presencia a degradação. Porém, no caso dessa história, a descida ao submundo vai retratando a degradação da sociedade. Em resumo, Inferno é mais uma grande história desse ótimo personagem e de seu intrigante universo.
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