Crítica | Meu Passado Me Condena 2
Como era de se esperar, a nova aventura de Miá e Fábio ocorre no exterior, como aconteceu com as sequências de Até Que A Sorte nos Separe, Qualquer Gato Vira Lata e De Pernas Por Ar, instaurando a tradição de Roberto Santucci para os produtos da Globo Filmes. O filme de Julia Rezende apresenta uma sobriedade maior que citados anteriormente, mas nada tão distante em termos de qualidade. Em Meu Passado me Condena 2, Miá Mello e Fábio Porchat convivem em crise conjugal, vivendo o cotidiano na mesmice com as típicas reclamações de quem está em um relacionamento fracassado, à beira de um iminente divórcio.
A aventura começa na morte da avó de Fábio, obrigando o inquieto par a ir para Portugal para se despedir da falecida, além de reunir a possibilidade de um recomeço para ambos. As coincidências da história anterior prosseguem ao encontrarem Wilson e Suzana, interpretados novamente por Marcelo Valle e Inez Viana, agora donos da funerária. Enquanto tais reencontros são naturais, o excessivo tempo em que o casal central está junto se agrava ainda mais pelo conflito entre cariocas e paulistanos. Somado as brigas corriqueiras, é notável a paixão menor do casal.
Em cena, Porchat tem uma presença cômica muito marcante, explorando essencialmente seus próprios erros e dificuldades em se enquadrar no mundo dos adultos, quase sempre deslocado nos cenários urbanos e também rurais. O velho conflito de interesses esbarra no passado do rapaz, piorando com o flerte com Ritinha (Mafalda Pinto), antiga namorada e moradora da região, prometida a Álvaro (Ricardo Pereira). O conjunto de entreveros causa mais problemas matrimoniais.
Os dois se entregam ao inevitável estigma do fracasso na relação, aceitando de bom grado as tentações que lhe parecem óbvias. Existe um estranho louvor as relações fracassadas, variando estre essa paradigma e alívio cômico com piadas físicas, com Porchat fazendo as vezes de Jerry Lewis, ao tentar esconder suas indiscrições sexuais e desventuras de infidelidade.
A cafonice típica das comédias românticas está presente no desenrolar destas aventuras amorosas, produzindo diversas redenções e desculpas para traições e casos amorosos que escondem um machismo velado, apesar de algumas reviravoltas contradizerem esta posição. De qualquer maneira, há uma forte carga de culpa designada a mulher, como se o inferno da rotina fosse exclusivamente ligado ao comportamento feminino. O papel do homem acomodado na relação é levado como algo natural, temperado com fracas desculpas e argumentos piores, justificando a ideia de que não as relações não devem se modificar e que os pares devem prosseguir mesmo com defeitos.
Apesar de toda essa vertente frívola, Meu Passado Me Condena 2 é mais engraçado que a história anterior e muito disso se deve ao esforço descomunal de Porchat em entregar um bom personagem nesta produção que também se destaca pela boa fotografia de Dante Belluti.