Resenha | Lendas do Homem de Aço: Curt Swan – Volume 1
Curt Swan talvez seja entre os autores de quadrinhos o mais fortemente ligado ao Superman, excluindo obviamente autores que fazem a maioria das historias de seus personagens como Mike Mignola com Hellboy. Swan foi o desenhista que basicamente fundou a imagem do herói na Era de Prata, e Lendas do Homem de Aço: Curt Swan – Volume 1 encaderna algumas historias do ano 1971, com roteiro de Dennis O’Neil e arte final de Murphy Anderson, das revistas Superman 233-38, 240-42, reunindo toda uma mini saga, em nove partes, chamada A Saga do Homem de Areia (Kriptonita Nunca Mais).
Na primeira historia, os poderes do herói são descritos em uma silhueta escurecida do personagem. O tom do texto é bem primário, quase infantil, mas ainda guarda alguns elementos de maturidade, introduzidos por O’Neil, que difere bem seu texto de seus trabalhos mais sérios, no Batman e a fase do Lanterna Verde e Arqueiro Verde, cujos temas eram mais obscuros e adultos.
Nesse encadernado, Clark Kent era âncora de um jornal televisivo local, enquanto o Super-Homem, por sua vez, tem uma forma de lidar com seus inimigos bem diferente do comum, bem semelhante ao clima camp dos seriados do Batman da década anterior. É incrível como O’Neill faz uma revista tão fora de tom das suas outras obras, com um maniqueísmo bem enquadrado pelo traço de Swan, que vai ficando cada vez mais à vontade como desenhista do personagem.
As histórias têm um tom meio bobo, embora haja uma certa conspiração, com uma cópia do Super-Homem surgindo de maneira misteriosa e que se revela gradativamente. Em uma das histórias, Super lida com o Batman, e como era típico das histórias da Era de Prata, havia algo de pueril ali, mas ainda assim há reflexões, como a inveja que o alienígena tem com o seu amigo morcego por conta da sua condição humana. O Superman chega ao cúmulo de querer dormir e não conseguir devido a sua eterna vigilância proveniente de uma quase onipotência.
A composição do quadros de Swan vai aos poucos melhorando e se sofisticando ao longo da saga. A medida que a trama evolui, passa a brincar com a formação dos quadros e com a fluidez das imagens. As batalhas também vão melhorando, a ação das lutas é muito boa. As histórias têm alguns momentos mais maduros, como no final em que o herói, num balão pensativo, afirma que não teve confiança para agir, graças aos fatos passados e ao encontro com um personagem que é como uma cópia mal feita sua. O problema muito sério são os erros de português nessa edição da Panini, com uma revisão pouco acurada, repleta de erros de digitação que um olhar mais atento resolveria.
É engraçado como o nível de poderes do Super-Homem não parece tão grandioso no decorrer d’A Saga do Homem de Areia, pois na Era de Prata se dava toda sorte de poderes e novas habilidades ao personagem, ao ponto de ser quase um deus. Apesar do roteiro não ser muito desenvolvido, a arte de Swan é bem mostrada. Uma pena que até agora somente este volume foi lançado, e a colorização da época acaba por datar a edição, sendo esse possivelmente o principal fator para a que revista não tenha alcançado os números esperados pela Panini. Em tempos de largo uso de coloração digital, ver um produto cujas cores são tão saturadas realmente não é algo agradável aos olhos.
Desde a publicação original, em 2018, não há sinalização para um volume dois, o que é uma pena, pois a participação de Swan é ótima a frente do personagem, para além do clássico de Alan Moore e O Que Aconteceu com o Homem de Aço, já que ele é um dos mais longevos artistas do personagem, com uma carreira e um legado inegáveis, impressos na trajetória do kryptoniano símbolo de uma das maiores editoras de quadrinhos do mundo.
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