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  • Resenha | Oneironautas – Fábio Fernandes e Nelson de Oliveira

    Resenha | Oneironautas – Fábio Fernandes e Nelson de Oliveira

    Oneironautas (Editora Patuá), da experiente dupla Fábio Fernandes e Nelson de Oliveira é uma noveleta de ficção científica com toques de non sense que funciona muito bem como pequeno delírio compartilhado. Não por acaso, o texto foi escrito daquela forma em que um escritor escreve um capítulo, com exatamente 300 palavras, e o outro faz a continuação, com a mesma extensão, e assim cada um se desafia a continuar (e dar alguma concisão), ao todo caótico que a história vai se mostrando. Contudo, como autores experientes, a história não perde a linha, ao contrário, adquire contrastes, referências e novas possibilidades que funcionam muito bem e deixam ao leitor uma atmosfera de “cadê a continuação?”.

    Quinze capítulos e um epílogo em 78 páginas, o livro é uma leitura rápida e igualmente explosiva. Tudo começa na São Paulo de 2066, onde os oneironautas (termo grego para navegantes dos sonhos), Fábio e Nelson se encontram na Festa Eterna, entre aliens, ciborgues e híbridos, e não desejam ser encontrados por – eles mesmos. É isso. Fábio e Nelson não querem ser encontrados por suas próprias versões que habitam universos alternativos. Ou seja, a história explora a teoria das múltiplas realidades existentes para contar uma aventura surreal de homens caçados por suas próprias versões ciborgues, aliens e o que mais as referências cinematográficas e ficcionais dos autores colocarem lá.

    O notável é a capacidade de os autores se desafiarem com situações progressivamente mais irreais, complicadas e aparentemente sem solução, até que a história avança por dezenas de referências, conceitos artísticos e científicos, até o horizonte de eventos do final do livro. Um lembrete, o livro é curto, mas vale a releitura. E, sobretudo, vale a pesquisa pelos conceitos abordados. Fábio e Nelson são referências como pesquisadores e escritores de literatura brasileira. Vale procurar os outros livros dos autores.

    Texto de autoria de José Fontenele.

    Compre: Oneironautas.

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  • Resenha | Primeiros Dias do Verão Eterno – Roger Lombardi

    Resenha | Primeiros Dias do Verão Eterno – Roger Lombardi

    Primeiros Dias do Verão Eterno (Editora Patuá), do escritor paulista Roger Lombardi é um agradável livro de contos que aviva o tema do estranhamento, do fantástico, do misterioso, assuntos significativos na Literatura Brasileira (latino-americana, principalmente) e resgata nomes como Murilo Rubião, Campos de Carvalho, mas até Machado de Assis, Aluísio Azevedo, Júlia Lopes de Almeida e Bernardo Guimarães.

    Mas vamos nos ater aos vivos. O livro de Lombardi nos apresenta 8 contos reunidos pela costura do estranhamento. Efeito dos mais potentes, em Literatura, as histórias extraordinárias (para fazer um paralelo com Poe), têm o poder de nos lançar um novo olhar ou entendimento sobre uma situação aparentemente normal ou corriqueira. E o autor faz isso muito bem em seus textos. Logo no primeiro conto “A macieira”, uma árvore dada a Josué por, ele acredita, Deus, desperta toda a vaidade do homem a ponto de ele se tornar um assassino a sangue frio de quem ousa tomar aquelas maçãs.

    Em “A cadeira”, na minha opinião o melhor do livro, as pessoas ficam em estado vegetativo ao se sentar em uma aparentemente simples cadeira em estilo barroco. Lombardi cria uma atmosfera incomum que gradualmente vai conquistando a ansiedade do leitor porque o mistério do móvel parece insolúvel e mirabolante. O desenvolvimento da trama é sólido, conciso, e passaram por minha cabeça Edgar Allan Poe, H. P. Lovecraft e principalmente “Ficções”, de Jorge Luis Borges.

    Aliás, sobriedade talvez seja uma das grandes qualidades do livro. Mesmo em histórias insólitas, não se pode colocar um dragão ou outro animal fantástico sem qualquer explicação na sala de jantar. O risco é o escritor se empolgar com a figura mencionada e esquecer de contar a história por trás daquele acontecimento. Em “A carona”, por exemplo, Lombardi se utiliza da figura de um anjo, contudo, diminui sua importância para que nos esqueçamos dele ou duvidemos que seja de fato um ser celestial. O efeito funciona porque, quase ao fim do conto, com a expectativa baixa do leitor, o autor utiliza o potencial do seu personagem fantástico para criar um final impactante e não premeditado. Os desfechos são o ponto forte; as histórias terminam com o gancho de Julio Cortázar.

    Contudo, tenho que deixar claro que algumas coisas poderiam ser melhoradas. O livro conta com alguns erros de revisão que acabam funcionando como quebra-molas inesperados da leitura; outras vezes peguei alguns trechos com rima ou eco entre as frases e isso não é muito agradável tendo em vista que uma das qualidades de uma boa escrita é a variabilidade de palavras utilizadas.A impressão é que embora os textos estejam bem estruturados com começo, meio e fim, com a temática bem costurada e precisos ao atingir seu efeito, alguns contos parecem mais acabados para alcançar todo o seu potencial. “A macieira” e “O oficial”, por exemplo, me pareceram menos trabalhados que as outras histórias.

    Este é o segundo livro de Lombardi e espero que o autor continue por esta vereda. Livro indicado para leitores do insólito e para quando notamos nossa cabeça embaralhada demais com o evidente cotidiano que nos atinge. Autores e leitores do incomum, uni-vos.

    Texto de autoria de José Fontenele.

    Compre: Primeiros Dias do Verão Eterno – Roger Lombardi.

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