Crítica | O Biscoito Assassino
Tomando por base a fúria urbana, mostrada através de um perigoso assalto a uma lanchonete, e sem qualquer introdução, O Biscoito Assassino inicia-se com um fugitivo da lei chamado Millard Findlemeyer (do sempre canastrão Gary Busey), que ouve vozes do além, supostamente de sua falecida mãe. O vilão tem em sua mira uma família inteira, mas após assassinar um pai e um filho, ele opta por permitir que Sarah Leigh (Robin Sydney), a moça mais nova, viva, ignorando as ordens de sua mãe, que se comunica mentalmente com ele, como um Norman Bates mal instruído. Claro, sem que isso seja esclarecido jamais.
O aspecto paupérrimo faz a fita parecer oriunda dos anos 70, mesmo que tenha surgido em 2005. Um entregador de capuz e capa preta deixa uma caixa de papelão, cujo conteúdo é incógnito, e misteriosamente vai parar dentro do estabelecimento, o que mostra que a personagem Sarah está fadada a sofrer. Neste momento, ela surge como uma confeiteira de mão cheia, que seguiu junto a sua “pinguça” mãe Betty Leigh (Margaret Blye) em uma padaria de pequeno porte.
Nesse ínterim, percebe-se que Findlemeyer foi condenado à cadeira elétrica e, por isso, pereceu. Aliviados, os Leigh podem enfim concentrar-se em seus problemas mais flagrantes, que é o advento de uma megaestrutura, que feriria o público da panificadora, atrapalhando demais o sustento da família. É uma ode ao micro empresariado e uma crítica à globalização, mas feito nos moldes das esquetes cômicas do Chespirito, ainda que a defasagem de O Biscoito Assassino seja de três décadas posteriores.
O padeiro abre a caixa da discórdia, que contém um saco de farinha deveras suspeitos. Após se cortar, gotas de sangue caem sobre o pó, em uma velocidade reduzida, num esforço do diretor Charles Band em emular um movimento sacro, de origem sobrenatural. Dentro da massa, em meio à batedeira gigante surge uma mão, preconizando o monstro que atacaria as pessoas dentro de muito pouco tempo.
Após uma série de acontecimentos escabrosos, Sarah faz um biscoito com aquela massa, e a põe dentro do forno – que aliás é grande o suficiente para comportar ao menos dez pessoas. No entanto o patrimônio dos Leigh está bem mal, os amigos de Sarah atentam para isso, insistindo para que ela olhe para uma reforma do local. A moça prontamente diz algo, mostrando estar ciente dessa situação e de tantas outras: “não é só aqui que precisa de reforma, nossas almas também, mamãe voltou a beber”. Por onde passam os personagens, encontram-se garrafas e mais garrafas de Jack Daniels.
O gestual das atrizes se assemelha muito às peças tipicamente encenadas em teatros de colégio. Todo o rami-rami tipicamente adolescente envolvendo Sarah, Lorna Dean (Alexia Aleman), e Amos (Ryan Locke), namorado da última é absolutamente desprezível e desinteressante. Um raio atinge o forno gigante para dar vida à massa assassina, que começa a atacar os pobres meninos.
A continuidade do filme inexiste. Não há qualquer compromisso por parte da produção em fazer quaisquer as situações mostradas em tela terem lógica ou sentido. Repentinamente, um biscoito de pão e gengibre ganha vida graças ao raio, à farinha e graças a um roteiro completamente louco e que não explica nenhuma motivação para que essas coisas ocorram. Pior do que isso é quando o tal assassinato, com seu espírito preso ao tal alimento, passa no meio de todos os homens sem ser impedido em momento algum.
Os personagens entram e saem sem justificativa e morrem do mesmo modo louco com que são apresentados. Mas isso é desimportante, uma vez que Sarah pretende reatar a relação antiga com Amos, eliminando a friendzone existente e deixada em segundo plano há anos. Na prática, ela guardou sua virgindade para um sujeito que não sabe nem ligar um gerador de energia, e que é péssimo de conta, já que sua principal fala é “não erro duas vezes” – frase proferida exatamente após disparar para o ar três tiros.
Sem qualquer razão aparente, o padeiro Brick Fields (Jonathan Chase) retorna para acabar com Fiflemeyer, mas o ocaso se inverte e ele se torna o assassino de gengibre para logo depois ser assassinado, dentro do forno gigantesco. Impressiona como, apesar da curta duração (60 minutos, fora os créditos enormes de 11 minutos), todo o conteúdo da fita é muitíssimo enfadonho e pouco divertido. No quesito trash, há pouco gore, as atuações são tacanhas, claro (ponto positivo), e nem há tantas mortes. Havia um potencial enorme do filme em dar certo por seu caráter bronco e agreste, mas a obra não se mostrou tão exitosa quanto o esperado, nem em matéria de comicidade involuntária.