Resenha | Estórias Gerais
Há tempos atrás, um dos gênios dos quadrinhos nacionais, Flavio Colin, se uniu ao roteirista Wellington Srbek para criar uma aventura belíssima e tipicamente brasileira, Estórias Gerais, repleta de influências de autores nacionais como Guimarães Rosa, Monteiro Lobato, Jorge Amado, Ariano Suassuna e tantos outros.
A trajetória de Estórias Gerais até sua publicação não foi nada fácil. Srbek ficou com a obra na gaveta por três ano, em busca de alguma editora que pudesse publicar o material. Não conseguiu. Em 2001, os autores conseguiram publicar a HQ com o auxílio da lei de incentivo à cultura da prefeitura de Belo Horizonte. O álbum foi premiado com o HQ Mix de Melhor Graphic Novel Nacional daquele ano. Um ano depois, infelizmente, o Mestre Flavio Colin veio a falecer.
Estórias Gerais se tornou um cult e nem isso foi o suficiente para que as editoras nacionais se interessaram em publicá-la. Em 2006, uma editora da Espanha se interessou pelo álbum e publicou por lá com o nome de Tierra de Estorias. E nada do álbum publicado por uma grande editora na sua terra natal. O tempo passou e em 2007, finalmente, a editora Conrad colocou Estórias Gerais no mercado. Pouco mais de 5 anos se passaram e o trabalho de Srbek e Colin ganha uma edição definitiva publicada pela editora Nemo, selo do Grupo Autêntica.
Na trama, conhecemos os percalços de uma série de personagens do sertão brasileiro. A HQ conta a história do jornalista Ulisses Araújo que vai até uma pequena cidade do norte de Minas Gerais para escrever uma matéria sobre a vida de Antonio Mortalma, um sanguinário bandoleiro local que vive em guerra com Manuel Grande e o exército nacional, comandado pelo Coronel Odorico Pereira.
Estórias Gerais traz várias narrativas paralelas ao longo dos seus seis capítulos, cada um desses capítulos se dedicam a contar a história de determinados personagens-chave da trama. Srbek busca sempre um paralelo entre o presente e o passado para narrar sua história, sempre lançando pontas importantes em um capítulo, para serem amarradas com maestria no capítulo seguinte.
Srbek consegue construir muito bem cada personagem, mesmo os coadjuvantes, sabendo utilizar muitos deles como contrapontos de outros, seja na personalidade de cada um, ou mesmo no estilo, como é o caso do jornalista com seu jeito pomposo de falar e se vestir, comparado à outros personagens que falam “mineirês” e usam roupas próprias ao sertão onde vivem.
O roteiro de Srbek é primoroso, utilizando referências a diversos autores nacionais, como já mencionado anteriormente, e lendas do imaginário popular brasileiro. A Arte do Mestre Colin também consegue espaço para fazer referências, seja em seus quadros típicos de filmes do Sergio Leone, como nos seus personagens sujos que parecem recém-saídos de um western spaghetti.
Os desenhos do Colin são um aula de como um traço simples tem muito a dizer, seu trabalho de luz e sombra é de cair o queixo, o dinamismo que é o fator primordial da Arte sequencial, além de como cada personagem da trama tem um traço próprio. Tudo coisas simples, mas que a grande maioria dos artistas não domina.
Estórias Gerais é uma obra inestimável dos quadrinhos nacionais e mostra como é possível falar de temas e tradições tipicamente brasileiros sem se tornar algo chato. Uma HQ única, essencial e marcante, não só pra quem é fã de quadrinhos, mas para todo mundo.