Crítica | Amor Em Tempos de Ódio
Dirigido por Amma Asante, a mesma de Um Reino Unido e Belle, Amor em Tempos de Ódio começa com uma citação de James Baldwin, cujo viés tem a ver com identidade e com a descoberta pessoal de qual é a função da pessoa no mundo e no futuro. O filme se passa na primavera de 1944, e foca na vida da menina Leyna (Amanda Stlenberg), uma.garota negra, cujo pai sumiu 3 a mãe é ariana. Quando moravam em Rudesheim ela se sentia acolhida, mas ainda assim segregada, não só por ser uma das poucas pessoas de pele escura, mas também pelo tratamento diferente da policia.
O filme é bem didatico neste ponto de mostrar as diferenças. Alem da Gestapo visitar demais a família comandada pela mãe (Abbie Cornish), há na boca dessa mesma personagem o apelo as crianças para que prezem por serem invisíveis. Há um certo incômodo nos diálogos, pois os personagens falam majoritariamente em inglês, mas o fazem com um sotaque gringo um pouco desnecessário.
O filme demora a engrenar, e só o faz após apresentar o personagem Lutz (George MacKay), um rapaz da juventude hitlerista, que esbarra e machuca Elyna, mas que passa a ser fascinado pela mesmo, que a cada dia, larga o aspecto de menina para se tornar uma linda mulher. Incrivelmente a dupla de personagens recém saídos da infância tem uma visão de mundo muito mais madura, humanitária e agregadora que a geração anterior, mesmo um sendo orientado por uma fonte de saber extremista a direita e a outra tendo impresso em sua pele uma diferença primordial em relação a ridícula ideia de raça pura. Leyna só quer ser aceita, bem como Lutz só quer se aproximar dela, e viver os seus desejos, que são igualmente diferentes dos que os que seu pai rígido (feito por Christopher Eccleston) quer que siga.
Apesar de um pouco melodramático e doce em alguns pontos, o filme não esquece o fundamento que é proposto no inicio. Mesmo ao desenrolar una cena mais romântica entre os jovens, a garota tem de se esconder na água, para não prejudicar Lutz, que poderia ser encarado como persona non grata pelos seus iguais. O mergulho que ela faz é causado pela segregação e também pela vergonha de não ser igual aos poderosos e de não ter o mesmo tom de pele e origem eurocêntrica, e pouco importa que Leyna não seja judia, pois mesmo não sendo do grupo de principal perseguição do Terceiro Reich, ela ainda é humilhada, perseguida, tratada como escória e como lixo, exemplificando de maneira bem obvia como funciona a intolerância dos extremos quando chegam ao poder. Qualquer um que não seja caucasiano, ou que seja próximo desse primeiro grupo de pessoas, é automaticamente inimigo da pátria, inimigo do Estado e deve ser subjugado.
A metade final muda todo o panorama da vida de Leyna, com ela indo até um campo de concentração, e encontrando o mesmo rapaz que se aproximou dela antes, fato que faz perguntar se uma das razões para sua família ter sido desgraçada não é o envolvimento com este jovem. Os momentos finais sepultam qualquer ideia de conciliação entre quem detém o poder na Alemanha dos anos 40 e goza dos privilégios de ser da raça “superior” e quem não é, não importando se a origem é judia ou não. Mesmo com o começo extremamente sentimental, Amor em Tempos de Ódio tem muitos acertos, e revela bem a hipocrisia alemã e sectária do pensamento fascista e extremista a destra, capaz de acabar até com um sentimento tão puro e bonito quanto o amor entre dois jovens, que só querem ficar juntos. Mesmo que se trate de uma historia mais individualista do que preocupada com o todo e com o bem estar social mas que reflete um pouco da intimidade de quem sofre na pele a segregação e a intolerância.
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