Crítica | Tungstênio
O novo longa de Heitor Dhalia (Nina, O Cheiro do Ralo), Tungstênio é um filme coral, uma historia protagonizada por mais de um personagem, baseada na história em quadrinhos homônima de Marcello Quintanilha. A historia é cortada por uma narração estilizada, feita por Milhem Cortaz dá um ar de malandragem e urbanidade muito forte ao filme que se passa na orla de Salvador, ainda que esse artifício as vezes soe intrusivo.
O roteiro mostra detalhes da vida de um sargento aposentado, vivido por José Dumont, um policial que trata muito mal sua esposa (interpretados por Fabrício Boliveira e Samira Carvalho) e um jovem traficante (Wesley Guimarães). Eles tem pouco em comum além da óbvia proximidade que o casal tem, mas seus caminhos se cruzam de alguma forma, em prol do mesmo objetivo, basicamente, porque o destino quer.
Em alguns momentos, o filme se mostra inspirado, por mostrar alegrias e dissabores, em especial as dos segundo quesito, a vida deles é repleta de problemas, e a história em si é bastante rica, representa de certa forma toda a problemática que envolve o povo brasileiro, já que são questões muito comuns a vida cotidiana, mas a questão é mais o modo se mostram essas curvas dramáticas.
Dhalia o tempo todo tenta parecer moderno enquanto cineasta, sua direção tem a mão pesada demais na vontade de parecer estiloso e isso depõe contra sua adaptação. Se percebe que o longa pouco acrescenta a mitologia estabelecida nada revista, só acertando quando situações que já eram igualmente assertivas nos quadrinhos, mas sem o fato de ineditismo. No material original se sente de fato como as mazelas sociais e sentimentais ocorrem com os personagens, já na versão cinematográfica não, mesmo quando o que impera é o sofrimento, este é mostrado de modo mais suavizado, mostrado de uma forma mais acética.
Tungstênio nos escritos de Quintanilha é uma historia coesa, com personagens que mesmo sem se conhecerem, parecem viver no mesmo universo, já no filme de Dhalia a impressão é que os mundos particulares de cada um só se colidem por conveniência do roteiro, dado o quão distante são os personagens entre si, mesmo considerando que eles dividem o mesmo cenário em suas vidas, o que é uma pena, pois o filme tinha potencial para ser mais do que realmente foi.