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  • Crítica | Tungstênio

    Crítica | Tungstênio

    O novo longa de Heitor Dhalia (Nina, O Cheiro do Ralo), Tungstênio é um filme coral, uma historia protagonizada por mais de um personagem, baseada na história em quadrinhos homônima de Marcello Quintanilha. A historia é cortada por uma narração estilizada, feita por Milhem Cortaz dá um ar de malandragem e urbanidade muito forte ao filme que se passa na orla de Salvador, ainda que esse artifício as vezes soe intrusivo.

    O roteiro mostra detalhes da vida de um sargento aposentado, vivido por José Dumont, um policial que trata muito mal sua esposa (interpretados por Fabrício Boliveira e Samira Carvalho) e um jovem traficante (Wesley Guimarães). Eles tem pouco em comum além da óbvia proximidade que o casal tem, mas seus caminhos se cruzam de alguma forma, em prol do mesmo objetivo, basicamente, porque o destino quer.

    Em alguns momentos, o filme se mostra inspirado, por mostrar alegrias e dissabores, em especial as dos segundo quesito, a vida deles é repleta de problemas, e a história em si é bastante rica, representa de certa forma toda  a problemática que envolve o povo brasileiro, já que são questões muito comuns a vida cotidiana, mas a questão é mais o modo se mostram essas curvas dramáticas.

    Dhalia o tempo todo tenta parecer moderno enquanto cineasta, sua direção tem a mão pesada demais na vontade de parecer estiloso e isso depõe contra sua adaptação. Se percebe que o longa pouco acrescenta a mitologia estabelecida nada revista, só acertando quando situações que já eram igualmente assertivas nos quadrinhos, mas sem o fato de ineditismo. No material original se sente de fato como as mazelas sociais e sentimentais ocorrem com os personagens, já na versão cinematográfica não, mesmo quando o que impera é o sofrimento, este é mostrado de modo mais suavizado, mostrado de uma forma mais acética.

    Tungstênio nos escritos de Quintanilha é uma historia coesa, com personagens que mesmo sem se conhecerem, parecem viver no mesmo universo, já no filme de Dhalia a impressão é que os mundos particulares de cada um só se  colidem por conveniência do roteiro, dado o quão distante são os personagens entre si, mesmo considerando que eles dividem o mesmo cenário em suas vidas, o que é uma pena, pois o filme tinha potencial para ser mais do que realmente foi.

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  • Resenha | Tungstênio

    Resenha | Tungstênio

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    Marcello Quintanilha é um dos grandes quadrinistas brasileiros da atualidade. Em 2009, recebeu o prêmio HQ Mix de melhor desenhista nacional por Sábado dos Meus Amores, publicado em 2009 pela Editora Conrad. Conhecido pelo traço elegante e o trabalho riquíssimo na construção de seus personagens, novamente o autor entrega um dos grandes álbuns de quadrinhos publicado em 2014.

    Tungstênio, metal pesado resistente a grandes temperaturas e conhecido pela sua capacidade de aumentar a resistência de ligas metálicas, se tornou uma matéria-prima fundamental para o desenvolvimento da indústria bélica.

    Assim como o elemento químico que dá nome à obra de Quintanilha, Tungstênio possui uma trama pesada, que relata pequenos momentos da vida de quatro personagens, todos retratados de maneira crua e desvendada de maniqueísmo, com as particularidades existentes em cada um de nós, sem julgamentos.

    A trama gira em torno desses personagens: um sargento aposentado, um traficante, um policial durão e a sua esposa: todos pululam ao redor de um crime ambiental envolvendo pescadores que utilizam explosivos na orla de Salvador. Este crime servirá como fio condutor para o desenvolvimento da narrativa de maneira gradual, de modo que pouco a pouco a tensão aumenta e prepara terreno para o embate entre eles em sua derradeira conclusão.

    Importante frisar que a narrativa gráfica de Quintanilha é fluida e primorosa, e utiliza enquadramentos dinâmicos sob diversos pontos de vista, além de expressões faciais riquíssimas que nos levam a compreender os pensamentos da personagem sem a necessidade de estabelecer um único balão de diálogo. Além disso, o autor demonstra pleno domínio do seu traço no desenvolvimento dessas histórias para que realize transições em momentos chave da narrativa, ditando o ritmo necessário para modular o rumo de cada núcleo de personagens.

    Se o trabalho visual do autor é irretocável, o mesmo pode ser dito do roteiro. A construção de cada personagem é feita de maneira crível e paulatinamente, utilizando flashbacks para produzir melhor credibilidade nessa construção. O trabalho de roteiro não se perde nos quatro núcleos, como costuma acontecer em histórias com vários protagonistas, e não prejudica personagens em detrimento de outros, pelo contrário: todos têm um alto nível de complexidade e camadas. Ademais, o processo de caracterização e ambientação da história em Salvador se mostra extremamente natural, captando a alma do local e de seus habitantes.

    No fim das contas, Tungstênio é um trabalho delicado de construção de personagem, e, sobretudo, um retrato da sociedade brasileira, com todas as suas idiossincrasias, injustiças e o senso comum latente tão comuns em nosso cotidiano.

    Compre: Tungstênio – Marcello Quintanilha