Crítica | Isolados
Produções brasileiras de terror ou suspense são, normalmente, associadas a décadas passadas graças ao prestígio do personagem Zé do Caixão, idealizado e interpretado por José Mojica Marins. O bom momento do cinema brasileiro permite a exploração de outras temáticas além das tradicionais e repetidas narrativas, demonstrando que, ao se inspirar em estilos utilizados em obras de outros países, nosso cinema pretende se expandir e se consolidar.
O gênero terror foi representado este ano por Quando Eu Era Vivo, adaptado da obra de Lourenço Mutarelli, e Isolados, com Bruno Gagliasso e Regiane Alves, em circuito no país. A trama segue à risca o modelo tradicional de narrativa de terror e acompanha um casal em uma viagem idílica de reconciliação. Se a trama é sempre um esboço comum, o que diferencia boas narrativas das más é a maneira como o horror é injetado e conduzido no roteiro. Neste gênero emotivo, o medo deve ser funcional. Logo, a trama tangencia dois estilos destas narrativas: o ambiente isolado e perfeito, que será destruído por alguma manifestação exterior, e a loucura vista sob os olhos da esposa com um histórico psiquiátrico notável.
A tensão inicial é bem executada. No caminho para o local de descanso, o casal descobre que há um assassino na região. O ambiente envolto pela densa floresta aumenta a sensação de claustrofobia, enquanto o ambiente da casa transparece fragilidade. Uma construção repleta de janelas coloridas que, além de favorecer a iluminação, apresenta uma sensação constante de falta de privacidade. Após sofrer um ataque na floresta, o casal permanece preso na própria residência.
Câmeras subjetivas são utilizadas em diversas cenas, como se vigias ocultos estivessem no exterior da casa. A maioria das cenas filmadas com um único foco de luz amplia a sensação de pânico, e tanto Gagliasso quanto Regiane Alves possuem apuro técnico para sustentar uma produção deste porte. Mas o roteiro falha na emoção primordial.
Em entrevista, o também produtor Bruno Gagliasso confirmou que a intenção da obra é realizar um suspense made in Brazil com a qualidade técnica de filmes estrangeiros. Mas tentando aproximar-se tanto desta vertente, a produção também comete os mesmos pecados de longas-metragens contemporâneos de terror, que não fazem do medo o fio condutor da trama. Utilizando-se de um dos recursos mais utilizados nos últimos anos, Isolados promove uma virada de roteiro que deveria causar maior impacto, mas que se torna falha, em boa parte por não conduzir apenas uma linha narrativa. Tentando equilibrar-se entre a loucura da esposa ao mesmo tempo que invasores externos ameaçam-nos, o enfoque argumentativo se perde.
Isolados merece mérito por ser um filme de terror produzido no país. No entanto, assim como diversas produções americanas, não parece ter fôlego para permanecer na memória do público. De qualquer maneira, é um caminho interessante a ser seguido pelo cinema brasileiro e ainda marca a última produção de José Wilker, no papel de um psiquiatra.