Resenha | Konungar: A Guerra dos Reis
Konungar: A Guerra dos Reis retrata uma aventura nórdica, com referenciais à literatura fantástica clássica. Sua história se situa no Reino de Alstavik baseando-se na batalha entre dois irmãos, Rildrig e Sigvald. A narrativa passa basicamente pelo olhar da irmã dos dois, a bela Elfi, que tenta trazer um acordo amistoso entre os dois.
A arte da publicação é estonteante, assinada por Juzhen, em uma edição em capa dura da Editora Mythos, cujo capricho visual faz aumentar ainda mais o caráter épico da abordagem. Cada detalhe visual visa maximizar a luta do povo desse reino escandinavo, para proteger seu “mundo” do ataque dos celtas. É só uma pena que essa edição não possua textos assessórios a respeito dos artistas responsáveis pela obra e suas carreiras.
A trama de Sylvain Runberg não demora a mostrar as criaturas mágicas típicas da mitologia nórdica e viking. A ação é franca, com embates de flechas, batalhas de espadas onde homens e monstruosidades entram em combates. Essa linha de frente entra em contraste total com as figuras dos castelos, onde a alta nobreza claramente não tem o mesmo contato com o perigo que a plebe, e isso evidentemente gera choques, embora o intuito da história não seja discutir essa disputa ideológica.
A hierarquia palacial e estratégica em conflito é bem exemplificada, antes mesmo dos conflitos internos familiares entre nobres. As questões envolvendo os monstros e humanoides são bem mostrados. Os centauros parecem ser um bom motivo para uma possível trégua entre o rei e o irmão exilado, pensada por sua vez por Elfi, embora as intenções dos dois não seja tão maniqueísta quanto a premissa da história parece propagar.
O encontro de domínios põe em combate figuras irracionais contra bestas acéfalos, e incrivelmente, não são os centauros as criaturas mais bárbaras dessa disputa. É curioso como Juzhen consegue ao mesmo tempo apelar para um visual gore bastante gráfico, ao passo que as imagens de dilacerações e desmembramentos não parecem gratuitas. É difícil descrever em palavras, mas há alguma elegância na escolha onde é colocada a violência ao mostrar os cavalos cortados ao meio, jogados em pequenos quadros nas páginas sem um destaque central. A recriação das paisagens também soam absurdas de tão belas, em especial nos cenários comuns, que parecem reais. Ao mesmo tempo que a arte faz predominar tons escuros, não há receio da reconstrução histórica em mostrar cores vivas nos uniformes e bandeiras de guerra.
Há claros elementos de livros como os clássicos de J.R.R. Tolkien e Marion Zimmer Bradley, além dos quadrinhos do Conan, em especial os de John Buscema e Roy Thomas, baseado nos contos de Robert Howard, existem elementos até de mesmo Pacto com Lobos, filme francês de Christophe Gans bem menos aclamado do que realmente merece. Ao passo que as mulheres no traço de Juzhen, são tão voluptuosas quanto na maioria dos quadrinhos mainstream, ou seja, modelos com corpos esculturais que reproduzem o padrão estético da década atual e não necessariamente à época que retrata, ainda assim, há espaço no roteiro para discutir violência entre quatro paredes, sobretudo nas relações dessa nobreza. O roteiro trabalha bem com todos esses elementos, e mesmo em seus clichês, há uma boa exploração temática. Essa talvez seja a maior riqueza do texto, que é evidentemente mais escapista e fantasioso do que preocupado em abordar politicamente seu mundo.
A história é repleta de intrigas e traições. O modo como a trama se desenrola faz perguntar se em nome da ética, traições a nação são justificáveis, mesmo vertendo o pensamento ideológico a época e a cultura nórdica. Konungar: A Guerra dos Reis acaba mostrando pessoas corrompidas pelo poder, e que em meio as agruras da guerra, acabam apelando para medidas drásticas, resultando em um trabalho visual diferenciado da dupla Juzhen e Runberg.
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