Crítica | 47 Ronins
47 Ronins é um filme que enfrentou muitos problemas de produção, e filmes com problemas assim são grandes candidatos ao fracasso. Com o início das filmagens em 2011 e três roteiristas depois (Chris Morgan, Hossein Amini e Walter Amada), a produção americana chegou por lá em 25 de dezembro de 2013, estreando nos cinemas brasileiros em 31 de janeiro de 2014, o que deixou boa parte dos fãs de Keanu Reeves ansiosos, já que, tomando Matrix como base, seria interessante ver o ator em um filme de samurais. Porém, nem o atraso na produção, o orçamento estourado e gordo de US$ 175 milhões e as mudanças no roteiro, fizeram com que o diretor estreante Carl Rinsch convencesse os mais otimistas.
O filme é baseado numa das maiores histórias da cultura japonesa, um evento que aconteceu entre os anos de 1701 e 1703, que demonstrou um ato de bravura e coragem, onde 47 ronins vingaram a morte de seu mestre, acusado de agredir um funcionário da justiça japonesa. Mas, como dito, o filme é baseado nessa passagem e isso não significa que a estória percorreu exatamente da maneira como aconteceu há mais de 300 anos, o que é comum em Hollywood. Vide o exemplo de 300, de Zack Snyder.
Kai (Keanu Reeves) é um bebê sem traço oriental algum que foi deixado numa floresta para morrer por ser considerado amaldiçoado. No entanto, o bebê foi resgatado por Lord Asano (Min Tanaka) e passou a conviver junto do senhor feudal e de sua filha, Mika (Ko Shibasaki) até a fase adulta. Kai sempre sofreu por ser um gaijin (o que aqui no Brasil é conhecido popularmente como “gringo”) e, mesmo sendo muito útil a todo o povoado sabendo lutar, vivia à sombra da população e dos samurais que cuidavam da guarda de Lord Asano. A cena em que o grupo de samurais é atacado por um animal colossal deixa bem claro isso. Kai consegue matar o bicho e mesmo aos olhos de testemunhas, um dos samurais recebe todos os méritos.
A vida de Kai muda quando Lord Kira (Tadanabu Asano) chega à cidade com sua comitiva para um torneio de samurais que será assistido pelo Shogun Tsunayoshi, vivido por Cary-Hiroyuki Tagawa, o Shang Tsung, de Mortal Kombat. Percebe-se, portanto, que Lord Kira também é um senhor feudal e que o Shogun seria uma espécie de governador que está acima dos senhores feudais.
Kai percebe que Kira tem outras intenções, mas ninguém acredita nele, nem mesmo o líder dos samurais, Oishi (Hiroyuki Sanada). Após Kira conseguir provar que sofreu um atentado cometido por Lord Asano, o Shogun concede a Asano o julgamento através do seppuku, a pena de morte por suicídio, numa linda cena. Com isso, o Shogun passa o feudo a Kira e os 46 samurais de Lord Asano se tornam ronins, samurais sem mestre. A partir daqui, Keanu Reeves deixa de ser o protagonista e atua como um coadjuvante de luxo ao lado de Hiroyuki Sanada, quando seu personagem, Oishi pede ajuda a Kai para reunir os outros samurais renegados.
O filme tem um visual lindo e primoroso. Todos os cenários, as locações e figurinos são maravilhosamente caprichados, nos mínimos detalhes e esse é o seu maior destaque. Uma pena que a estória não convence e talvez o maior erro tenha sido incluir elementos de magia, já que o filme fluiria bem mais sem elementos míticos que poderiam ter sido corrigidos por conta de um roteiro mais inteligente. Percebe-se claramente que a presença da feiticeira aliada de Lord Kira, bem como o passado sombrio de Kai revelado no início do terceiro ato foi a maneira mais fácil de resolver as situações mais complexas do filme. Pura preguiça, algo bastante comum em Hollywood.
Com exceção de Reeves, o elenco é todo japonês, porém falando inglês, o que é um ponto negativo. Mas o filme não é um desastre e tem ótimas passagens, sendo a maioria delas onde a direção de arte está diretamente envolvida. Além de manterem fielmente os nomes de todos os envolvidos, todos os rituais japoneses presentes na película são demais, assim como parte do clímax no terceiro ato onde todos os 47 ronins estão envolvidos. De qualquer forma, 47 Ronins é um filme para assistir num feriado frio e chuvoso, quando não se tem mais nada a fazer. Aliás, pesquisar sobre a história verdadeira e visitar virtualmente os túmulos dos 47 ronins que se encontram no Templo Sengaku-Ji, em Tóquio, é uma atividade bastante recomendada.
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Texto de autoria de David Matheus Nunes.