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  • Crítica | O Terceiro Assassinato

    Crítica | O Terceiro Assassinato

    Filme muito frontal, muito direto ao ponto e ao mesmo tempo muito poético em certos instantes, deliciosamente metafórico, sendo algo raro, hoje em dia, em que thrillers de ação e suspense pouco se deixam alcançar aquilo que, em tese, poderiam ser em prol deles mesmo. Na trama simples onde o que importa é como a direção trabalha os seus elementos mais célebres, e memoráveis, um homem mata o outro, no leito de um rio e de forma brutal; ato mortífero unicamente incitado por problemas financeiros. Será mesmo?

    Sendo preso, lá vai a polícia japonesa desvendar os porquês de um caso de aparente desdobramento óbvio, afinal, impasses com credores é algo universal. Misumi, além de facínora confesso, também admite ter praticado roubo logo antes do seu pior crime, até então. O homem não parece sentir culpa, contudo, provas contrárias as suas acusações começam a brotar, enquanto outras a favor de sua prisão também, colocando em dúvida o próprio advogado do provável culpado quanto a clareza dos questionáveis fatos incriminatórios.

    Num filme notavelmente repleto de reviravoltas feito O Terceiro Assassinato, atestamos com honra ao mérito a versatilidade de um cineasta no trato com uma temática que não necessariamente combina, tanto assim, com o DNA da sua filmografia, até agora mais leve e com temas mais dóceis e até mesmo surreais que a busca pela verdade diante de crimes cruéis e inextricáveis (o que implica no uso constante no filme do elemento familiar [esposa e filha do acusado Misumi] como dínamo valioso para a explosão e a exploração do drama emocional tão recorrente no ótimo e louvável Cinema de Hirokazu Koreeda, arroz de festa todo ano no festival francês de Cannes).

    Vemos assim Koreeda evitando brincar e (re)modelar em demasia alguns elementos clássicos de um suspense investigativo (telefonemas suspeitos, trocas de informações), afinal não é a sua praia, mas criando a sua própria pegada com a objetificação que rege os mesmos. Em duas cenas em especial, a verdade tão dúbia e custosa que Misumi aponta sobre a mandante do seu crime, a própria esposa do seu alvo, parece ser, finalmente, verídica, contudo, o assassino em seguida expande o seu relato e uma nova suspeita se desdobra. São momentos inteligentes assim que a história e o cineasta, ainda que pouco perspicaz sobre as necessidades do seu filme, brincam de fato com as nossas noções de veracidade de um caso, e tudo começa a ficar imprevisível inclusive até ao mais atento dos espectadores.

    Nota: É sempre bom absorver o desejo dos cineastas de ser versátil – e ver dando certo, afinal todos ganhamos com isso. Talvez o exemplo recente mais famoso disso seja justamente a excursão de Martin Scorsese no universo infantil que comandou em A Invenção de Hugo Cabret. Famoso por sua filmografia com alta notoriedade na violência das coisas, Scorsese, tal qual seu colega nipônico de ofício se redimiram em público e gênero cinematográfico para recusarem tipicidades e serem bem-sucedidos em um universo pouco usual para eles, onde a lógica da infantilidade ou da criminalidade não é tão díspar, sequer inalcançável como parecia ser no começo ainda das suas carreiras. O curioso mesmo fica por conta de quais caminhos isso poderá render para Koreeda, agora que se provou um cineasta corajoso indo além de suas familiaridades de sempre.

    O mesmo foi esperto o bastante em O Terceiro Assassinato para não se render aos caprichos de tentar imitar os conterrâneos Johnnie To e Kiyoshi Kurosawa, verdadeiros mestres em atividade em dramas muito parecidos com o filme em questão. Sendo assim, o cara de Ninguém Pode Saber preferiu seguir as suas próprias tentativas no exercício da dramatização de um condenado policial, seu advogado em busca de uma só verdade que parece ter mil facetas, um sistema judicial inflexível, uma família traumatizada e toda uma rede de provas não tão clara, e confiável assim. É verdade que Koreeda não passa segurança total sobre o filme que conduz, talvez acostumado demais aos dramas otimistas que tanto se conectou naturalmente até aqui, em especial o ótimo Depois da Tempestade, de 2016, mas uma obra de indiscutível bom gosto e contida elegância sobre o custo da verdade, em momentos que tudo depende só dela, definitivamente não pode e não deve passar despercebida.

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  • Crítica | 13 Assassinos

    Crítica | 13 Assassinos

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    O ano é 1844. O Japão passa por um período de relativa estabilidade e a maioria dos samurais aposentaram suas espadas. Essa estabilidade começa a ser ameaçada por Lord Naritsugu, irmão do atual Shogun, um nobre sádico que abusa, estupra e mata os mais pobres ao seu bel prazer. Um oficial do shogunato, por revoltar-se com relação às atitudes do tirano, temendo pelo Japão caso ele se tornasse o próximo Shogun, reúne um grupo de samurais para o matarem.

    13 Assassinos é um remake do filme homônimo de 1963 de Eiichi Kudo, trazido à luz em 2010 pelo aclamado Takashi Miike. Seus filmes são conhecidos por sua violência extrema, mas aqui Miike dá atenção para um modelo clássico de filmes de samurai. Ao mesmo tempo em que não abandona a violência gráfica (porém aqui não tão visceral como de costume), dá atenção para planos contemplativos, diálogos ricos e atuações expressivas.

    A narrativa do filme começa com os samurais angariando companheiros para enfrentar o lorde maligno. Samurais de mais experiência e que viveram na época das guerras se juntam com alguns de seus aprendizes para lutar pelo Japão e não pelos seus nobres, por isso acabam se tornando assassinos. A influência de Sete Samurais de Akira Kurosawa é evidente, até mesmo quando um ronin se junta à causa do grupo de samurais, representando o ar descontraído da seriedade e disciplina dos demais companheiros.

    Aqui temos uma divisão bem definida entre o bem e o mal, característica marcante em filmes de samurai. No primeiro ato do filme vemos tortura, assassinato, estupro e mutilação. O espectador está preparado psicologicamente por quem torcer no segundo ato, quando os samurais estão recrutando aliados, e finalmente no terceiro, em que a grande batalha acontece.

    O que vemos é uma cidade inteiramente construída pela produção simplesmente para ser totalmente destruída durante 45 minutos de batalha sem interrupções e coreografadas, se afastando positivamente de efeitos especiais por computação, tão utilizados atualmente. A atuação conjunta de uma dezena de pessoas ao mesmo tempo é simétrica em diversas cenas do filme.

    O pensamento de que 13 assassinos lutando contra 200 homens da guarda real poderia parecer forçado cai por terra nesta produção grandiosa. Takashi Miike consegue fazer com que seu remake seja um dos filmes de samurai mais significativos dos últimos anos e reafirmar sua competência como diretor. Esta é talvez sua obra mais madura.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.