Crítica | Bully
Há muitas cenas gravadas sobre Tyler Long – a 1ª vítima retratada no esquete – algumas delas, filmadas pelo próprio garoto. O motivo da sua morte teria vindo de uma “ordem” dada por seus amigos de escola, para que ele desse fim a sua própria vida. Ele assim o fez, no closet de seu quarto, para ser encontrado por seu irmão mais novo. Bully começa dessa forma, sem muitos circunlóquios, e em momento nenhum é gratuito – ao contrário, se utiliza bem dos depoimentos para provar seu ponto.
O diretor Lee Hirsch treme a câmera propositalmente, para grafar as cenas que acha mais emotivas. No anúncio do nome da película é mostrada uma criança sozinha em um ônibus escolar, como um signo de isolamento, a imagem seguinte compõe o quadro, com todas as outras crianças sentadas ao redor da primeira. A cena é emblemática e demonstra em poucos segundos toda a tônica do filme.
Passar pelos maus-tratos que os infantes impõem uns aos outros e fazer somente isso seria óbvio. O que é interessante em Bully é o foco nas emoções dos vitimizados, que passam por um sem número de rejeições. Quase todas as crianças têm a mesma queixa em comum, a tratativa adjetivada como “não ser normal” – algo que naturalmente incomoda qualquer pessoa ordinária, mas que para um menino é ainda pior. Não se sentir parte de grupo nenhum é uma rejeição enorme para alguém de tão pouca idade, e só sofrer interação por meio de atos de humilhação esmaga a auto-estima do sujeito quase a zero.
São entrevistadas vítimas de diversos tipos, e seus parentes também. Geeks, homossexuais, negros, algumas reagem às ofensas, outras encaram com bom humor – mesmo que por traz dessa reação se esconda uma profunda tristeza -, há até algumas que se vêem como culpadas, como se fossem responsáveis por tais abusos. Uma menina homossexual – que havia sido atropelada por uma mini van, por responder aos que a agrediam verbalmente – responde aos pais sobre sair da escola onde estudava: “Se formos embora, eles ganham!” – para ela, sair do ambiente onde ocorre o abuso seria uma fuga da realidade.
Por parte dos pais, há em comum a reclamação do descaso, passividade e pouca interferência do Estado, onde há até a sugestão de que se um filho de Senador sofresse com isso, no dia seguinte haveria leis que coibissem tais atos hostis – claro que essa é uma crítica passional, mas dar voz a essas pessoas é válido.
O objetivo desta fita é provocar no espectador um sentimento de revolta e de asco a essas práticas, visa render em quem vê uma reflexão ao modo de educar as crianças e como lidar com situações como essa, e nesses quesitos, Lee Hirsch acerta em cheio, com seu conteúdo emocionante, parcial, é claro, mas sem demonizar ninguém.