Crítica | Qualquer Gato Vira-Lata
Um dos muitos sucessos da Globo Filmes, capitaneada pela dupla Daniela de Carlo e Tomas Portella – Qualquer Gato Vira Lata é uma velha comédia romântica que se baseia na insegurança da mulher, desesperada por atenção, através da personagem Tati. Interpretada pela belíssima Cléo Pires, a personagem não teria qualquer dificuldade em fisgar o homem que ama, mas, ainda assim, insiste em basear sua autoestima em dizeres de revistas adolescentes, de conteúdo adocicado e pautado em autoajuda barata. Seu namorado Marcelo, vivido por Dudu Azevedo, é um terrível companheiro, relapso e insensível, que logo pede para “dar um tempo” na relação, logo quando a bela lhe faz uma surpresa com flores.
Em outro hemisfério ideológico está o professor Conrado (Malvino Salvador), que prega que o sentimentalismo é um sentimento tipicamente feminino, pregando que o ideal é a dominância masculina sem maiores ressentimentos. Um discurso fraco e inseguro, inclusive por sua repetição e gagueira em aula. O discurso idiotizado é discutido pelas alunas, que o acusam de chauvinismo, mas sem qualquer conclusão edificante contra a docência.
A indagação de Tati tem zero eloquência, se resumindo a um “não” mal dado, fruto da fossa em que está e que até suas amigas chamam de dramalhão. A pobreza do script é observada claramente tanto na carência latente de Tati como também em sua ingenuidade, vacilando em desculpas esfarrapadas e clichês. Da parte de Conrado, há também uma enorme falta de congruência, com um caráter repleto de banalidades e obviedades, revelando um casamento fracassado, culpa, entre outros fatores, de sua tese mal feita, que revela egoísmo e exacerbo de individualidade.
Logo, os destinos de Conrado e Tati se cruzam, com direito a plano detalhe no lado posterior do corpo de Malvino Salvador. Logo, a moça se lança nos braços do mestre, para ser a testificação em carne e osso da tese do homem e para enfim começar uma interação ímpar, baseada na teoria do mentor.
O desenrolar da conversa revela uma ânsia da moça por aprovação, com faniquitos desesperados e reclames que imploram pela atenção do rapaz, resultado da vontade que possui de reatar a relação com seu ex-namorado. No primeiro reencontro do antigo casal, mais uma vez Tatiana dá seus ataques tresloucados e violentos, revelando que também sente ciúmes em relação a si.
A pesquisa prossegue usando a “pista” como laboratório, um lugar onde o inadequado é Conrado, que se mantém imóvel, mesmo diante da música alta e do ambiente favorável a sedução. Aos poucos, a aluna passa a envolver o pesquisador em sua rede, como era provável e mostrado desde o início da trama. A sucessão de diálogos somente piora com o transcorrer da fita, revelando uma futilidade abismal onde sequer há espaço para rir.
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