Tag: Cléo Pires

  • Crítica | Operações Especiais

    Crítica | Operações Especiais

    Operações Especiais 1

    Seguindo na tentativa de amadurecer seu cinema, Tomás Portela finalmente consegue ingressar seu Operações Especiais no circuito, ainda na esteira hercúlea de produzir filmes de gênero no Brasil, após seu malfadado Isolados, que tentava abraçar o terror  de maneira bastante tosca e anti climática, fatores que se reprisam neste.

     O filme, protagonizado pela mesma Cléo Pires de Qualquer Gato Vira Lata e que antes se chamaria Boletim de Ocorrência possui em seu mote a suposta incorruptibilidade do corpo policial, dita pelo comandante Paulo Froés (Marcos Caruso), reprisando evidentemente a profecia de  Tropa de Elite de José Padilha, ainda que seu argumento passe longe das sutilezas de Braulio Mantovani, especialmente pela quantidade exorbitante de personagens chavões e falas prontas.

    Pires interpreta Francis, uma atendente de banco, cansada da violência no âmbito carioca, que decide (por motivos bobos) prestar prova para um concurso público, passando a ser uma policial cujo ethos é automaticamente incorruptível. Do alto de sua beleza de musa, Francis se orgulha de trabalhar com a burocracia da Polícia Civil.  Sua caracterização já se diferencia da vista em Selton Mello por Federal e de Thiago Lacerda em Segurança Nacional pelas dificuldades que a mesma passa, já que não há desejo da parte dela por ação, e sim pela tranquilidade, que é logo interrompida pela convocação que sofre, sendo transferida para a cidade interiorana fluminense São Judas do Livramento, que tem lá uma gama de bandidos fugidos da implantação das UPPs na capital carioca.

    Apesar de ter em si uma coleção de erros crassos, é a construção malfadada da personagem principal o fator mais irritante. Francis passa de uma moça de péssimas motivações, para uma atiradora de elite de modo automático, tornando-se inclusive uma exímia artilheira e uma estrategista nata, além de reunir capacidade interpretativa suficiente para ainda iniciante, conseguir agir infiltrada de modo insuspeito.

    A suspensão de descrença é atacada em quase todos os momentos, piorando demais com as péssimas construções de suspense. As consequências sérias do comportamento dos subalternos de Froés não encontra precedentes, e se mostra demasiado irreal e insípida. Outro fator assustadoramente mal encaixada, é a narração esclarecedora do comandante, que usa termos difíceis para explicar o que ocorre em tela, e que desnaturaliza por completa a tentativa de se levar a sério.

    As cenas de ação parecem filmadas a partir dos gameplays de Grand Theft Auto, o que não necessariamente é uma coisa ruim, exceto por deixar as sequências nada criveis. Outra questão chave é o retorno a velha mania de glamourizar os policiais, analisando-os sob um prisma visualmente heróico, além de retratar os bandidos como seres feios e maltrapilhos, fazendo o juízo de valor já no campo estético.

    A mensagem de Operações Especiais não é nada sútil, e mais uma vez Portela dá vazão a preconceitos vazios e baratos. Sai o machismo de Qualquer Gato Vira Lata e entra uma tentativa vazia de produzir uma discussão sexista, para logo, solicitar questões maniqueístas e reducionistas, a respeito do alastramento da criminalidade, pressupondo que numa cidade pequena, a cooperação do povo com a marginalidade é algo corriqueiro, tratando a população carente como seres nefastos e dignos de demonização, ao passo que a crítica social aos patamares altos governamentais é sugerida de modo bastante discreto. Ao final, a fita reprisa os mesmos erros de tantas tentativas fracassadas do cinema nacional em reprisar o sucesso dos Tropa de Elite e Cidade de Deus, sem êxito algum, graças a um roteiro preconceituoso e óbvio.

  • Crítica | Qualquer Gato Vira-Lata

    Crítica | Qualquer Gato Vira-Lata

    Qualquer Gato Vira-Lata

    Um dos muitos sucessos da Globo Filmes, capitaneada pela dupla Daniela de Carlo e Tomas PortellaQualquer Gato Vira Lata é uma velha comédia romântica que se baseia na insegurança da mulher, desesperada por atenção, através da personagem Tati. Interpretada pela belíssima Cléo Pires, a personagem não teria qualquer dificuldade em fisgar o homem que ama, mas, ainda assim, insiste em basear sua autoestima em dizeres de revistas adolescentes, de conteúdo adocicado e pautado em autoajuda barata. Seu namorado Marcelo, vivido por Dudu Azevedo, é um terrível companheiro, relapso e insensível, que logo pede para “dar um tempo” na relação, logo quando a bela lhe faz uma surpresa com flores.

    Em outro hemisfério ideológico está o professor Conrado (Malvino Salvador), que prega que o sentimentalismo é um sentimento tipicamente feminino, pregando que o ideal é a dominância masculina sem maiores ressentimentos. Um discurso fraco e inseguro, inclusive por sua repetição e gagueira em aula. O discurso idiotizado é discutido pelas alunas, que o acusam de chauvinismo, mas sem qualquer conclusão edificante contra a docência.

    A indagação de Tati tem zero eloquência, se resumindo a um “não” mal dado, fruto da fossa em que está e que até suas amigas chamam de dramalhão. A pobreza do script é observada claramente tanto na carência latente de Tati como também em sua ingenuidade, vacilando em desculpas esfarrapadas e clichês. Da parte de Conrado, há também uma enorme falta de congruência, com um caráter repleto de banalidades e obviedades, revelando um casamento fracassado, culpa, entre outros fatores, de sua tese mal feita, que revela egoísmo e exacerbo de individualidade.

    Logo, os destinos de Conrado e Tati se cruzam, com direito a plano detalhe no lado posterior do corpo de Malvino Salvador. Logo, a moça se lança nos braços do mestre, para ser a testificação em carne e osso da tese do homem e para enfim começar uma interação ímpar, baseada na teoria do mentor.

    O desenrolar da conversa revela uma ânsia da moça por aprovação, com faniquitos desesperados e reclames que imploram pela atenção do rapaz, resultado da vontade que possui de reatar a relação com seu ex-namorado. No primeiro reencontro do antigo casal, mais uma vez Tatiana dá seus ataques tresloucados e violentos, revelando que também sente ciúmes em relação a si.

    A pesquisa prossegue usando a “pista” como laboratório, um lugar onde o inadequado é Conrado, que se mantém imóvel, mesmo diante da música alta e do ambiente favorável a sedução. Aos poucos, a aluna passa a envolver o pesquisador em sua rede, como era provável e mostrado desde o início da trama. A sucessão de diálogos somente piora com o transcorrer da fita, revelando uma futilidade abismal onde sequer há espaço para rir.

     Compre aqui: Qualquer Gato Vira-Lata (Dvd)

  • Crítica | Qualquer Gato Vira-Lata 2

    Crítica | Qualquer Gato Vira-Lata 2

    CARTAZ QGVL2

    Após uma péssima realização no primeiro episódio da franquia, Qualquer Gato Vira Lata 2 teve uma troca na dupla de diretores, saindo Tomas Portella e Daniela De Carlo para a entrada de Marcelo Antunes e Roberto Santucci. A produção se assemelha às obras anteriores do segundo diretor citado, já que a continuação, assim como havia ocorrido em De Pernas Pro Ar e Até Que a Sorte nos Separe, também serve de propaganda a agências de turismo e outros, e utilizando-se de locações mexicanas.

    O roteiro de Paulo Cursino inicia-se ainda mais nefasto que o anterior, com uma absurda variedade de piadas anti-feministas, uma vez que Conrado (Malvino Salvador) tinha uma excursão marcada para um debate com uma escritora pseudo-feminista que viria a desbravar suas falas. Convenientemente, essa pessoa era a sua ex-mulher, Ângela (Rita Guedes), que também se tornou escritora, a despeito disso jamais ser citado no filme anterior.

    Partindo deste conceito, Conrado decide viajar com Tatiana (Cleo Pires), sua namorada desde o encerramento da primeira parte da franquia. A romântica menina decide então inverter os papéis comuns da sociedade normativa – um pecado mortal, segundo o livro do professor/cientista – convidando-o a um novo passo de intimidade, propondo-lhe casamento, com direito a transmissão via internet para todos os amigos e familiares. Tais fatos são exibidos ainda no trailer e, sem qualquer exagero de análise, correspondem à metade de todo o plot do filme, ocupando um tempo demasiado em tela.

    A virada acontece no arrependimento do ex-namorado de Tati, Marcelo, vivido pelo ator e agora produtor do filme Dudu Azevedo, que percebe estar ainda apaixonado por seu antigo par e decide se juntar ao jocoso Magrão (Álamo Facó) para intervir no relacionamento. A crescente de suas discussões é pautada na estupidez, ainda que sua postura seja claramente menos egoísta. A imaturidade do personagem é tanta que ele decide participar de uma mirabolante plano fingindo que possui uma filha.

    Após algumas recusas e desventuras, Tati resolve dar ouvidos a sua rival, exibindo o mesmo plot tedioso do primeiro filme, mas invertendo o papel de mentor. A partir daí, inicia-se uma versão juvenil da guerra de sexos, com direito a um docente com complexo de Terry Crews, trabalhos detetivescos de personagens fúteis e sem profundidade, sempre valorizando que, em última instância, a única sabedoria valiosa é a provinda do homem.

    Apesar do pequeno avanço visual e de um maior entrosamento dos atores – fruto possivelmente da experiência maior de Santucci em comparação com Portella – o filme consegue ser ainda mais agressivo na redução do discurso feminista, igualando por vezes todo o conteúdo da discussão a um simples recalque, no sentido mais popular e tosco da palavra. O empobrecimento do discurso produz algo ainda pior do que o original, ainda que seja claramente mais maduro cinematograficamente.

  • Crítica | O Tempo e o Vento

    Crítica | O Tempo e o Vento

    o_tempo_e_o_vento_xlg

    Esta não é a primeira adaptação da obra do escritor Érico Veríssimo. Em 1967, O Tempo e o Vento foi levado para a televisão em formato de novela, dirigido por Dionísio de Azevedo e dividido em três partes. Novamente, em 1985, a TV Globo criou a bela minissérie dirigida por Paulo José, em que trazia Tarcísio Meira como Capitão Rodrigo e Glória Pires como Ana Terra. Apenas em 2013, a obra de Veríssimo ganhou uma nova adaptação, dessa vez para os cinemas e com direção de Jayme Monjardim.

    O longa dá início com o belo trabalho de fotografia de Affonso Beato, explorando as paisagens dos pampas gaúchos em um pôr-do-sol esmaecido. Mostra-se a chegada do Capitão Rodrigo (Thiago Lacerda) até a casa da família dos Terra Cambará para encontrar-se com a já centenária Bibiana (Fernanda Montenegro), em meio ao cerco de sua casa pela família Amaral, inimiga declarada dos Terra Cambará.

    Adaptar uma obra como O Tempo e o Vento para os cinemas não é tarefa fácil. A série literária de Veríssimo conta a história de gerações de famílias marcadas por romances e guerras no Rio Grande do Sul. Condensar tudo isso em apenas duas horas de exibição, sem parecer superficial, exigiria uma habilidade que Monjardim deixou a desejar.

    A trama envolvendo a família Terra Cambará é narrada por Bibiana Terra, apresentando toda a história de formação de um período do Brasil. Primeiramente, acompanharemos a história de amor de Ana Terra (Cléo Pires) e o índio Pedro Missioneiro (em uma bela interpretação de Martín Rodriguez). Logo após, Bibiana relembra seu romance com o Capitão Rodrigo Cambará. A narrativa de Bibiana relembra aproximadamente 150 anos de história de amores, capazes de resistir às guerras e grandes tragédias.

    Dito isso, fica mais claro entender a proposta de Monjardim. Contudo, isso não torna mais fácil aceitar algumas de suas escolhas. Sua adaptação busca um tom novelesco, até mesmo burocrático, e seu olhar é voltado apenas para o romance entre os protagonistas. Não espere encontrar muito contexto histórico e político, que é apenas pincelado. Utilizada em segundo plano, a conjuntura da época só aparece como justificativa de que não foi esquecida.

    Castelhanos, Farrapos e Guerra do Paraguai são temas apenas mencionados, dando-se pouca explicação ao que estava acontecendo e sobre o que aquelas batalhas se tratavam. Tudo isso acaba com um gosto ruim na boca. Monjardim parece carecer de objetividade narrativa. Se seu desejo era fundamentar sua obra através de uma trama romântica, deveria ter focado nisso desde o início, colocando alicerces ao longo da história de amor entre Rodrigo e Bibiana e deixando o restante em segundo plano. Contudo, ao abrir a lente filmando um épico, a dimensão de sua obra se esvai em uma narrativa superficial.

    Ainda assim, O Tempo e o Vento está longe de ser um filme ruim; o universo recriado por Monjardim tem personalidade própria. O conceito de que tudo que Deus tira para dar novamente é muito bem explorado ao longo da trama, tempo cíclico a que Veríssimo idealizou em sua obra. O personagem de Rodrigo, muito bem interpretado por Lacerda, esbanja carisma e utiliza muito bem os olhares para demonstrar suas emoções, assim como Fernanda Montenegro, como de costume, se entrega ao papel da velha senhora Bibiana. Difícil não se emocionar com a cena inicial em que Lacerda, com suavidade, carrega Montenegro no colo levando-a até a janela.

    O Tempo e o Vento tem escolhas de roteiro que dificilmente passarão batidas, mas ainda assim é um belo material. A obra de Monjardim ganhou uma versão televisiva em formato de minissérie para a TV Globo, mas resta saber se os problemas narrativos do filme não sejam repetidos na versão para a televisão, não interferindo, assim, na qualidade da obra.

    “Uma geração vai, e outra geração vem; porém a terra para sempre permanece. E nasce o sol, e põe-se o sol, e volta ao seu lugar donde nasceu. O vento vai para o sul, e faz seu giro para o norte; continuamente vai girando o vento, e volta fazendo seus circuitos.”