Resenha | Tex Graphic Novel: Frontera! – Volume 2
Para leitores menos acostumados com as publicações de Tex, talvez seja um pouco difícil escolher por onde começar a apreciar as publicações da Sergio Bonelli Editore, uma vez que há dezenas de publicações diferentes. A cronologia da criação de Gianluigi Bonelli pode parecer confusa em algum momento, e uma boa porta de entrada são as versões de Tex Graphic Novel. Histórias curtas, em torno de 50 páginas, coloridas – ao contrário do restante da tradição de fumetti. Esta Tex Graphic Novel: Frontera – Volume 2 é bem o resumo da iniciativa: uma historia direta, que não carece de cronologia prévia, e bem fiel ao material original.
Em Tex Graphic Novel: O Herói e a Lenda, o criador de Drunna (personagem voluptuosa dos quadrinhos de ficção científica italianos) Paolo Serpieri usa seu traço característico e realista para dar mais camadas a Tex Willer. No entanto o personagem de moral ilibada e comportamento típico de um paladino é tratado como uma lenda nesta história especifica, portanto, essa edição com texto de Mauro Boselli (a época, escritor e editor dos títulos Tex) e com desenhos de Mario Alberti não leva tão em conta a número 1, como se ela fosse na realidade uma edição zero. No prefácio, Davide Bonelli cogita que aquele era um sósia do real cowboy de tão diferente que ele parece.
A vingança é um tema recorrente nos western e aqui não é diferente. A bela Blanche Denoel busca justiça e revanche. A trama por mais simples que pareça tem muito do que era o cinema clássico de mocinho e bandido pelos cenários do velho oeste. A composição visual, aliás, dá conta de paisagens belíssimas. As páginas mostram tanto os ambientes naturais quanto os lugares comuns, como cadeias e bordeis, que povoam as pequenas cidades do Oeste de um modo bem real, retratados de forma fidedigna em atenção ao que a cultura pop (sobretudo o cinema) costumavam retratar à época, dando uma atmosfera de realidade bem condizente com o que se imagina que era o período e a localidade.
Tex é tirado de uma prisão em uma simbologia clara de renascimento, atendendo ao intuito de desvincular as versões do Volume anterior. O uso das cores também impressiona, sobretudo quando imperam o amarelo e tons derivados. Como tradicionalmente as histórias do personagem são em preto e branco, muitos leitores acham que o uso de uma camisa cor de gema de ovo seria um alvo perfeito para a morte do herói. Mas aqui ela condiz muito com o cenário, com o deserto e até as diligências, desse modo, é como se esse uniforme tivesse o caráter de camuflagem, não literal obviamente, mas espiritual. As cidades ficam ainda mais bonitas e vistosas graças à luz do sol e ao tom de dourado que mira o das recompensas em moedas pela captura dos mal feitores.
A arte de Alberti é tão diferenciada que faz o leitor não sentir tanta saudade de Serpieri. Claro que o estilo dos dois é diferente (e muito), mas há um realismo quase cínico da parte do desenhista. Seu traço dá uma sobriedade a história que faz lembrar que essa é uma obra italiana. E que por mais que se emule o comum aos filmes de faroeste hollywoodiano, há muito mais de Sergio Leone, Sergio Corbucci e cia nas histórias de Willer, sobretudo nestas graphic novels. A história que Boselli apresenta está longe de ser primorosa, bem comum aliás, repleta de clichês das historias de bang-bang e dos clichês típicos das historias clássicas de Tex, mas se encaixa bem com os desenhos de Alberti, servindo não só ao intuito de introduzir novos leitores como de ser reverencial ao personagem longevo, acrescentando mais a sua mitologia, mesmo em uma história breve.