Resenha | Diabolik – Volume 1
O Brasil vem sendo privilegiado em seus lançamentos editoriais. Afinal, não é todo dia que temos um Diabolik primorosamente traduzido, e publicado em uma edição caprichada a fim de apresentar o clássico personagem italiano para uma nova geração do outro lado do atlântico. Sendo que aqui o que impera é Turma da Mônica e super-heróis, é sempre bom termos acesso a figuras que fogem dessa infantilidade colorida, tão generalizada na América (digo, o continente). A Editora 85 nos transporta em 4 histórias de suspense direto para a essência dos quadrinhos policiais de Diabolik. Puro noir, puro Bogart, e nisso, nos mostra um anti-herói misterioso e traidor, que vive dos seus roubos aos ricos e de proteger sua amada (e parceira) Eva Kant dos lobos em seu caminho.
E é claro que, às vezes, é ela quem o salva, já que nenhum plano é perfeito. Diabolik é ladrão astuto, espécie de Robin Hood italiano cujo faro para joias e ouro é afiado. Especialista em invadir mansões e arrombar cofres (de forma imperceptível), ele e Eva se gabam por nunca serem pegos pela polícia da cidade de Clerville, mesmo vivendo na cola do inspetor Ginko, o único oficial que chega perto do criminoso escondido num cativeiro – planejando seus próximos golpes. É nessa briga de gato e rato que mini romances policiais se desenrolam, numa clara homenagem de Ângela e Luciana Giussani ao gênero literário tão popularizado por Agatha Christie e cia. desde 2015 na Itália. Num quarteto de histórias reunidos neste volume 1, Diabolik mostra-se mais um Batman sem moral do que um Zorro moderno. Ou seja, um estrategista genial que mata só em último caso, mas que não evita assaltar bancos e viver com Eva do seu lucro.
Sombras de metalinguagem faz-se presente em Escrito no Sangue, quando a morte de uma escritora de livros policiais envolve o anti-herói numa narrativa de vingança e reviravoltas muito inspiradas, para fazer qualquer leitor não desgrudar dos seus mistérios. Assim também é em Obrigado a Matar, a história mais divertida deste volume 1 em que para resgatar Eva das garras de um poderoso criminoso europeu, Diabolik se vê obrigado a fazer três serviços no submundo dos mafiosos italianos em troca da vida da única pessoa que o “homem dos mil disfarces” se importa. Na dramático Por Poucas Horas, temos um homem e sua amante tramando um roubo de joias de sua mulher, uma grande escultora, sem saber que Diabolik e Eva também estão (muito) de olho nas pedras preciosas da artista. Finalmente, O Bracelete Perdido assume de vez o lado investigativo dessas histórias, num conto em que o casal do crime expõe, de forma definitiva, a mente criminosa que usam para um roubo mirabolante, e cheio de camadas. Onze Homens e Um Segredo, versão a dois.