Resenha | Squeak The Mouse
Massimo Mattioli é um quadrinista italiano famoso por suas histórias humorísticas que reúnem elementos típicos dos desenhos animados americanos, contudo, com uma perversão maior. Conhecido por ser um dos fundadores das revistas Cannibale, que depois se tornou a Frigidaire, que deu origem a Squeak The Mouse, uma revista pra lá de anárquica e contestadora.
Parte de uma geração de quadrinistas italianos que desafiavam convenções do gênero e da cultura de sua época, Mattioli faz referencias a filmes de terror clássicos, citados por meio de imagens ou nominalmente. Outro aspecto que chama a atenção é a sexualidade explícita, mostrando mulheres (reais) nuas, animais antropomorfizados em situações insalubres, ao lado de aparições de personagens de desenhos animados famosos, como Mickey, Pato Donald, Gato Felix, entre outros.
Outro fator interessante se dá com a morte dos personagens quando são atacados. A volta dos mortos varia entre a ressurreição comum dos personagens, como em Picapau ou Tom e Jerry, e outras em que a carne dos animais é reposta como em um filme da franquia Hellraiser ou Re-Animator.
A noção cronológica também foge do usual, como se o tempo fosse contado de um modo diferente, correndo dentro de sua própria lógica, emulando o curto período de vida dos animais de estimação. As mortes e esquartejamentos chocam tanto que não há como levar toda a trama a sério, pois a perversão moral coloca a revista num patamar de caráter contracultural que só encontra eco nos quadrinhos nas outras obras abordadas em suas revistas de origem, como Ranxerox de Tanino Liberatore ou na produção de Milo Manara e outros artistas, ao mesmo tempo, dentro da publicação não há qualquer necessidade em contextualizar o cenário de perversão ou de produzir uma crítica profunda sobre a sociedade. Existe crítica, mas ela recai sobre o consumo e o fetiche mercadológico que reside no entretenimento de massa, e em quanto a sociedade ocidental é fissurada em sexo e violência, e isso é mais que suficiente para dar estofo e inteligência à obra.
A cronologia das histórias também serve de comentário metalinguístico, aludindo a quanto o colecionismo e apego a cronologia não faz sentido no consumo de histórias. O ritmo do roteiro é frenético, todo mundo que morre volta, mesmo entre os personagens secundários, e voltam com muita volúpia por sangue de uma forma tão violentamente extrema que o escracho causa estranhamento, e incômodo em alguns pontos.
Squeak The Mouse foi publicado pela Editora Veneta e editado por Rogerio de Campos, o mesmo que responsável pela saudosa Revista Animal, que também publicou os quadrinhos de Mattioli entre 1987 e 1991. Campos tem por tradição trazer trabalhos que fogem da obviedade dos quadrinhos convencionais, desde seu início profissional, e no caso de Mattioli há uma fuga da lógica cultural burguesa, onde se debocha da vontade infinita dos norte-americanos em explorar um gênero ou estória até seus últimos frutos, sem pensar de maneira inteligente sobre as conseqüências dessas super-explorações.
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